O continente americano registrou a maior alta no número de mortes por malária entre 2016 e 2017. Foram 630 óbitos no ano passado, contra 460 em 2016, o que representa um aumento de aproximadamente 37%. Esse número está associado ao aumento de casos na Venezuela, no Brasil e na Nicarágua. Os dados são de um novo relatório publicado na segunda-feira (19) pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ainda segundo a entidade, nenhum progresso significativo foi feito para reduzir os números globais da malária, que infectou 219 milhões de pessoas em 2017. “Ninguém deveria morrer de malária. Mas o mundo enfrenta uma nova realidade: à medida que o progresso se estanca, corremos o risco de desperdiçar anos de trabalho, investimento e sucesso na redução do número de pessoas que sofrem da doença ”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor geral da OMS.
Dos 773.500 casos confirmados no continente americano, 53% foram registrados na Venezuela, 22% no Brasil, 8% na Colômbia (8%) e do Peru (7%). Embora tenha sido apontada pela OMS como um dos motivos pelo aumento no número de casos na região, os registros de malária na Nicarágua correspondem a apenas 1% do total.
Em fevereiro, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) já havia alertado para o crescimento de casos da doença no Brasil, Equador, México, Nicarágua e Venezuela, pedindo que as autoridades dos respectivos países reforçassem a vigilância e controle do problema. A tendência mostrou uma inversão depois de quase uma década (2005-2014) de queda da doença na América Latina.
Malária no mundo
De acordo com a OMS, este é o segundo ano consecutivo que o Relatório Mundial de Malária revela um aumento no número de pessoas afetadas pela doença. Em 2017, foram cerca de 219 milhões de casos de malária, em comparação com 217 milhões no ano anterior. Porém, entre 2010 e 2015 havia sido registrada uma queda significativa no número de infectados mundialmente, de 239 milhões em 2010 para 214 milhões em 2015. Estima-se que 435.000 pessoas tenham morrido no mundo por causa da doença.
Aproximadamente 70% de todos os casos de malária e óbitos pela doença estão concentrados em 11 países, dos quais dez estão na África (Burkina Faso, Camarões, República Democrática do Congo, Gana, Mali, Moçambique, Níger, Nigéria, Uganda e República Unida da Tanzânia) — o outro é a Índia. No entanto, é válido ressaltar que a nação asiática apresentou uma redução nos casos da doença, em comparação com o período anterior.
O relatório ainda revelou que alguns países mostraram diminuição significativa (superior a 20%) em 2017 em relação ao ano anterior: Colômbia, República Dominicana, El Salvador, Guatemala, Honduras e Suriname. Por outro lado, seis países apresentaram aumento de mais de 20% no número de casos. São eles: Belize, Brasil, Costa Rica, Guiana Francesa, Nicarágua e Venezuela.
Apesar do aumento no número de casos e mortes por malária, o continente americano continua sendo o segundo a registrar menos mortes pela doença, ficando atrás apenas da Europa. Segundo a OMS, em toda a região há 138 milhões de pessoas com risco de contrair a doença. A entidade afirmou ainda que a América “continua realizando um significativo progresso” e 11 dos 17 países estão no caminho para conseguir a redução de mais de 40% da taxa de incidência até 2020.
Países livres da doença
O número de países que estão próximos de eliminar a doença continua a crescer: foram 46 em 2017, contra 37 em 2010. Este ano, o Paraguai recebeu o certificado de país livre de malária e outros três países — Argélia, Argentina e Uzbequistão — solicitaram a certificação da OMS. O documento só é obtido após o país não registrar nenhum caso da doença por três anos seguidos. Entre os países do continente americano, apenas El Salvador — localizado na América Central — relatou zero casos de malária; o mesmo foi registrado na China (Ásia).
Malária
A malária é uma doença causada pela infecção dos glóbulos vermelhos humanos por quatro espécies do parasita unicelular plasmodium: Plasmodium vivax, Plasmodium ovale, Plasmodium malarie e Plasmodium falciparum. Se não tratada, pode gerar complicações graves, principalmente se for transmitida pelo Plasmodium falciparum, responsável por 15% a 20% da malária diagnosticada no Brasil.
A malária tem cura e pode ser tratada desde que aconteça de forma adequada. Entre os sintomas estão: febre alta, calafrios, tremores, sudorese e dor de cabeça, que podem ocorrer de forma cíclica. Uma pessoa infectada pelo parasita também pode apresentar náuseas, vômitos, cansaço e falta de apetite antes das manifestações mais comuns. Em casos mais graves, podem manifestar sintomas como: prostração (fraqueza), alteração da consciência, dispneia ou hiperventilação, convulsões, hipotensão arterial ou choque, e hemorragias.
A maior incidência é na África, onde é causa de uma entre cinco mortes infantis. No Brasil, a maior incidência está na Região Amazônica, nos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
(Com EFE)