“O surto é inaceitável”, diz a infectologista Rosana Richtmann
Para profissional do Instituto Emílio Ribas, o acesso à vacinação é insuficiente
Rosana Richtmann, do Instituto Emílio Ribas, de São Paulo, é uma das mais respeitadas autoridades em sarampo no Brasil. Para entender o ressurgimento da doença, VEJA entrevistou a infectologista.
As mortes recentes registradas por sarampo eram inesperadas? Até a década de 80, morrer de sarampo não era algo surpreendente, visto que infectologistas como eu vivenciamos um passado em que não tínhamos recursos contra a doença nem opções preventivas. Ter sarampo era rotina, e ver crianças e outros pacientes morrer em decorrência dele fazia parte das possibilidades. Hoje, com vacinas extremamente eficazes e amplas ferramentas de comunicação para divulgar os riscos da infecção, tanto as mortes como os surtos são inaceitáveis.
O acesso à vacinação é efetivo? Infelizmente não. Temos no Brasil mais de 35 000 salas de vacina, mas com horários de funcionamento limitados e poucos profissionais de saúde. Os postos funcionam só em dias úteis, em alguns dias da semana. Como garantir o acesso da população assim?
Qual é a solução? Não precisamos de novas vacinas, e sim de ações de vacinação. A volta do sarampo escancara a fragilidade da comunicação e da estrutura de saúde não apenas no Brasil, mas em boa parte do mundo.
Publicado em VEJA de 11 de setembro de 2019, edição nº 2651