O paracetamol é a escolha de muitas pessoas quando a dor de cabeça chega. No entanto, para as mulheres grávidas, tomar o medicamento pode trazer vários riscos para a saúde do bebê, incluindo maior probabilidade de autismo, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e redução de quociente de inteligência — mais conhecido como QI. Uma revisão de estudos publicada recentemente na revista Hormones and Behavior sugeriu que esse resultado pode estar ligado ao fato de que o paracetamol altera o equilíbrio hormonal no útero.
Uma das pesquisas analisadas mostrou que o consumo do paracetamol — também chamado de acetaminofeno (APAP) — pode elevar o risco de atraso na fala. A quantidade consumida e o sexo da criança são outros fatores que contribuem para o surgimento do distúrbio: gestantes que tomam paracetamol mais de seis vezes durante a gravidez estão mais propensas a ter filhas com vocabulário limitado. Apesar da descoberta, os pesquisadores não foram capazes de determinar por que o risco é diferente para meninos e meninas.
“A exposição à APAP é tão comum que mesmo as implicações de saúde pública de nível modesto para o desenvolvimento neurológico são substanciais”, alertou Ann Z. Bauer, que liderou o estudo, ao Daily Mail. Os pesquisadores americanos revisaram nove estudos, investigando no total 150.000 mães e bebês.
Riscos neurológicos
Um estudo realizado pela Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, analisou 132.738 pares de mães e filhos durante três a 11 anos e descobriu que o paracetamol pode aumentar em até 30% o risco de TDAH, caracterizada pela desatenção, impulsividade e inquietude; essa condição surge na infância e acompanha o indivíduo pelo restante da vida. O autismo é outro risco do medicamento durante a gestação, chegando a 20%.
“Nossas descobertas sugerem uma associação entre o uso prolongado de acetaminofeno e um aumento no risco de autismo e TDAH”, disse Ilan Matok, principal autor do estudo, ao Daily Mail. Outra pesquisa encontrou uma queda de três pontos no QI em crianças de cinco anos cujas mães haviam tomado paracetamol para alívio da dor sem febre.
Consumo de paracetamol
De acordo com o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), o 65% das gestantes nos Estados Unidos usam paracetamol durante a gravidez. Na Europa, esse percentual menor: 50%, afirmaram os pesquisadores. Por causa disso, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) orienta que se as mulheres realmente necessitem do paracetamol (ou qualquer outro medicamento), ele deve ser ingerido na menor dose efetiva e com a menor frequência possível.
“A duração mais longa do uso de APAP foi associada ao aumento do risco (de problemas neurológicos). As mulheres grávidas devem ser advertidas contra o uso indiscriminado deste medicamento”, alertaram os pesquisadores americanos. Mesmo com as descobertas reveladas recentemente, muitos médicos ainda consideram o medicamento seguro para ser utilizado durante a gestação, pois a febre também pode ser perigosa para as mães e seus bebês.
As equipes de pesquisa ressaltaram que, como determinadas pesquisas podem ser arriscadas, as gestantes são excluídas da lista de participantes, o que prejudica o melhor entendimento dos efeitos de algumas medicações na saúde do bebê.