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Perder gordura sem perder músculo: a chave pode estar em um novo tratamento

Pessoas que usam remédios como Ozempic e Mounjaro também se despedem de massa muscular. Mas drogas experimentais buscam reverter isso

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 jun 2025, 17h00

O boom dos novos medicamentos para perda de peso, representados pela semaglutida (Ozempic e Wegovy) e a tirzepatida (Mounjaro), expôs um dos principais desafios de quem está tentando emagrecer ou já se livrando dos quilos extras. É que, nesse processo, além de eliminar gordura, perde-se também massa magra. 

Embora a perda de peso em si já se reverta em benefícios para a saúde, está cada vez mais claro para os especialistas que preservar os músculos é algo tão importante quanto expulsar a gordura pensando no equilíbrio do organismo e na qualidade de vida.

O duro é que, sobretudo com o avançar da idade, mesmo treinando na academia algumas vezes por semana, suplementando e apostando numa dieta balanceada, a massa muscular se retrai. E isso é algo cada vez mais visto entre pessoas que utilizam medicamentos como a semaglutida e a tirzepatida.

Um estudo recente, conduzido pela farmacêutica americana Regeneron, descobriu que cerca de 35% do peso perdido com a semaglutida vem de massa magra. Ou seja, músculo.

“Só que os músculos são essenciais não só para nos movimentarmos como também para manter um metabolismo ativo e garantir a saúde no longo prazo”, diz o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da USP de Ribeirão Preto.

Mas sabe por que esse laboratório nos EUA decidiu investigar a perda muscular? Porque ele tem em mãos remédios experimentais que podem salvar os músculos dessa liquidação. Sim, a ideia é que, se Wegovy e Mounjaro já oferecem uma grande perda de peso, com novos fármacos seja possível poupar a massa magra no processo de emagrecimento. 

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Anticorpos salvadores de músculos

Entre diversas substâncias pesquisadas pelo potencial de reduzir o declínio muscular, despontaram no horizonte dois anticorpos monoclonais, o trevogrumabe e o garetosmabe.

O primeiro deles bloqueia a ação da miostatina, uma proteína que freia o crescimento muscular. Ao inativá-la, o corpo consegue preservar mais músculo ou até aumentá-lo.

O segundo atua em outra proteína, a activina A, também ligada à perda de massa muscular e à inflamação. “Ambos os anticorpos em estudo têm uma missão: evitar que o emagrecimento venha às custas de músculos”, resume Couri.

Tal efeito seria especialmente bem-vindo em um contexto de perda de peso mais acelerada, como ocorre com a nova geração de drogas para obesidade. Daí a ideia de testar os anticorpos em paralelo ao uso de semaglutida, por exemplo.

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Sozinha ou acompanhada?

Essa foi a proposta de um estudo batizado de COURAGE, financiado pela Regeneron. Ele comparou a ação da semaglutida isolada versus o princípio ativo de Ozempic e Wegovy acompanhado dos dois anticorpos protetores dos músculos citados acima.

Funcionou da seguinte forma: dois grupos de pessoas com obesidade foram divididos aleatoriamente para usar a semaglutida sozinha ou a terapia tripla. Depois de 26 semanas seguindo esse roteiro, os pesquisadores usaram exames sofisticados para apurar o perfil de massa corporal e chegaram aos resultados abaixo.

Grupo da semaglutida isolada:

  • Perda de peso total: cerca de 10% do peso corporal
  • Perda de músculo: aproximadamente 3,6 kg
  • Perda de gordura: cerca de 7 kg

Grupo da terapia tripla (semaglutida + anticorpos):

  • Perda de peso total: cerca de 13% do peso corporal
  • Perda de músculo: menos de 1 kg
  • Perda de gordura: 11,5 kg
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O que os números nos dizem? “De fato, com a terapia tripla, o corpo perdeu mais gordura, poupando os músculos”, afirma Couri. “Houve uma perda muscular 80% menor em relação ao uso da semaglutida sozinha. E a perda de gordura foi superior”, destrincha o endocrinologista.

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Já dá para comemorar?

Como todo medicamento experimental, os especialistas pedem muita calma nessa hora. Os resultados da terapia tripla de semaglutida e anticorpos pró-músculo ainda são preliminares.

“Também já sabemos que o grupo que tomou os três medicamentos juntos apresentou mais efeitos colaterais, como náuseas e dores musculares. Em alguns casos, os pacientes abandonaram o tratamento”, pondera Couri.

Tem mais: duas mortes foram registradas nessa ala do estudo. Ambas as pessoas tinham histórico de problemas cardiovasculares. Por ora, não dá para saber se houve uma associação direta com as medicações em desenvolvimento. O laboratório está investigando.

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O estudo COURAGE foi dividido em duas etapas. A primeira, focada em emagrecimento, já teve seus achados divulgados. Agora se esperam os resultados sobre a manutenção do peso. As conclusões deverão ser apresentadas no fim deste ano.

“A expectativa é alta, pois, se confirmarmos os resultados positivos, podemos estar diante de uma nova revolução no tratamento da obesidade. Conseguiremos promover um emagrecimento com mais saúde, perdendo gordura, não músculo”, sintetiza o pesquisador da USP.

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