Surto faz parte de aumento em escala global da dengue, diz diretor da OMS
Em evento no Brasil, Tedros Adhanom Ghebreyesus discursou sobre interesse em trabalhar com o desenvolvimento de vacinas contra a doença no país
Em visita ao Brasil, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou nesta quarta-feira, 7, que o surto de dengue que afeta o país é um dos desafios a serem enfrentados no âmbito da saúde pública e que “o surto atual faz parte de um grande aumento em escala global da dengue”. Segundo painel de monitoramento do Ministério da Saúde, apenas neste ano foram contabilizados 364.855 casos e quarenta mortes pela doença.
Segundo Adhanom, o levantamento da entidade apontou que, no ano passado, foram notificados 5 milhões de casos e 5.000 óbitos relacionados com a infecção em mais de oitenta países. “Exceto a Europa, todas as regiões estão afetadas”, afirmou. “O surto evidencia a necessidade de incentivar os sistemas de saúde. Não podemos tratar uma doença por vez, precisamos de uma resposta holística que coloque as pessoas no centro dos sistemas e serviços de saúde, não as doenças”, completou. O quadro, de acordo com ele, está sendo agravado pelo fenômeno El Niño, relacionado com a elevação das temperaturas.
No discurso, realizado no evento de lançamento do programa de erradicação de doenças socialmente determinadas Brasil Saudável, o diretor-geral da OMS destacou a capacidade do país de lidar com o alastramento de doenças e o trabalho de instituições nacionais, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
“O Brasil tem histórico de orgulho ao responder a surtos de doenças contagiosas como zika, dengue e influenza. São conquistas alcançadas com um sistema de saúde, desde a atenção primária, e com um dos sistemas de vigilância mais robustos do mundo na Fiocruz.”
Adhanom elogiou a incorporação da vacina Qdenga, da farmacêutica Takeda, ao Sistema Único de Saúde (SUS) e falou sobre o interesse da entidade em trabalhar com instituições brasileiras no desenvolvimento de futuros imunizantes.
“Estamos trabalhando com o Brasil em matéria de vacinas e essa pauta será importante pela enorme capacidade do Brasil. E estamos trabalhando com o Butantan para ver uma nova via de produção.” O diretor-geral da OMS está no Brasil desde a última segunda-feira, 5, quando teve reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a ministra da Saúde, Nísia Trindade.
Brasil Saudável
O presidente Lula assinou decreto que cria o programa Brasil Saudável, política para eliminar ou reduzir catorze doenças e infecções que impactam a vida de pessoas em situação de maior vulnerabilidade social. De acordo com o Ministério da Saúde, elas foram responsáveis por 59.000 óbitos no país de 2017 a 2021. Entre elas estão malária, doença de Chagas, tuberculose, sífilis, HIV e hepatites virais.
A iniciativa foi elogiada por Adhanom. “A eliminação de doenças é o maior presente que um governo pode dar ao seu povo. Nem todas podem ser eliminadas, mas essas escolhidas, sim, porque dizem respeito aos fatores de gênero, discriminação e são doenças emblemáticas da pobreza. É um plano para um país mais saudável e mais justo.”
Crescimento da dengue
Desde 2022, a dengue voltou a crescer no país e, no ano passado, foram registrados 1.658.816 casos e 1.904 mortes. Com a intensificação das notificações já em janeiro deste ano, planos de contingência, tendas e até um hospital de campanha fazem parte das medidas adotadas nas regiões mais afetadas, como a cidade do Rio de Janeiro, que declarou emergência nesta segunda-feira, 5, e o Distrito Federal.
A doença tem colocado o mundo em alerta por estar se alastrando em novas e antigas regiões com ajuda das mudanças climáticas, que criam condições propícias para a reprodução e proliferação dos mosquitos. Desde o ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o tom ao se debruçar sobre dados e constatar que, em 2022, as taxas de infecção aumentaram oito vezes em relação ao ano 2000.
Vacinação contra a dengue
Em outubro, a OMS recomendou a vacinação contra a doença com foco principalmente em crianças e adolescentes de 6 a 16 anos em países endêmicos, caso do Brasil. Por aqui, o imunizante Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, foi liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) meses antes, em março.
O Ministério da Saúde anunciou que vai seguir a recomendação da entidade e ofertar o imunizante para essa faixa etária. Com a medida, o Brasil se tornou o primeiro país a incluir a vacina no sistema público de saúde. A previsão é de que a vacinação tenha início neste mês em 521 municípios com a faixa de 10 a 14 anos, a mais afetada pela doença.
No mês passado, o país recebeu cerca de 750.000 doses, parte da primeira remessa com 1,32 milhão de doses adquiridas pelo governo brasileiro. Também está prevista a entrega de 568.000 doses ainda neste mês. Neste ano, está prevista a chegada escalonada de mais 5,2 milhões de doses. Para 2025, foram adquiridas 9 milhões de doses.