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Nova técnica dá esperanças a mulheres com câncer que querem engravidar

O método, considerado experimental, é também a única alternativa para meninas que ainda não entraram na puberdade

Por Giulia Vidale
21 fev 2016, 10h54

Mulheres que vão se submeter a tratamentos que afetam a fertilidade, como a quimioterapia, agora têm um novo recurso para ter filhos: o congelamento ou criopreservação do tecido ovariano.

Ainda considerada experimental, a técnica consiste em retirar um pedaço ou até metade do ovário por meio de uma videolaparoscopia. Em seguida, o tecido é congelado em fragmentos de 1 centímetro, em nitrogênio líquido, à temperatura de -196º C. O ovário pode permanecer congelado por tempo indeterminado, já que o tecido não envelhece.

Após a liberação do oncologista, a paciente pode realizar o reimplante do tecido ovariano, caso o órgão remanescente tenha sido danificado durante o tratamento, o que ocorre na maioria dos casos. O tecido é reimplantando por meio de uma nova videolaparoscopia. Espera-se que entre dois e três meses após a cirurgia o órgão retome suas funções hormonais e a paciente possa engravidar de forma natural ou por fertilização in vitro (FIV).

Os especialistas ressaltam que a opção do reimplante é importante mesmo para mulheres que não querem engravidar, já que o ovário desempenha uma importante função endócrina.

Congelamento de óvulos versus tecido ovariano – Em comparação com o congelamento de óvulos ou de embriões, técnicas já estabelecidas há mais de uma década, a criopreservação do ovário é mais complexa. Entretanto, em alguns casos, ela é a única esperança para mulheres que desejam engravidar – e é a única forma de tentar restaurar a função hormonal do ovário, caso ela se deteriore após o tratamento.

“A grande inovação desta técnica é que ela dispensa tratamento prévio e o tempo necessário para o congelamento de óvulos. Além disso, é a única esperança de meninas pré-púberes tentarem manter a fertilidade”, explica Maurício Chehin, especialista em reprodução assistida do Grupo Huntington.

Explica Edson Borges, diretor clínico do Centro de Fertilização Assistida Fertility, em São Paulo: “Meninas que ainda não entraram na puberdade não podem fazer congelamento de óvulos, simplesmente porque elas não têm óvulos. Nesses casos, a criopreservação do tecido é a única opção para elas tentarem engravidar no futuro.”

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No entanto, Borges ressalta que ainda não se sabe como é a recuperação da fertilidade nas crianças. “Ao contrário das mulheres que já menstruaram, o ovário de meninas pré-púberes ainda não amadureceu e por isso não teve sua função reprodutiva ativada. Assim, quando há o reimplante de um ovário nessas condições é necessário realizar a maturação do tecido retirado em laboratório antes do reimplante. É algo que ainda não podemos garantir que irá acontecer. Mas acredito que vale muito a pena tentar”, afirma.

Para congelar óvulos ou embriões, a mulher passa por uma indução de ovulação que demora entre 10 e 15 dias. Já na nova técnica, o procedimento é cirúrgico e não precisa de preparação prévia. A desvantagem é que o método é mais invasivo e requer internação hospitalar de um a dois dias.

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Pesquisas – Os primeiros relatos científicos sobre congelamento de tecido ovariano datam do final dos anos 1990, mas o primeiro transplante bem sucedido e que resultou em gravidez ocorreu na Bélgica, em 2003. Desde então, ocorreram cerca de 60 nascimentos de bebês a partir dessa técnica ao redor do mundo, sendo Dinamarca e Bélgica os países que mais se destacam na prática.

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“Embora exista há mais de uma década, no Brasil e também no mundo, a criopreservação de tecido ovariano ganhou força apenas nos últimos dois anos por causa da maior conscientização sobre a importância de se tentar manter a fertilidade frente aos tratamentos oncológicos”, afirma o especialista Chehin.

Um estudo publicado no periódico científico Human Reproduction, em outubro de 2015, mostrou que o congelamento ovariano é seguro e bem sucedido. Os pesquisadores da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, analisaram 41 mulheres que realizaram o procedimento devido a um câncer e tiveram o ovário reimplantado após estarem curadas. Todas tiveram a função ovariana reestabelecida após o implante, mas apenas 32 decidiram engravidar. Dessas, 14 conseguiram chegar até o fim da gestação e dar à luz crianças saudáveis, sendo oito de forma natural e seis por meio de fertilização in vitro.

Outra preocupação dos pesquisadores era que o tecido reimplantado pudesse causar a volta do tumor. Isso não foi observado em nenhum dos casos. Outro resultado positivo foi o tempo funcional do ovário transplantado. De acordo com os autores, em algumas mulheres o tecido permaneceu funcional por quase 10 anos. Em geral, a “vida útil” do ovário transplantando é de cinco anos.

Segundo os especialistas ouvidos pelo site de VEJA, espera-se que a indicação dessa técnica aumente bastante. “No futuro a criopreservação ovariana poderia ter um maior número de indicações, como para mulheres com síndrome de Turner e endometriose, condições que tendem a causar a perda precoce da função dos ovários. E para pacientes com doenças autoimunes como o lúpus, que precisam utilizar quimioterápicos que podem afetar sua fertilidade”, afirma Chehin.

Para Edson Borges, seu uso pode se expandir ainda mais. “Ela pode ser uma alternativa para mulheres que vão entrar em menopausa. Essas pacientes podem optar por guardar o tecido ovariano antes desse período e depois reimplantá-lo para que ele volte a produzir hormônios”, diz.

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