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Mosquito da dengue causa prejuízo anual de até R$ 15 bilhões no Brasil

Impacto é causado também por espécies exóticas invasoras, segundo relatório da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos

Por Elton Alisson, da Agência Fapesp
Atualizado em 8 Maio 2024, 12h40 - Publicado em 4 mar 2024, 13h10

As espécies exóticas invasoras no Brasil, como os mosquitos do gênero Aedes, transmissores de vírus causadores da dengue, febre amarela, chikungunya e zika, causam um prejuízo anual de até R$ 15 bilhões ao país – valor que daria para construir 15 laboratórios de biossegurança máxima (nível NB4), como o que deve ser implantado em Campinas (SP).

A estimativa foi feita por um grupo de pesquisadores autores do “Relatório Temático sobre Espécies Exóticas Invasoras, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos”, lançado nesta sexta-feira, 1º, pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, na sigla em inglês), entidade criada em 2015 com apoio do Programa Biota-Fapesp.

De acordo com dados do estudo, são registradas no Brasil 476 espécies exóticas invasoras – como são chamados plantas, animais e microrganismos que são introduzidos por ação humana, de forma intencional ou acidental, em locais fora de seu hábitat natural. Esses organismos se reproduzem, proliferam e se dispersam para novas áreas onde, na maioria das vezes, ameaçam as espécies nativas e afetam o equilíbrio dos ecossistemas.

“Elas representam uma das cinco maiores causas de perda de biodiversidade em escala global”, diz Michele de Sá Dechoum, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e uma das coordenadoras do relatório. As outras quatro são destruição de hábitat, mudanças climáticas, poluição e sobre-exploração de recursos naturais.

Segundo o levantamento, das 476 espécies exóticas invasoras registradas no Brasil, 268 são animais e 208 plantas e algas, em sua maioria nativas da África, da Europa e do Sudeste Asiático.

O mosquito Aedes aegypti, por exemplo, é originário do Egito, na África, e vem se espalhando pelas regiões tropicais e subtropicais do planeta desde o século 16, período das Grandes Navegações. O inseto chegou ao Brasil no período colonial.

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Essas espécies intrusas estão presentes em todos os ecossistemas, com maior concentração em ambientes degradados ou com alta circulação de pessoas e em todas as regiões do Brasil.

As áreas urbanas são vulneráveis a espécies exóticas invasoras devido ao grande tráfego de pessoas, commodities e mercadorias via portos e aeroportos, avaliam os autores.

“Mas nem as áreas mais preservadas estão imunes da invasão. São encontradas espécies invasoras em 30% das unidades de conservação no país”, sublinha Andrea Junqueira, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e também coordenadora do estudo.

A principal via de introdução é o comércio de animais de estimação e de plantas ornamentais e hortícolas, indica o estudo.

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“A maioria das espécies invasoras causadoras de impactos negativos no Brasil foi introduzida intencionalmente, como a tilápia, o tucunaré, o javali e o caracol gigante”, afirmou Mário Luis Orsi, professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e também coordenador do estudo.

Prejuízos em série

Ao longo de 35 anos – 1984 a 2019 – o prejuízo mínimo estimado em razão dos impactos ocasionados por apenas 16 espécies exóticas invasoras variou de US$ 77 bilhões a US$ 105 bilhões – uma média anual de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões. Dentre essas espécies estão principalmente pragas agrícolas e silviculturais – responsáveis por um prejuízo acumulado no período de US$ 28 bilhões – e vetores de doenças, como o Aedes aegypti – causadores de perdas de US$ 11 bilhões no mesmo período.

As estimativas foram feitas com base em um levantamento dos prejuízos em termos de perdas de receitas e custos de manejo direcionados para ações de prevenção, controle e mitigação de impactos negativos de espécies exóticas invasoras reportados por órgãos do governo e empresas públicas e privadas.

Esses valores, contudo, podem estar subestimados, já que o cálculo leva em conta apenas 16 das 476 espécies invasoras identificadas no território brasileiro e em razão de existir ainda muitas lacunas no país de avaliação e de valoração dos impactos de espécies exóticas invasoras, ponderam os autores.

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“Os impactos são muito maiores do que imaginamos. Faltam estudos científicos sobre muitas espécies com alto potencial invasor. O ambiente marinho demanda maior atenção, dado o potencial de prejuízo”, avalia Orsi.

Os prejuízos causados pelas espécies invasoras estão relacionados a perdas de produção e horas de trabalho, internações hospitalares e interferência na indústria de turismo.

Espécies invasoras, como o mexilhão-dourado, também acarretam sérios danos econômicos, afetando empreendimentos hidrelétricos, estações de tratamento de água e tanques-rede de fazendas aquícolas.

“Estima-se que a limpeza das bioincrustações pode chegar a R$ 40 mil por dia para uma usina de pequeno porte e, para grandes usinas, como a de Itaipu, esses valores atingem R$ 5 milhões diários pela paralisação das turbinas”, estimam os autores da publicação.

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Cães e gatos domésticos

Dentre as espécies exóticas invasoras registradas no Brasil há animais e plantas considerados “carismáticos”, como cães e gatos domésticos, árvores ornamentais e algumas espécies de tartaruga e de primatas. Nesses casos, é mais difícil para os leigos entender o impacto que causam. Contudo, cães e gatos de estimação só se tornam uma ameaça quando soltos ou abandonados, ponderam os autores.

“Sobretudo se adentram áreas protegidas, onde podem transmitir doenças e caçar a fauna silvestre nativa, interferindo no equilíbrio ecológico local”, afirmam.

A disseminação de conhecimento sobre a origem de espécies exóticas invasoras e suas implicações negativas para a sociedade pode ajudar a reduzir a oposição popular frente ao manejo dessas espécies, avaliam os pesquisadores.

Entre os casos de sucesso do engajamento público no manejo de espécies exóticas invasoras citados no estudo estão o programa de controle de pínus em dunas no Parque Natural Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição, em Florianópolis (SC), e o projeto Cipó Vivo, focado no controle de braquiária no Parque Nacional da Serra do Cipó (MG).

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“Algumas empresas de produção madeireira estão eliminando espécies exóticas invasoras fora das áreas de produção, por exigência de certificadoras”, conta Michele.

O setor de geração de energia também tem sido um exemplo de reconhecimento do problema das invasões biológicas e vem seguindo agendas positivas na minimização dos impactos.

O Brasil, porém, não tem uma lista oficial, mas a base de dados nacional de espécies exóticas invasoras gerenciada pelo Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, sediado em Florianópolis (SC), tem sido uma fonte de referência. Os estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Distrito Federal e Bahia já instituíram suas listas oficiais.

“As listas são fundamentais e sem elas fica difícil e quase ineficaz qualquer planejamento de ações de manejo. Portanto, os estados que possuem suas listas já estão um passo à frente”, diz Orsi.

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