Falta de exercício, má postura, esforço excessivo, estresse constante no trabalho ou em casa. Um ou mais desses motivos podem causar dor nas costas, condição que afeta 36% dos brasileiros de forma crônica, de acordo com dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). No mundo a situação também impacta uma fatia enorme da população: segundo a Organização da Saúde (OMS), 80% da população global já teve ou terá dor na coluna.
Terapias esportivas e atividades físicas sob instrução podem trazer alívio, já tratamentos comuns incluem fisioterapia, bem como exercícios de força e estabilidade. Mas como a terapia pode ser tão bem sucedida quanto possível? Qual abordagem alivia a dor de forma mais eficaz? Uma meta-análise da Goethe University Frankfurt, na Alemanha, publicada recentemente no Journal of Pain, pode ajudar a responder.
O ponto de partida foram os dados de 58 ensaios clínicos de mais de 10 mil pacientes em todo o mundo com dor lombar crônica. Ao avaliar esses dados, os pesquisadores examinaram se e em que medida as formas padrão de tratamento e o tratamento individualizado diferem em termos de resultado. “Individualizado” significa que existe algum tipo de coaching pessoal, onde os terapeutas visam especificamente às potencialidades e necessidades de cada paciente e decidem em conjunto com eles como deve ser a sua terapia.
O estudo concluiu que o tratamento individualizado para dor nas costas crônica levou a um efeito significativamente maior em comparação com as terapias de exercício padrão. A taxa de sucesso no alívio da dor foi 38% maior do que com o tratamento padrão. “O maior esforço necessário para o tratamento individual vale a pena porque os pacientes se beneficiam de uma forma clinicamente importante”, disse o autor Johannes Fleckenstein, do Instituto de Ciências do Esporte da Goethe University Frankfurt.
No entanto, o estudo foi ainda mais longe. A equipe de pesquisa em Frankfurt comparou um terceiro grupo de métodos de tratamento com os padrões e os individualizados. Nesse grupo, sessões de treinamento individualizado foram combinadas com terapia cognitivo-comportamental (TCC). Este procedimento baseia-se na suposição de que pensamentos e comportamentos negativos em torno da dor tendem a exacerbar-la. Por meio da TCC, os pacientes com dor aprendem a mudar a maneira como lidam com isso. Eles param de ter medo de se mover ou aprendem táticas para lidar com a dor.
Quando uma abordagem individualizada e a TCC foram combinadas, a taxa de sucesso em termos de alívio da dor foi 84% maior do que com o tratamento padrão. A terapia combinada, também chamada de terapia multimodal, levou, de longe, ao melhor resultado.
Fleckenstein vê no estudo “um apelo urgente à política de saúde pública” para promover terapias combinadas tanto em termos de atendimento ao paciente quanto de remuneração. Para ele, é importante melhorar as condições econômicas. Afinal, a terapia da dor economiza muito dinheiro a longo prazo no que diz respeito à economia da saúde, enquanto os comprimidos e as operações raramente levam ao alívio da dor a médio e longo prazo.