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Já é possível estimar a idade ‘recuperada’ após procedimentos cirúrgicos

Um mecanismo de inteligência artificial (IA), alimentado por algoritmos, foi capaz de fazer a análise

Por Matheus Deccache Atualizado em 9 jul 2021, 09h29 - Publicado em 9 jul 2021, 06h00

O Brasil é o recordista mundial de procedimentos estéticos. São no mínimo 1,5 milhão de cirurgias plásticas anuais e pelo menos 900 000 correções à base de aplicações de Botox, cremes e medicamentos sem a necessidade de corte. Está à frente dos Estados Unidos — e os dois países, juntos, abrigam 25% dos profissionais de todo o mundo. Desde a eclosão da pandemia, em março de 2020, a curva estatística cresceu. Houve um aumento de 7,5% em adaptações do corpo em relação ao ano anterior, com especial predileção pelos retoques no rosto, um salto de 13,5%, segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética. Explica-se: com o rosto em evidência no monitor, na tela do celular e nas áreas ressaltadas em volta da máscara sanitária, a maior procura (tanto de mulheres quanto de homens, aliás) tem sido por procedimentos nessa região. Estima-se que, nos consultórios brasileiros, a demanda pela cirurgia de remoção do excesso de pele tenha subido 50%. Nariz e orelhas também entraram no radar dos quarentenados desgostosos com a aparência.

Uma pergunta nunca se cala quando se trata de mudar a aparência, especialmente por meio de lifting facial: “Quão mais jovem eu estou?”. Os cirurgiões, é natural, sempre tiveram dificuldade para responder a essa questão incômoda. A novidade: um mecanismo de inteligência artificial (IA), alimentado por algoritmos, foi capaz de fazer um prognóstico da redução de idade aparente a partir de determinada intervenção. O estudo foi publicado na edição de julho da Plastic and Reconstructive Surgery, revista da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos. Desenvolvido pelo médico James Bradley, vice-­presidente de Cirurgia da Donald and Barbara Zucker School of Medicine, em Nova York, o recurso analisa fotos padronizadas do paciente tiradas antes e pelo menos um ano depois dos procedimentos estéticos, traçando uma estimativa de quantos anos foram “recuperados” no processo. “Ao trabalhar em conjuntos de dados contendo milhões de imagens públicas, a IA pode aprender a discernir características faciais com muito mais acuidade e sucesso do que uma pessoa normal”, diz Bradley.

Nos testes, a IA foi capaz de acertar com 100% de eficácia a idade anterior ao processo de lifting de cinquenta pacientes com média de idade de 58 anos. Já na análise de fotografias pós-­lifting, o programa apontou redução etária de três a quatro anos dos pacientes, que diziam aparentar seis a sete anos menos. Ou seja, a máquina foi um tantinho mais pessimista do que os humanos. “As estimativas, é natural, acabam gerando inquietudes, mas não há dúvida de que ajudarão os cirurgiões plásticos ao inaugurar uma nova era”, diz Dênis Calazans, presidente da Sociedade Brasileira Cirurgia Plástica.

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Há imenso interesse em torno da novidade porque, na luta para segurar os ponteiros do relógio, as cirurgias faciais aparecem no topo das preferências. A blefaroplastia, intervenção na região das pálpebras responsável por rejuvenescer ao redor dos olhos, é uma das mais requisitadas. Em seguida aparece a rinoplastia, que promete um nariz mais proporcional e harmonizado. Por fim, o lifting facial, que oferece uma série de melhorias, como redução da papada, o fim do temido “bigode chinês” e o sumiço das rugas na região da testa (veja na imagem abaixo as técnicas mais cobiçadas).

A possibilidade de, digamos, prever o futuro da pele é um passo extraordinário, já comparado ao espantoso salto dado pela medicina durante a I Guerra Mundial. Das feridas dos combates, o neozelandês radicado na Inglaterra Harold Gillies (1882-1960) revolucionou sua atividade ao tratar dos soldados feridos que tiveram o rosto desfigurado e dar a eles o mínimo de dignidade. Utilizando-se de tecidos de outras partes do corpo, como braços e troncos, de modo a amenizar a aparência dos traumas, o médico virou referência e se tornou o pai da cirurgia plástica moderna. De lá para cá, em mais de 100 anos de uma aventura vitoriosa, com o recente uso das toxinas botulínicas, mulheres e homens acharam ser possível entrar na estrada da eterna juventude. É uma quimera inalcançável, mas que move a humanidade. Agora, com a IA, será possível nos ver no espelho, ou na pintura congelada pelo tempo do Dorian Gray de Oscar Wilde, para saber como seremos vistos — ou como desejamos ser vistos.

Publicado em VEJA de 14 de julho de 2021, edição nº 2746

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