Exercícios ao ar livre trazem mais benefícios que em lugares fechados
Pesquisa mostra que fazer ginástica em recintos fechados nem de longe traz os ganhos físicos e mentais das atividades executadas lá fora
Durante boa parte da pandemia, a prática de exercícios físicos se restringiu basicamente à sala, à varanda ou ao quintal. Melhor do que ficar parado, é verdade, mas muito do estímulo para treinar e o prazer sentido depois se perderam nos longos períodos nos quais foi preciso contar apenas com a própria companhia e uma boa rede de internet. No entanto, não foi somente a angústia daqueles dias a responsável pela transformação gradual da atividade em algo maçante até mesmo para os adeptos fiéis. Sabe-se que um dos fatores para maior adesão aos treinos é a socialização, impossível diante da obediência às medidas de isolamento impostas. Agora, um novo estudo traz à luz um bom motivo pelo qual foi tão fácil abandonar os exercícios entre quatro paredes depois de tanto tempo tentando achar disciplina e vontade para mais uma sessão à frente da tevê. De acordo com uma pesquisa realizada por três universidades espanholas, fazer ginástica em recintos fechados nem de longe traz os benefícios físicos e mentais das atividades executadas ao ar livre. E, como tudo o que é bom, esse jeito de se exercitar alimenta um círculo virtuoso em que as sensações resultantes são tão aprazíveis que, quando se tenta de outro jeito, não é a mesma coisa.
O estudo, publicado no periódico científico Journal of Sports Science & Medicine, levou em conta a participação de praticantes da cidade de Granada, na Espanha, para comparar os efeitos de praticar atividades físicas dentro e fora de ambientes fechados. A análise das respostas foi feita com base nos resultados de exames de ressonância magnética cerebrais e de testes de estresse feitos com os participantes. Os cientistas concluíram que o estresse durante os exercícios era menor naqueles que optaram pela prática ao ar livre. Nos exames de imagem, por exemplo, quando em contato com imagens da natureza, os voluntários apresentaram atividade intensa de áreas do cérebro envolvidas no sistema de recompensa e prazer, disparando uma cadeia de efeitos bioquímicos que atenuam a ansiedade e asseguram melhora geral de humor.
Além disso, a pesquisa indica que ambientes externos estimulam o estado mental de relaxamento e a maior emissão das ondas cerebrais alfa, ligadas à redução de sintomas da depressão. O efeito positivo é tão notável que, de acordo com o estudo, vantagens são percebidas até mesmo quando o espaço externo é observado através de uma janela. Outros trabalhos apontaram que se exercitar em parques, ruas tranquilas e praças pode resultar em uma queima de calorias 10% maior do que dentro de academias ou em casa. Uma hipótese para explicar o fato seria a de que, a céu aberto, é mais fácil distrair-se com o que está ao redor em vez de focar a atenção no cansaço ou na dor na hora da execução dos movimentos. Dessa forma, fica tranquilo finalizar as séries ou o tempo estipulado de corrida.
As modalidades mais comuns de serem vistas sendo praticadas ao ar livre são caminhadas, corridas e ciclismo. Contudo, muitas outras podem ser adaptadas para a prática fora de casa. “Não há contraindicação sobre o que deve ou não ser praticado em locais abertos”, explica Cláudia Forjaz, professora do Departamento de Biodinâmica da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo. “É possível fazer quase todo tipo de ginástica e de esporte”, diz. É claro que se deve evitar lugares barulhentos e poluídos e prestar atenção às condições de segurança do lugar ou do trajeto a ser seguido. Quem corre ou caminha, por exemplo, pode estar sujeito a torções ou fraturas dependendo do tipo de solo que percorre, assim como os que pedalam precisam escolher os percursos menos disputados com carros e pedestres. Há vida lá fora.
Publicado em VEJA de 23 de fevereiro de 2022, edição nº 2777