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Guta Stresser, sobre esclerose múltipla: “Cada dia é uma vitória”

A atriz de 49 anos conta como luta para seguir trabalhando

Por Ricardo Ferraz Atualizado em 13 jul 2022, 17h07 - Publicado em 18 jun 2022, 08h00
Guta Stresser -
Guta Stresser – (Rafa Scremin/.)

Trabalhar como atriz significa, literalmente, colocar o corpo a serviço do ofício. É preciso ter controle absoluto dos movimentos, gestos, expressões e emoções para construir um personagem. É um trabalho que depende ainda da capacidade de memorizar o texto e as marcações de câmera, ou de palco, determinadas pelo diretor. Foi com estranhamento e angústia que percebi que algumas dessas habilidades começaram a falhar no meu dia a dia. Tudo teve início em 2020, quando estava participando da Dança dos Famosos, no programa do Faustão. Parecia tudo normal até que, durante os ensaios, eu passava a coreografia e, quando terminava, não lembrava de mais nada, nada mesmo. Não entendia o motivo, sempre tive facilidade para essas coisas. Com esforço, porém, consegui avançar na competição e não dei mais muita atenção para aqueles lapsos.

Mas meu quadro foi se agravando. Comecei a esquecer palavras bem básicas, como copo e cadeira. Se ficava duas horas parada assistindo a um filme na TV, logo sentia dores musculares. Tinha formigamentos frequentes nos pés e nas mãos, enxaquecas fortíssimas e variações de humor. O pior era um zumbido constante no ouvido. Parecia que havia ali um fio desencapado, provocando um curto-circuito na minha cabeça — algo como “tzuin, tzuin”. Cheguei a pensar que poderia ser Covid-19 ou sintomas relacionados à menopausa, já que estou entrando nessa fase. E aí levei um tombo na sala de casa que me acendeu um alerta. Resolvi procurar um otorrinolaringologista, achando que o problema poderia se resumir a uma questão de equilíbrio. Em princípio, ele disse que estava tudo certo, mas insisti para realizar uma ressonância magnética. Feito o exame, recebi enfim o diagnóstico: esclerose múltipla.

Perdi o chão na mesma hora. Nem sabia direito o que era aquilo, só que afetava o cérebro, e só isso me soou aterrorizante. O médico explicou que se trata de uma doença autoimune em que o próprio corpo ataca a mielina — a capa de gordura que reveste os neurônios e ajuda nas conexões da mente. Os especialistas não sabem por que esse processo é desencadeado. O que está comprovado é que atinge os movimentos e a fala. Tive muito medo. Pela minha cabeça se desenrolava um filme em que eu ficava completamente incapacitada. Passei a ter um pesadelo recorrente: imóvel, sem conseguir falar, tentava avisar meu companheiro que, apesar do corpo comprometido, meu raciocínio estava lá, preservado. Desesperador. Mas, com a ajuda do neurologista, entendi que diagnóstico não é sentença e que, apesar da doença não ter cura, ela tem, sim, tratamento.

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O primeiro passo foi tomar um remédio caríssimo, que só consigo obter graças ao Sistema Único de Saúde, ao qual sou, aliás, bastante grata. O medicamento me mantém equilibrada, sem crises. Também passei a cuidar mais de mim. Hoje pratico ioga, mudei a alimentação para melhor e faço todo tipo de exercício para o cérebro — de leitura de livros a palavras cruzadas. Mais recentemente, incluí no tratamento óleo de CBD, um derivado de maconha que é felizmente legalizado e tem se revelado promissor. Depois do diagnóstico, refiz a ressonância magnética e os resultados foram muito bons, indicando um quadro estável. Desde os 13 anos, me entendo como atriz. Não posso me render de jeito nenhum. Participei de um dos episódios da série How to Be a Carioca, que vai estrear pela Star+, e fiz uma montagem da peça O Casamento, de Nelson Rodrigues. Sei que vou ter de conviver com a esclerose múltipla para o resto da vida. Que ela seja longa e plena. Cada dia que passa tem aquele gosto de uma pequena vitória.

Guta Stresser em depoimento dado a Ricardo Ferraz

Publicado em VEJA de 22 de junho de 2022, edição nº 2794

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