O Ministério da Saúde prevê que o número de casos de dengue, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, pode chegar a 4,2 milhões em 2024. A estimativa foi divulgada nesta sexta-feira, 9, durante o início da campanha de vacinação de jovens contra a infecção no Distrito Federal. O cronograma vai se iniciar com a população de 10 e 11 anos e se estende até a faixa etária dos 14 anos na primeira etapa.
“A estimativa do Ministério da Saúde é de que a gente chegue a 4,2 milhões de casos. Nunca chegamos a esse número, por isso a preocupação com a pressão que pode acontecer nos centros de saúde”, disse Ethel Maciel, secretária da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente.
Segundo Ethel, há uma série de fatores que têm causado o surto em curso no país, como a antecipação da época de aumento de casos, prevista para o final de março, mas que acabou ocorrendo em janeiro, e o aumento das temperaturas — algo relacionado às mudanças climáticas e ao fenômeno El Niño –.
‘Temos a circulação dos quatro sorotipos com a volta de um sorotipo que não circulava há 15 anos e muitas pessoas, principalmente crianças e adolescentes, não tiveram contato com eles. E o comportamento diferente do mosquito, que picava mais no final da tarde ou no começo da manhã e, agora, está picando durante todo o dia.”
Nesta sexta-feira foi iniciada a campanha de vacinação e, de acordo com a secretária, a população de 10 e 11 anos deve receber a primeira dose da vacina Qdenga, da farmacêutica Takeda, até março. O grupo é estimado em 1,2 milhão de pessoas.
Cronograma de vacinação
Nesta quinta-feira, 8, o Distrito Federal e o estado de Goiás receberam as primeiras doses da vacina contra a dengue. Segundo o ministério, o lote inicial, que conta com 712 mil doses, será encaminhado ainda para Bahia, Acre, Paraíba, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul, Amazonas, São Paulo e Maranhão, onde serão distribuídas em 315 municípios. Isso corresponde a 60% dos 521 municípios selecionados para a realização da campanha.
Com o envio de novas doses, o cronograma vai contemplar as demais faixas etárias até os 14 anos, grupo prioritário escolhido por ser o mais afetado por episódios que levam à internação.
Estados e municípios brasileiros estão enfrentando um surto de dengue desde o começo do ano e, até o momento, Acre, Distrito Federal, Minas Gerais, Goiás e a cidade do Rio de Janeiro decretaram situação de emergência. Segundo painel de monitoramento do Ministério da Saúde, apenas neste ano foram contabilizados 395.103 casos e 53 mortes pela doença no Brasil.
Vacina contra a dengue
Em outubro, a OMS recomendou a vacinação contra a doença com foco principalmente em crianças e adolescentes de 6 a 16 anos em países endêmicos, caso do Brasil. Por aqui, o imunizante Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, foi liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) meses antes, em março.
O Ministério da Saúde anunciou que vai seguir a recomendação da entidade e ofertar o imunizante para essa faixa etária. Com a medida, o Brasil se tornou o primeiro país a incluir a vacina no sistema público de saúde. A previsão é de que a vacinação tenha início neste mês em 521 municípios na faixa de 10 a 14 anos, a mais afetada pela doença.
No mês passado, o país recebeu cerca de 750.000 doses, parte da primeira remessa com 1,32 milhão de doses adquiridas pelo governo brasileiro. Também está prevista a entrega de 568.000 doses ainda neste mês. Neste ano, está prevista a chegada escalonada de mais 5,2 milhões de doses. Para 2025, foram adquiridas 9 milhões de doses.
Crescimento da dengue
Desde 2022, a dengue voltou a crescer no país e, no ano passado, foram registrados 1.658.816 casos e 1.094 mortes. Com a intensificação das notificações já em janeiro deste ano, planos de contingência, tendas e até um hospital de campanha fazem parte das medidas adotadas nas regiões mais afetadas, como a cidade do Rio de Janeiro, que declarou emergência na segunda-feira 5, e o Distrito Federal.
A doença tem colocado o mundo em alerta por estar se alastrando em novas e antigas regiões com a ajuda das mudanças climáticas, que criam condições propícias para a reprodução e proliferação dos mosquitos. Desde o ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o tom ao se debruçar sobre dados e constatar que, em 2022, as taxas de infecção aumentaram oito vezes em relação ao ano 2000.