Agência da OMS classifica aspartame como possivelmente cancerígeno
Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, ligada à entidade, apresenta riscos de aditivo presente em refrigerante zero
Um dos adoçantes artificiais mais comuns e usado em bebidas zero (ou diet), principalmente refrigerantes, o aspartame acaba de ser considerado pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), órgão ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS), “possivelmente cancerígeno para humanos”.
O ingrediente é inserido pela primeira vez na lista de produtos com potencial para causar a doença.
A decisão, rodeada de controvérsias, é fruto de uma larga revisão de evidências científicas sobre o adoçante, com base em 1,3 mil estudos publicados sobre o aspartame.
A análise do produto também passará pelo Comitê Conjunto de Especialistas em Aditivos Alimentares da OMS e da Organização para Agricultura e Alimentação, o JECFA, sobre o uso de aditivos alimentares.
Desde o início da década de 1980, a entidade classifica o aspartame como seguro, embora tenham surgido indícios de riscos em estudos observacionais e ensaios em laboratório.
Outra motivação para a reclassificação do aspartame seria a proposta de fomentar mais estudos sobre o adoçante, que é largamente utilizado por pessoas que querem diminuir o consumo de açúcar – inclusive sem abrir mão de bebidas industrializadas.
No ano passado, um estudo francês publicado no periódico Plos Medicine observou dados sobre 100 mil adultos que consumiam adoçantes artificiais, entre eles o aspartame, em grandes quantidades e concluiu que eles tinham risco ligeiramente maior de desenvolver tumores.
Da parte da indústria, entidades como a Associação Internacional de Adoçantes (ISA) e o Conselho Internacional de Associações de Bebidas criticaram a reclassificação e afirmaram que os dados podem confundir consumidores e induzi-los a aumentar o consumo de açúcar. No Brasil, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad) se manifestou defendendo o adoçante. “A Abiad corrobora a segurança para consumo do aspartame, um dos ingredientes mais pesquisados da história, com mais de 90 agências de segurança alimentar que comprovam seu uso seguro.”
Consumo do aspartame
A reclassificação do aspartame como produto com potencial cancerígeno vai demandar mais atenção para o consumo de refrigerantes e demais bebidas zero, mas não deve ser motivo de pânico para os consumidores.
“É preciso investigar se há relação de causalidade e, de fato, a gente já tem dados que mostram que a população precisa repensar como tem se alimentado. Não é novidade que tem essa relação do consumo de alimentos gordurosos e ultraprocessados com o desenvolvimento de tumores. Seria mais um fator de risco”, explica Pedro Exman, oncologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Entre os cânceres ligados aos hábitos alimentares, os principais são os de mama, endométrio e gastrointestinais, como o colorretal.
Ele alerta, no entanto, que o desenvolvimento de um tumor é multifatorial. “A exposição em longo prazo pode ser um fator de risco para desenvolver a doença, mas temos de considerar histórico pessoal, familiar e exposições a outros fatores.”
Diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Rodrigo Moreira diz que a reavaliação de substâncias é algo rotineiro e que, confirmada a relação do aspartame com câncer, é importante não generalizar os resultados. “Tem de esperar o documento das autoridades para saber exatamente qual vai ser a recomendação. Se tiver a reclassificação do aspartame, a gente não pode extrapolar para todos os adoçantes. Mas, com certeza, o consumo do aspartame vai ser reavaliado em todo o mundo.”
Trocar açúcar por adoçante
No mês passado, a OMS publicou uma nova diretriz onde se posicionou contra o uso dos adoçantes sem açúcar com o objetivo de redução de peso corporal por adultos e crianças.
Após uma revisão de evidências científicas sobre o tema, a entidade informou que, além de não apresentar benefícios para o emagrecimento em longo prazo, os resultados sugerem que o consumo prolongado pode levar ao risco aumentado de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e mortalidade em adultos.