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Por que ainda é preciso cautela ao misturar vacinas

Apesar de resultados promissores sobre a estratégia, especialistas pedem cautela em sua adoção, especialmente em grupos específicos, como gestantes

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 30 jun 2021, 12h50

Uma pesquisa divulgada na segunda-feira, 28, mostrou que misturar as vacinas contra a Covid-19 de Oxford-AstraZeneca e da Pfizer-BioNTech, independente da ordem de aplicação, gera uma resposta imune robusta contra a doença. “Isso significa que todos os esquemas de vacinação possíveis envolvendo essas vacinas podem ser usados ​​contra Covid-19” disse um comunicado da Universidade de Oxford, no Reino Unido, que conduziu o estudo.

Na terça-feira, 29, a Secretaria Municipal de Saúde, autorizou as grávidas que receberam a primeira dose de Oxford-AstraZeneca, na época em que o uso do imunizante estava liberado neste público, a tomarem a segunda dose da vacina da Pfizer. A decisão foi baseada em uma recomendação do comitê científico da pasta e a vacinação pode ocorrer, desde que haja avaliação dos riscos e benefícios, feita pelo médico que atende a gestante.

Segundo Daniel Soranz, secretário de Saúde do Rio de Janeiro, países como Alemanha, Canadá, Dinamarca, França, Finlândia, Portugal, Suécia, Inglaterra e Itália recomendam ou autorizam o uso da Pfizer como segunda dose para quem se imunizou com a AstraZeneca na primeira dose.

Por outro lado, especialistas pedem cautela na recomendação dessa estratégia, em especial para grupos de risco, como gestantes. “Esse estudo gera dados de segurança e nível de proteção e traz conforto para os governos, autoridades de saúde e para a população fazer essas trocas de forma segura e tendo certeza de que vai haver proteção. Porque essa é a função principal das vacinas. Porém, esse estudo não foi feito em grávidas, o que significa que não temos dados sobre reatogenicidade, segurança e imunogenicidade dessas vacinas nesse público”, diz a pesquisadora Sue Ann Costa Clemens, pesquisadora da Universidade de Oxford à frente dos estudos com a vacina no Brasil e única brasileira no grupo de especialistas que fez recomendações em estratégias de saúde pública para os ministros da saúde do G7.

Segundo a especialista, a principal preocupação é sobre a reatogenicidade – capacidade de a vacina gerar reação adversa – da estratégia. Um estudo anterior, publicado na revista científica Lancet, mostrou que a mistura dessas plataformas – vetor viral (Oxford-AstraZeneca) e RNA mensageiro (Pfizer -BioNTech) é mais reatogênica, ou seja, gera mais reações adversas, do que a aplicação de duas doses homólogas, isto é, da mesma plataforma. “Na análise de segurança, houve realmente um aumento de reatogenicidade sistêmica relatada por todos os participantes desse esquema de vacinas heterólogo, quando comparado ao esquema de vacina homólogo, tanto de vetor viral quanto de RNA mensageiro. Isso foi acompanhado de um aumento de uso de paracetamol e outros analgésicos. Outro fato importante é que esses dados foram obtidos em participantes com mais de 50 anos e, por outros estudos, sabemos que a reatogenicidade de ambas as plataformas é maior em pessoas mais jovens, que é o caso de grávidas”, explica Sue.

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Além disso, outro estudo, divulgado na mesma data e também realizado pela Universidade de Oxford, mostrou que a imunidade induzida após apenas uma dose da vacina de Oxford-AstraZeneca permanece alta por pelo menos dez meses. Nos testes clínicos, a eficácia do imunizante após uma dose foi de 76%. “Com dados de que com uma dose da vacina de Oxford ela está protegida por pelo menos dez meses, eu não vejo necessidade de expor a grávida a uma reatogenicidade maior, sem necessidade, já que ela vai estar protegida nesse período”, afirma a especialista.

Essa pesquisa também mostrou que a aplicação da segunda dose após 45 semanas da primeira gerou uma resposta imune ainda mais robusta do que quando a segunda injeção é administrada em um intervalo mais curto, de 12 semanas. Para Sue, isso é um indicativo que essas mulheres podem esperar o fim da gestação e do puerpério, que são períodos de mais risco e para os quais há contraindicação de uso da vacina de Oxford-AstraZeneca, para tomar outra dose. “Com o passar dos meses, depois da gestação e puerpério, ela pode tomar uma segunda dose e os títulos [de anticorpos] vão ser até maiores do que os de quem tomou [a segunda dose] em um intervalo de três meses.”, recomenda Sue. Vale lembrar que essa também é a recomendação atual do Ministério da Saúde.

Reforço heterólogo

A estratégia de aplicar imunizantes de diferentes plataformas, chamada de reforço heterólogo, está em avaliação em diferentes estudos para entender até que ponto as vacinas disponíveis atualmente podem ser intercambiadas, permitindo maior flexibilidade nas campanhas de imunização ao redor do mundo.

Além disso, acredita-se que ao se misturar plataformas que ativam o sistema imunológico de forma diferente, contra um mesmo inimigo, a proteção aumenta. Neste caso, o importante é a plataforma e não a vacina em si. No estudo de Oxford, foi  avaliada a combinação de uma vacina de vetor viral com uma de RNA mensageiro. Para isso, foram usados os imunizantes de Oxford-AstraZeneca (vetor viral) e Pfizer-BionTech (RNA mensageiro), mas o resultado pode ser extrapolado para outras vacinas que utilizam essas plataformas, como Janssen (vetor viral) e Moderna (RNA mensageiro).

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Inclusive, outras pesquisas, com combinações de vacinas e plataformas diferentes, estão em andamento. Mas até haver resultados, é preciso cautela.

Vacinação em grávidas

A vacinação de gestantes contra a Covid-19 é um tema polêmico desde a aprovação das primeiras vacinas, já que os estudos iniciais não foram realizados neste grupo, devido aos riscos não só à mãe, mas também ao feto. O problema é que essa exclusão fez com que as grávidas, que correm maior risco de complicações pela doença, não fossem incluídas como prioridade no início das campanhas de imunização.

Com o passar dos meses e o surgimento de novas evidências, isso mudou e aos poucos, elas começaram a ser vacinadas. Mesmo assim, o tema não é simples. Por exemplo, inicialmente, o imunizante de Oxford-AstraZeneca foi liberado para uso em gestantes, mas após a morte de uma gestante do Rio de Janeiro, em maio, depois de tomar a vacina, o uso foi suspenso neste público.

Um levantamento do Ministério mostrou que foram reportados 24 eventos adversos graves em gestantes ou lactantes após a vacinação, sendo 19 em pessoas que receberam imunizantes da Oxford-AstraZeneca e cinco da vacina da Pfizer-BioNTech. Mas ainda não está claro se essas complicações estão ou não associadas aos imunizantes. A recomendação de vacinação em gestantes é ancorada em uma avaliação de que os benefícios de evitar mortes pela Covid-19 nessas mulheres superam os riscos de possíveis eventos adversos graves causados pela vacina.

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“A gente tem sempre que se basear em evidências porque queremos que as pessoas estejam protegidas. Esse é nosso maior objetivo. Por isso estamos nessa luta, de trabalhar dia e noite para trazer vacinas seguras e que gerem títulos altos [de anticorpos], porque agora sabemos que quanto mais altos os títulos, mais a gente protege contra as variantes.”, ressalta Sue.

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