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Projeto brasileiro potencializa e diminui custo de remédio para verme

Nova forma de apresentação usa nanotecnologia e facilita o uso por crianças e animais de estimação

Por André Julião | Agência FAPESP
6 Maio 2025, 09h00

Um grupo de pesquisadores apoiado pela Fapesp criou uma nova formulação para o único medicamento disponível no mercado para tratamento contra helmintos, como são conhecidos vermes como o esquistossomo e a tênia. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 400 milhões de pessoas sofrem dessas verminoses em todo o mundo.

O praziquantel é comercializado em comprimidos grandes e difíceis de engolir, sobretudo por crianças e animais de estimação, como gatos e cachorros, que também são colonizados por helmintos e demandam tratamento preventivo. O medicamento tem ainda gosto amargo, o que também dificulta sua administração.

A nova formulação, baseada em nanotecnologia, é solúvel em água, sendo absorvida de forma mais eficiente e demandando metade da dose normalmente usada para obter o mesmo efeito do comprimido. A inovação tem um pedido de patente registrado.

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Os resultados foram publicados na revista ACS Applied Nano Materials, da Associação Americana de Química. “Doenças tropicais negligenciadas, como as verminoses, carecem de inovações em tratamento, principalmente pela falta de interesse da indústria em investir em drogas para populações pobres, que são as mais afetadas por essas mazelas”, afirma Josué de Moraes, que lidera o Núcleo de Pesquisa em Doenças Negligenciadas (NPDN) da Universidade Guarulhos (UnG).

“Ainda que o praziquantel tenha sido criado há mais de 40 anos, ele tem uma eficiência de 75% a 95%. Como criar uma nova droga demanda muito tempo e investimento, pensamos nessa inovação incremental de baixo custo, que melhora a absorção pelo organismo e a aceitação por crianças e animais domésticos”, completa o pesquisador.

O estudo integra o projeto “Seleção de fármacos com atividade anti-helmíntica, nanoencapsulação e avaliação pré-clínica em modelo experimental de esquistossomose”, apoiado pela Fapesp.

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O artigo tem como primeira autora Ana Carolina Araujo Mengarda de doutorado no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).

Depois de elaborar o produto em colaboração com pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), os pesquisadores da UnG realizaram uma série de ensaios, tanto nos parasitas diretamente como em modelos animais e em células de mamíferos.

Os testes mostraram uma baixa toxicidade da formulação em células que não as dos parasitas. Ainda nessas análises preliminares, a nova apresentação mostrou mais eficácia na eliminação dos esquistossomos do que o princípio ativo sozinho. “Além disso, ela permaneceu mais tempo no plasma sanguíneo. Essa é a provável explicação para a formulação precisar de metade da dose para fazer o mesmo efeito”, conta Mengarda, atualmente realizando pós-doutorado no ICB-USP com bolsa da FAPESP.

Inovação sob medida

O arsenal limitado de medicamentos e formulações contra as doenças tropicais negligenciadas motivou a OMS a publicar, em 2021, um roteiro para acelerar o controle e eliminar esses males até 2030 (leia mais em: agencia.fapesp.br/35136).

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Uma necessidade listada no documento era a de uma formulação pediátrica para o praziquantel. Atualmente, um comprimido pediátrico orodispersível (que se dissolve na boca) está em fase de estudos clínicos, fruto de pesquisas de um consórcio internacional que inclui farmacêuticas, governos, organizações não governamentais, universidades e o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), da Fiocruz.

Uma das principais inovações do consórcio foi separar a parte da formulação original do praziquantel que torna o medicamento amargo. O que, segundo os pesquisadores do estudo publicado agora, demanda processos químicos que aumentam o custo do produto final.

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A formulação brasileira tem baixo custo, disfarça o sabor amargo e demanda uma dose muito pequena. Esta ainda pode ser misturada a excipientes (substâncias inativas que complementam a formulação) que dão sabor mais palatável.

Outra particularidade da nova formulação é que ela tem duas fases, sendo uma delas oleosa, à base de óleo de rícino, que proporciona a absorção pelas membranas das células humanas. A outra fase se dá quando a formulação chega ao estômago e termina de ser emulsionada. “Isso é fundamental para a absorção mais eficiente pelo organismo, que permite usar apenas metade da dose usual”, reforça Mengarda.

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Além da estabilidade, que permite o armazenamento por mais de um ano em temperatura ambiente, outra vantagem da formulação é que ela pode ser combinada a outros princípios ativos para outras verminoses em um único medicamento.

A estratégia é bastante utilizada na indústria farmacêutica veterinária. A pedido de empresas desse ramo, os pesquisadores agora testam combinações voltadas ao mercado veterinário. “A regulação de medicamentos veterinários, realizada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária [Mapa], é menos onerosa e burocrática do que para saúde humana, feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa], o que está dando uma boa perspectiva para nossa formulação”, conta Moraes.

Ao mesmo tempo, o controle de doenças em animais é desejável num contexto de saúde única, uma vez que alguns parasitas de gatos e cachorros podem infectar humanos.

Por isso, ainda que dependa de estudos clínicos para um dia se tornar um medicamento humano, a inovação pode indiretamente beneficiar o controle das verminoses ao melhorar o cuidado dispensado aos animais domésticos.

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Os pesquisadores estão abertos a parcerias com instituições públicas ou privadas interessadas em realizar os testes clínicos e disponibilizar um novo produto no mercado. O estudo mostrou ainda a viabilidade da produção semi-industrial, o que facilita a produção em larga escala no futuro.

O trabalho também teve apoio da Fapesp por meio de Bolsa de Iniciação Científica concedida a Vinícius de Castro Rodrigues, coautor do estudo.

O artigo Praziquantel Nanoparticle Formulation for the Treatment of Schistosomiasis pode ser lido em: https://pubs.acs.org/doi/10.1021/acsanm.4c06757.

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