Onipresença de luzes artificiais está cobrando preço alto para a saúde
O conselho a quem vai se deitar é: melhor ler um livro do que ficar no celular
Poucos anos após a virada do milênio, o Sol mudou de status dentro da saúde pública. Apesar dos efeitos deletérios da exposição excessiva, descobertos em meados do século XX, ficar quinze minutinhos ao ar livre em períodos menos intensos de radiação passou a ser mandatório para a manutenção dos níveis de vitamina D, um hormônio essencial para os ossos, os músculos e a imunidade. Desde então, a claridade passou a ser reverenciada, com uma lista crescente de ganhos associados, essencialmente ao bem-estar e à produtividade. Lâmpadas mais brancas invadiram as casas e os escritórios e telas brilhantes tomaram conta de todos os momentos da rotina.
Mas elas estão longe de simular os poderes do Sol. E tal onipresença de luzes artificiais, hoje reluzentes em relógios inteligentes, celulares e TVs, está cobrando um preço, especialmente no período noturno. O maior estudo realizado sobre o tema até agora contou com mais de 86 000 participantes e comprova que esse efeito pernicioso sobretudo sobre a saúde mental é ainda maior do que se acreditava. De acordo com a investigação, publicada na renomada Nature Mental Health, a exposição exagerada à noite aumenta o risco de desordens e complicações psiquiátricas.
Para efeito de comparação, enquanto a alta exposição à claridade durante o dia diminuiu em 20% o risco de depressão, quantidades parecidas durante o período noturno aumentaram em 30% a chance de desenvolvimento dessa doença. Algo parecido foi observado para automutilação, psicose, transtorno bipolar, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de estresse pós-traumático — isso tudo independentemente de fatores importantes, como prática de exercícios físicos, quantidade de sono e estação do ano. Com base nesses achados, o conselho a quem vai se deitar é: melhor ler um livro do que ficar no celular.
Publicado em VEJA de 3 de novembro de 2023, edição nº 2866
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