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Saiba o que acontece com o coração após a Covid-19

Dados atestam que risco de problemas cardiovasculares como ataque cardíaco ou derrame permanece alto meses após a infecção pelo Sars-Cov-2

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 4 ago 2022, 19h52

Mesmo passado meses após o desaparecimento da Covid-19, o risco de problemas cardiovasculares como ataque cardíaco ou derrame permanece alto. É o que sugerem alguns estudos, e que agora estão sendo complementados por novos  dados sobre a frequência desses danos e o que os causam.

Em 2022, por exemplo, um levantamento feito com registros do Departamento de Assuntos de Veteranos (VA) dos Estados Unidos foi usado para estimar a frequência com que a Covid-19 leva a problemas de coração. Nele, os pesquisadores descobriram que as pessoas que tiveram a doença enfrentaram riscos substancialmente aumentados para 20 condições cardiovasculares – incluindo problemas potencialmente catastróficos como ataques cardíacos e derrames – um ano após a infecção pelo SARS-CoV-2. E que essas complicações podem acontecer mesmo em pessoas que parecem ter se recuperado completamente de uma infecção leve.

Assim, com milhões ou talvez bilhões de pessoas infectadas, os médicos se perguntam: será que a pandemia será seguida por um tremor cardiovascular? “Não entendemos se isso muda a trajetória do risco de ataque cardíaco ou outros eventos ao longo da vida. Simplesmente não sabemos disso”, disse Stuart Katz, cardiologista da Universidade de Nova York. Segundo o especialista, a questão agora é tentar entender quem está em maior risco desses problemas relacionados ao coração, por quanto tempo persiste e o que causa esses sintomas. “É um buraco em uma área importante da saúde pública”, afirma Katz.

Sobre as pessoas em risco, médicos relataram muitos problemas cardiovasculares relacionadas à Covid-19 durante a pandemia, mas as preocupações aumentaram depois que os resultados do estudo VA foram divulgados no início deste ano. A análise de Ziyad Al-Aly, epidemiologista da Universidade de Washington, em St. Louis, Missouri, é um dos esforços mais amplos para caracterizar o que acontece com o coração e o sistema circulatório após a fase aguda da doença. Nesse estudo, os pesquisadores compararam mais de 150.000 veteranos que se recuperaram da Covid-19 aguda com seus pares não infectados, bem como com um grupo de controle pré-pandemia.

As pessoas internadas em terapia intensiva com infecções agudas tiveram um risco drasticamente maior de problemas cardiovasculares durante o ano subsequente. Para algumas condições, como inchaço do coração e coágulos sanguíneos nos pulmões, o risco aumentou pelo menos 20 vezes em comparação aos não infectados. Mas mesmo as pessoas não hospitalizadas apresentaram riscos aumentados de muitas condições, variando de um aumento de 8% na taxa de ataques cardíacos 247% para a inflamação cardíaca.

Para Al-Aly, o estudo acrescentou ao crescente corpo de evidências de que um surto de Covid-19 pode alterar permanentemente a saúde de algumas pessoas. Esses tipos de alterações se enquadram na categoria de sequelas pós-aguda da doença, que abrange problemas que surgem após uma infecção inicial. Esse distúrbio inclui – e se sobrepõe – à condição persistente conhecida como Covid longa, que associa o coronavírus a uma ampla gama de problemas duradouros, como diabetes 2, danos pulmonares e até problemas cerebrais. Tal como acontece com essas condições, Al-Aly diz que os problemas cardiovasculares que ocorrem após uma infecção por SARS-CoV-2 podem diminuir a qualidade de vida de uma pessoa a longo prazo. Existem tratamentos para esses problemas, “mas não são condições curáveis”, alerta.

