Nos últimos anos, os estudos sobre microbioma têm apontado as bactérias e fungos que vivem pacificamente no corpo humano como importantes fatores para a saúde. Agora, uma nova pesquisa sugere que esses pequenos seres vivos podem ter uma influência importante sobre a doença de Alzheimer.
De acordo com o trabalho publicado nesta terça-feira, 17, no periódico científico Brain, animais transplantados com a microbiota fecal de pacientes com doenças de Alzheimer desenvolveram sintomas compatíveis com a condição.
“Os testes de memória que investigamos baseiam-se no crescimento de novas células nervosas na região do hipocampo do cérebro”, afirma a orientadora e autora sênior do estudo, Yvonne Nolan, em nota. “Vimos que animais com bactérias intestinais de pessoas com Alzheimer produziram menos células nervosas novas e tiveram problemas de memória.”
Pesquisas anteriores já haviam mostrado que os trilhões de microrganismos que vivem no intestino podem ter uma influência sobre distúrbios neurológicos, mas este é o primeiro estudo que mostra evidências de que possa haver uma relação causal entre o microbioma intestinal e o desenvolvimento dessa doença. Se a informação for confirmada por estudos posteriores, o microbioma poderá ser utilizado no diagnóstico precoce e no tratamento de pessoas com essa condição.
Para realizar essa investigação, os pesquisadores recrutaram pacientes com esse tipo de demência e pacientes saudáveis de idade semelhante. Depois disso, as fezes dos participantes foram coletadas e transplantadas em ratos estéreis, ou seja, sem um microbioma instalado. Os cientistas observaram que os animais que receberam as amostras de pacientes com Alzheimer tiveram uma produção menor de neurônios numa região do cérebro responsável pela memória em comparação com os animais que foram transplantados com as bactérias de indivíduos saudáveis.
As descobertas não param por aí. Os envolvidos na pesquisa ainda observaram que o efeito era mais pronunciado nos animais que receberam os microrganismos de indivíduos com formas mais severas da doença. Essa diminuição também foi observada com células neurológicas humanas isoladas que foram tratadas com o plasma sanguíneo de pacientes com esse tipo de demência.
“A doença de Alzheimer é uma condição traiçoeira para a qual ainda não existe tratamento eficaz”, afirma a neurocientista do King’s College London e coautora do artigo, Sandrine Thuret. “Este estudo representa um importante passo na nossa compreensão da doença, confirmando que a composição da nossa microbiota intestinal tem um papel causal no seu desenvolvimento.”
Essa doença é o tipo de demência que mais afeta as pessoas e espera-se que, com o envelhecimento da população, cerca de um em cada três nascidos desenvolverão a condição na vida adulta. Hoje, devido a métodos diagnósticos cada vez mais precoces, esses indivíduos conseguem viver uma vida normal, mas a mecânica do seu desenvolvimento ainda precisa ser melhor compreendida e tratamentos mais eficazes serão urgentes para permitir condições dignas de vida ao número crescente de pessoas com idade avançada.