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Os avanços (e os riscos) das próteses de silicone

A cirurgia da primeira-dama Michelle Bolsonaro nas mamas fez crescer o interesse pela intervenção e ampliou uma questão: qual a duração do material?

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h10 - Publicado em 10 jan 2020, 06h00

A confirmação de que a primeira-dama Michelle Bolsonaro, de 37 anos, trocara a prótese de silicone nas mamas nos primeiros dias de janeiro, no Hospital DF Star, em Brasília, deflagrou um movimento atípico nos consultórios médicos do país. Mulheres que já se submeteram ao procedimento ou planejam fazê-lo buscaram avidamente informações sobre a qualidade dos modelos e os prazos de validade — Michelle realizou a primeira colocação há mais de dez anos.

O aumento das mamas é o procedimento estético mais comum no Brasil. Apenas em 2018 foram feitas no país 275 000 cirurgias de implante de próteses, de acordo com o mais recente levantamento da Sociedade Inter­nacional de Cirurgia Plástica Estética — mais que o dobro em relação a uma década atrás. Os novos números põem as brasileiras em segundo lugar no ranking mundial, perdendo apenas para as americanas, com 321 000 operações realizadas no mesmo período.

O principal motivo para a multiplicação dessas cirurgias foi a extraordinária evolução das próteses de silicone. Os novos modelos, informam os fabricantes, não têm data de validade. Até pouco tempo atrás, o prazo de resistência era, em média, de dez anos. No entanto, as próteses raramente duram para sempre. Cada organismo reage de modo diferente. Quando a prótese é colocada, o metabolismo desenvolve uma espécie de cápsula de cicatriz para isolar o que é considerado corpo estranho. Trata-se de uma reação normal. “Em alguns casos, contudo, essa reação acontece de forma exagerada, e dá-se a contratura, que provoca dor, endurecimento e deformidade nas mamas”, diz Dênis Calazans, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Foi essa a causa da troca das próteses de Michelle. Nos modelos mais antigos, desenvolvidos até a década de 90, o problema acometia 10% das mulheres com silicone. Hoje atinge apenas 4% (veja o quadro). Havia neles também maior probabilidade de ruptura, em metade dos casos — agora o fracasso é de apenas 1%.

“A maioria das substituições realizadas atualmente ocorre por desejo da paciente e por razões estéticas, e não por prazo vencido”, diz o cirurgião plástico Eduardo Kanashiro, da Clínica Due, em São Paulo. Mesmo com todo o aperfeiçoamento, contudo, e apesar das promessas, há sempre o fim da linha. O cirurgião plástico Cecin Daoud, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, faz uma indagação necessária: “É simples. Qual item você compra e pode usar ‘para sempre’? Praticamente nenhum”.

Endurecimento, alteração no tamanho e desconforto nas mamas são sinais de alerta. Michelle teve dor. Mas algumas vezes não há sintomas. Os médicos recomendam check-ups anuais depois de uma década, com exames de ultrassom e mamografia. A cirurgia de troca demora noventa minutos e é muito semelhante à da disposição inicial das próteses. Pode-se, inclusive, trabalhar com a cicatriz original, sem cortes adicionais.

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A cirurgia pioneira para o aumento dos seios com prótese de silicone ocorreu nos Estados Unidos em 1962. A americana Timmie Jean Lindsey, mãe de seis filhos, submeteu-se ao procedimento em um hospital do Texas. A intervenção foi recebida com grande entusiasmo naqueles tempos de exaltação da silhueta curvilínea, com seios fartos, pouco depois de a atriz Marilyn Monroe aparecer nua nas páginas da revista Playboy. Foi um estrondo comportamental. Anteriormente, várias tentativas — fracassadas — de aumentar os seios já haviam sido feitas. Elas incluíram desde injeção de parafina e silicone diretamente nos seios até implantes de esponja, bombas de vácuo e dispositivos de sucção. A quantidade de formatos e tamanhos de prótese aumentou exponencialmente. No início, havia apenas quatro opções de tamanho: PP, P, M e G. Agora, existem mais de 450 medidas. As preferências também mudaram muito ao longo de seis décadas. Se nos anos 1990 ainda havia a valorização dos seios fartos, herança de Marilyn, e o ideal estético era a atriz Pamela Anderson, a partir de 2015 se deu a revalorização dos seios pequenos, mais naturais. Grandes ou pequenos, o importante é garantir a saúde e a satisfação de quem recorre à cirurgia.

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Publicado em VEJA de 15 de janeiro de 2020, edição nº 2669

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