De acordo com pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde, um em cada quatro homens que tem relações sexuais com homens no município de São Paulo é portador do vírus HIV.
Os resultados da pesquisa, realizada em outras doze cidades brasileiras, foram publicados na revista Medicine e revelaram que metade dos participantes foi submetido ao teste pela primeira vez na vida. Outro dado apontou que, dos quase 4.000 entrevistados que aceitaram fazer o teste do HIV, 18,4% receberam resultados positivos para a contaminação pelo vírus.
Segundo o ministério, na população geral, a prevalência do HIV é de 0,4%. Os dados da pesquisa revelaram que, entre os homens entrevistados, 83,1% se declaram gays, 12,9% heterossexuais ou bissexuais e 4% outros. Do total de participantes, 75% fazem sexo apenas com homens.
Campanhas de prevenção
Para Lígia Kerr, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), que coordenou duas pesquisas anteriores (2009 e 2011), existem diversos fatores que explicam o aumento da prevalência do HIV entre homens que transam com homens, fenômeno visto também em países da Europa e nos EUA.
Segundo ela, no Brasil, um dos principais motivos é a diminuição no número de campanhas preventivas. Muitas ONGs que faziam ações preventivas voltadas para o público gay foram fechadas por falta de dinheiro e as campanhas públicas sofreram redução por causa do conservadorismo político. “Foi uma pressão muito grande da bancada conservadora que a gente chama de bala, boi e bíblia. Cartilhas que falavam sobre sexualidade e que já estavam impressas foram proibidas de ser distribuídas nas escolas. Foram proibidas propagandas de TV. É como se a aids tivesse desaparecido’, disse ela à Folha de S. Paulo.
O crescimento pode ser explicado também pela queda no uso da camisinha, assim como pelas mudanças no comportamento sexual estimuladas por aplicativos de namoro, que permitem a possibilidade de um número maior de parceiros, com os quais, na maioria das vezes, as pessoas fazem sexo sem proteção.
Jovens e HIV
A pesquisa apontou que na faixa etária entre 15 e 19 anos, a taxa de soropositivos triplicou: de 2,4 subiu para 6,7 casos por 10 mil habitantes. Entre 20 e 24 anos, o índice foi de 15,9 para 33,1 casos por 100 mil habitantes. Segundo informações do Ministério da Saúde, apenas 56,6% dos jovens entre 15 e 24 anos usam preservativo com parceiros ocasionais.
A elevação no número de casos do HIV entre a população mais jovens se deve ao fato de que eles estão iniciando a vida sexual sem orientações a respeito da aids. Além disso, muitos jovens tendem a acreditar que a contaminação está bem distante de suas realidades e, por isso, não se previnem nem procuram ajuda médica quando são infectados.
Para especialistas, é necessário reinventar a educação sexual para as novas gerações, especialmente nas campanhas de prevenção da aids. “Aquela história de falar ‘use camisinha e faça o teste’, não funciona mais. São novos modos de vida, de espaços de sociabilidade e de acordos de identidade. Antes havia uma adesão maior a recomendações comunitárias. Agora faz parte das novas gerações uma individualização das normas”, comentou Mario Scheffer, professor do departamento de saúde preventiva da Universidade de São Paulo (USP), à Folha.
De acordo com ele, para alcançar o maior número de pessoas é preciso criar estratégias especificas para cada público, especialmente porque existem grupos distintos, que pensam e agem de maneiras diferentes.
Prevenção da Aids
Segundo Gerson Pereira, diretor substituto do departamento de vigilância, prevenção e controle das infecções sexualmente transmissíveis, do HIV/aids e das hepatites virais do Ministério da Saúde, ações educativas sobre sexualidade estão sendo desenvolvidas em parceria com o Ministério da Educação (MEC). Ele afirmou ainda que o ministério promove campanhas de prevenção à Aids direcionadas aos jovens, especialmente nas mídias sociais, sites de relacionamentos e aplicativos de paquera.
O governo federal ainda conta com medidas de prevenção da aids para populações mais vulneráveis, como a oferta de camisinhas e de medicamento de profilaxia pós-exposição (que previne a contaminação pelo HIV), assim como remédios de profilaxia pós-exposição, utilizados depois que a infecção acontece.