Pilates retoma o fôlego com aulas virtuais impostas pela pandemia
Depois de passar por um período de baixa, o método que chegou a ser febre nos anos 2000 volta à rotina dos brasileiros
Molas de colchões foram a base dos primeiros equipamentos desenvolvidos pelo alemão Joseph Pilates (1883-1967) e que fizeram nascer, em meados dos anos 1920, o método caracterizado por intenso trabalho de fortalecimento muscular, de flexibilidade e de percepção corporal alinhado à concentração e à respiração. Prática que atraiu bailarinos na década de 80, o pilates arrebatou dezenas de celebridades nos anos 1990 e 2000, como a cantora Madonna, e logo se popularizou. O maquinário que permite posturas semelhantes a acrobacias e execução de movimentos de força e alongamento se espalhou em estúdios e conquistou alunos de diferentes corpos e faixas etárias.
Depois do espetacular sucesso inicial, o exercício experimentou um extenso período de baixa, ofuscado principalmente pelo avanço da ioga. A situação foi agravada pela pandemia de Covid-19, responsável por impor o fechamento de academias principalmente em seu primeiro ano, 2020. Contudo, assim como outras atividades, o método conseguiu se reinventar e encontrou a saída nas plataformas on-line, no aumento das aulas ao livre, sem a necessidade de quatro paredes. Vive-se, agora, a segunda onda do pilates.
O uso de aplicativos, sites e demais ferramentas virtuais para a prática de exercícios, principalmente os treinos sem equipamentos, não era uma novidade antes da pandemia, mas a obrigação do isolamento e a escalada da ansiedade e da depressão levaram muitas pessoas a buscar atividades que fossem eficazes tanto para lidar com as novas dores que surgiram com o home office e seus escritórios improvisados na sala ou no quarto quanto para manter ou retomar a qualidade da saúde mental. Nesse cenário, o pilates entrou como a opção que preenchia todos os requisitos. O interesse explodiu. As buscas no universo digital por detalhes da técnica tiveram um crescimento de 500% de março de 2020 até agora, segundo dados do Google Trends. Na plataforma GetNinjas, de oferta de serviços, a procura por professores subiu 55% entre 2020 e 2021.
Quem ofereceu os treinos virtuais também viu os números saltarem. Na Cia Athletica, em São Paulo, o tempo médio de exibição das videoaulas de pilates foi de 30,8 horas nos meses de julho e agosto de 2019, totalizando 1 100 visualizações. No mesmo período de 2020, os índices passaram para 7 300 horas e 146 200 visualizações. A mudança, obrigatória na época, deu tão certo que muitos incorporaram as aulas on-line para sempre. “O interesse aumenta cada vez mais por se tratar de uma modalidade recomendada a qualquer perfil de pessoa”, diz Luana Bernardo, instrutora na Cia Athletica São José dos Campos, no interior paulista. “As pessoas voltaram às suas rotinas de trabalho, mas os praticantes se adequaram ao atendimento a distância e não querem mais deixar esse formato.”
É fato que, no virtual, a intensidade dos exercícios é menor do que a aplicada quando eles são realizados nos aparelhos, nos quais a resistência exercida pelas molas exige muito mais força na execução dos movimentos. Mas parte da perda pode ser compensada com a aquisição de acessórios clássicos. Os mais conhecidos são o anel de pilates, também chamado de magic circle, a overball (bola para exercícios de coordenação motora e fortalecimento muscular) e a bola suíça, maior, utilizada em treinos de equilíbrio. Nos primeiros meses da pandemia, alguns estúdios indicaram o uso de móveis e objetos da casa. Quem não tinha faixas elásticas treinava com meia-calça.
O processo de reinvenção exigiu dos professores maior conexão com os alunos. “Na aula remota, não existe o toque para corrigir a postura do adepto. O instrutor precisa dar as indicações precisas para que o movimento seja bem executado”, diz Sandro Alves, diretor da empresa Alves Pilates. Esse novo jeito é um reencontro com o modelo criado por Joseph Pilates, que chegou a inventar uma prática para acamados. Com tanta gente precisando de opções para a prática de exercícios, a virada é oportuna.
Publicado em VEJA de 10 de agosto de 2022, edição nº 2801