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Dados do sistema de saúde da Inglaterra, por exemplo, também mostram que pessoas que foram hospitalizadas com Covid-19 tinham cerca de três vezes mais chances do que não infectadas de enfrentar grandes problemas cardiovasculares dentro de oito meses após a internação. “É preocupante”, diz Sarah Wulf Hanson, do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington, que usou os dados da Al-Aly para estimar quantos ataques cardíacos e derrames foram associados à Covid-19 no período pandêmico. Seu trabalho inédito sugere que, em 2020, complicações após a doença causaram 12.000 derrames extras e 44.000 ataques cardíacos extras nos Estados Unidos, números que saltaram para 18.000 derrames e 66.000 ataques cardíacos em 2021. Isso significa que a Covid-19 poderia ter aumentado as taxas de ataque cardíaco em cerca de 8% e de acidente vascular cerebral em cerca de 2%.

Os efeitos indiretos da pandemia como faltas a consultas médicas, estresse e a natureza sedentária do isolamento em casa também contribuíram para a carga cardiovascular de muitas pessoas, sugerem os cientistas. Em um pequeno estudo com 52 pessoas, Gerry McCann, especialista em imagens cardíacas da Universidade de Leicester, Reino Unido, descobriu que as pessoas que se recuperaram após serem hospitalizadas com Covid-19 não apresentavam maior taxa de doença cardíaca do que um grupo de pessoas que tinham condições subjacentes semelhantes, mas permaneceram não infectadas.

Apesar de ter um quadro incompleto dos efeitos cardiovasculares da Covid-19, os médicos recomendam cautela. Um painel de especialistas convocado pelo American College of Cardiology os aconselha a testar pessoas que tiveram a doença para problemas cardiovasculares se tiverem fatores de risco como idade avançada ou imunossupressão.

Segundo especialistas, o efeito da Covid-19 no coração pode estar relacionado à proteína chave que o vírus usa para entrar nas células. Ele se liga à chamada ACE2, que pode ser encontrada na superfície de dezenas de tipos de células humanas. Isso, diz Al-Aly, dá “acesso e permissão para entrar em quase toda célula do corpo”. Ou seja, provavelmente os problemas cardiovasculares começam quando o vírus entra nas células que revestem os vasos sanguíneos, formando coágulos de sague e os obstruindo, causando danos tão pequenos quanto dores nas pernas ou tão graves quanto um ataque cardíaco.

Em um estudo com mais de 500.000 casos de Covid-19, descobriu-se que as pessoas que foram infectadas tiveram um risco 167% maior de desenvolver um coágulo de sangue duas semanas após a infecção do que as pessoas que tiveram gripe. Robert Harrington, cardiologista da Universidade de Stanford, na Califórnia, diz que, mesmo após a infecção inicial, as placas podem se acumular onde a resposta imune danificou o revestimento dos vasos sanguíneos, fazendo com que se estreitem. Isso pode levar a problemas, como ataques cardíacos e derrames, mesmo meses após a cicatrização da ferida inicial. “Essas complicações iniciais podem definitivamente se traduzir em complicações posteriores”, diz Harrington.

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O SARS-CoV-2 também pode deixar suas impressões digitais no sistema imunológico. Quando Akiko Iwasaki, imunologista da Universidade de Yale, e seus colegas caracterizaram anticorpos de pessoas hospitalizadas durante a fase aguda da Covid-19, encontraram uma infinidade de anticorpos contra o tecido humano. Iwasaki suspeita que, quando o SARS-CoV-2 aumenta o sistema imunológico de alguém, pode ativar inadvertidamente células imunológicas que atacam o corpo e podem danificar muitos órgãos, incluindo o coração.

Sobre as vacinações, reinfecções e a variante ômicron, os pesquisadores colocam novas questões sobre os efeitos cardiovasculares do vírus. Um artigo publicado em maio por Al-Aly e seus colegas sugere que a vacinação, por exemplo, reduz, mas não elimina, o risco de desenvolver esses problemas a longo prazo.

Abaixo, os números da vacinação no Brasil:

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