Por meio de uma conta simples de dividir seu peso pela altura ao quadrado, é possível obter o Índice de Massa Corporal (IMC), uma das ferramentas mais usadas para determinar a gordura corporal de um indivíduo, descrita pela primeira vez por um matemático belga no século 19.
Dependendo do resultado obtido, o profissional de saúde pode classificar o paciente com sobrepeso ou obesidade, por exemplo. No entanto, cada vez mais grupos e entidades médicas alertam para sua limitação e sugerem que, por si só, não é um indicador preciso da saúde de uma pessoa.
Os mais novos resultados são de uma dupla de cientistas do Rutgers Institute for Health, que concluíram que pessoas com sobrepeso, mas não consideradas obesas de acordo com o IMC, não apresentam alto risco de morte, como era pensado.
O estudo, publicado nesta quarta-feira, 5, na revista PLOS One, avaliou a relação entre o indicador e o risco de morte por qualquer causa, com base em dados de mais de 550.000 adultos americanos em uma média de nove anos.
No mês passado, a Associação Médica Americana adotou uma política aconselhando os médicos a usar medidas adicionais – incluindo circunferência da cintura, distribuição de gordura no corpo e fatores genéticos – para avaliar a saúde de um paciente.
A decisão foi tomada após a associação entender que o indicador era “problemático” e excluía padrões raciais, étnicos, de idade e gênero ao não levar em consideração as diferenças de cada grupo para medir os níveis de gordura corporal.
As novas descobertas apoiam essas diretrizes, de acordo com Aayush Visaria, coautor da investigação divulgada nesta semana. “Nossos resultados estão basicamente confirmando muitos outros estudos que foram feitos nos últimos anos – não em um nível tão grande, mas basicamente confirmando que o IMC por si só é realmente um indicador ruim de risco à saúde”, disse.
Pesquisas anteriores revelaram problemas com o uso do IMC para avaliar se um indivíduo é obeso ou corre o risco de doenças relacionadas ao peso. Em um estudo de 2016, quase metade dos participantes considerados com sobrepeso e 29% dos considerados obesos foram classificados como metabolicamente saudáveis, enquanto mais de 30% das pessoas com pesos considerados “normais” eram metabolicamente insalubres.
Nesse contexto, a circunferência da cintura pode ser um indicador mais forte: em outro estudo, o pesquisador comparou pessoas com IMCs iguais, mas circunferências da cintura diferentes, e descobriu que esta última estava associada a um risco maior de morte em geral.
Os resultados do estudo, no entanto, mostraram que os participantes com um IMC de 30 ou mais – ou seja, obesos – enfrentam um maior risco de mortalidade. Entre os adultos mais jovens, um IMC de 27,5 a 29,9 também foi associado a um risco quase 20% maior.
“Mais simples”
“O IMC é o método mais simples. Ainda o usamos para fazer diagnósticos, principalmente de recortes populacionais, como fez o estudo desta semana. Mas todo mundo sabe que na prática clínica há muitos casos de IMCs baixos mas com mais riscos do que IMCs altos”, diz Bruno Halpern, presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Isso acontece pela teoria da expansibilidade, segundo Halpern, em que cada um tem seu próprio linear de gordura. Quando comemos, a gordura não utilizada para queima de energia é armazenada no tecido subcutâneo. Porém, há um limite. Ao atingi-lo, essa gordura é armazenada em lugares que não deveriam, como o abdômen e entre órgãos. Isso independe do peso da pessoa, e é por isso que o IMC vem sendo considerado falho.
No ano passado, a SBEM e a ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) lançaram um documento que tem como proposta uma nova forma para classificar a obesidade, baseada no peso máximo atingido em vida (MWAL).
Nesta classificação, os indivíduos que perdem uma proporção específica de peso são classificados como obesidade “reduzida” ou “controlada”. O objetivo do artigo, entretanto, não é a substituição das classificações já utilizadas, de acordo com as duas sociedades científicas, mas sim mais uma ferramenta que possa avaliar outras variáveis de quem está acima do peso. O método também poderia ajudar a difundir o conceito de benefícios clínicos derivados de uma modesta perda de peso.