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Por que a Anvisa colocou ponto-final na venda dos ‘chips da beleza’

Decisão ocorreu após a luta de especialistas diante dos riscos do procedimento

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 26 out 2024, 08h00
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  • Os modismos alardeados pelas redes sociais trazem, de tempos em tempos, artifícios que podem causar danos irreparáveis ao organismo. Mas uma das invenções mais populares e perniciosas dos últimos anos, idealizada como atalho para um corpo sarado e de aparência jovial, acaba de ser detida pelas autoridades regulatórias brasileiras. Após intensa mobilização de sociedades médicas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a manipulação, a comercialização e o uso dos chips da beleza, implantes manipulados que prometem emagrecimento, definição muscular e até melhora do humor sem sacrifícios, mas não passam de uma bomba de hormônios capaz de aumentar o risco de ataque cardíaco, derrame, complicações renais, entre outros sérios efeitos colaterais.

    Os dispositivos, discretos e instalados logo abaixo da pele, apareceram como solução perfeita para atender aos anseios amplificados pelas imagens de abdômen trincado, pernas torneadas e braços sequinhos compartilhadas na internet. No entanto, escondem perigos. Em sua decisão, a Anvisa aponta que não há comprovação de segurança e eficácia dos implantes para fins estéticos e de desempenho. Investigações em farmácias de manipulação que trabalhavam com essas substâncias começaram a ser realizadas em 2021 e uma inspeção em dezoito estabelecimentos em 2022 constatou diversos aspectos insatisfatórios na produção dos chips.

    arte chip da beleza

    A moda, infelizmente, pegou. Ao menos desde 2019, especialistas advertem para os males de aplicar hormônios em doses não testadas nem aprovadas para esses propósitos. A base dos tratamentos é a mesma de boa parte dos esteroides anabolizantes, vetados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Entre os hormônios utilizados, destaca-se a testosterona, que abunda no corpo masculino e está associada ao ganho de músculos — não surpreende que as mulheres submetidas ao protocolo apresentem, como reações adversas, nascimento de pelos em locais indesejados, aumento do clitóris e alterações no tom de voz. Há ainda a gestrinona, hormônio considerado obsoleto para o tratamento da endometriose, mas que também caiu nas graças dos entusiastas.

    Assim, com produtos elaborados à margem dos preceitos científicos, muitas pacientes saem das clínicas com um sonho de beleza e acabam nos consultórios médicos na tentativa de reverter os danos à saúde. “O que a gente vê na rotina é um aumento na incidência de problemas cardiovasculares, na pele e no fígado de pacientes com esses implantes”, diz o endocrinologista Clayton Macedo, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Ele é um dos coordenadores do Vigicom-­Hormônios, plataforma lançada no mês passado que já catalogou mais de 250 relatos comprovados de efeitos colaterais em diferentes graus relacionados aos chips. Macedo acompanha, inclusive, um caso recente de uma paciente internada na UTI com edema cerebral causado por uma novidade nesse mercado: o chip de ocitocina, alardeado como opção para melhorar o humor. Também conhecido como “hormônio do amor”, ele é usado, com a devida recomendação, para indução do parto ou suporte ao aleitamento materno. “Mas não há estudos para essas outras finalidades. Em 24 horas, essa paciente entrou em coma e foi para ventilação mecânica”, afirma o endocrinologista.

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    PROMESSA - Sob a pele: dispositivos são ofertados como opção para emagrecer e até parecer mais jovem
    PROMESSA - Sob a pele: dispositivos são ofertados como opção para emagrecer e até parecer mais jovem (./Divulgação)

    A reposição de hormônios é um recurso de longa data na medicina e se presta a corrigir déficits com impacto na qualidade de vida de homens e mulheres — algo apontado por exames e acompanhado por especialistas. Pacientes com testosterona baixa podem fazer esse tipo de tratamento, assim como existem dispositivos hormonais validados para fins contraceptivos, por exemplo. “O que for devidamente estudado e regulamentado deve continuar disponível”, diz a ginecologista Maria Celeste Wender, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. “Agora esperamos uma maior fiscalização e conscientização sobre os riscos desses implantes para que as coisas se modifiquem.” Definitivamente, a fórmula para um corpo bonito e saudável não cabe em um chip.

    Publicado em VEJA de 25 de outubro de 2024, edição nº 2916

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