Recentemente, a ciência avançou na compreensão e tratamento do câncer com uma descoberta promissora: o sequenciamento completo do DNA humano, que mostrou que a doença se desenvolve a partir de alterações genéticas – hereditárias ou adquiridas – que levam à multiplicação desordenada das células e à consequente formação de tumores. Assim, passou a ser possível identificar os alvos para o tratamento e o consequente desenvolvimento de novas drogas por meio da medicina de precisão.
Agora, um novo estudo feito por cientistas de várias universidades ao redor do mundo, entre elas a Washington University School of Medicine em St. Louis, o Broad Institute of MIT e Harvard, e a Brigham Young University, pode abrir novas frentes de pesquisas com a conclusão de uma análise profunda das proteínas que impulsionam o câncer, e que não podem ser analisadas apenas pelo sequenciamento genômico.
“Compreender como as proteínas operam nas células cancerígenas aumenta a perspectiva de novas terapias que teriam como foco bloquear essas proteínas ou desencadear respostas imunológicas a proteínas criadas por células cancerosas”, diz o oncologista Carlos Gil Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e do Instituto Oncoclínicas.
As descobertas foram publicadas nas revistas Cell e Cancer Cell. “Em nossos esforços para desenvolver melhores terapias contra o câncer, essa análise das proteínas que impulsionam o crescimento do tumor é a próxima etapa após o sequenciamento do genoma do câncer”, disse Li Ding, Li Ding, professor de Medicina na Washington University e autor do novo estudo, que investiga as principais proteínas que conduzem ao câncer e como elas são reguladas.
“Por meio de nosso trabalho anterior de sequenciamento dos genomas das células cancerosas, identificamos quase 300 genes que impulsionam o câncer. Agora, estamos estudando os detalhes do maquinário que esses genes do câncer colocam em movimento – as proteínas e suas redes reguladoras que realmente fazem o trabalho de causar a divisão celular descontrolada”, explica o pesquisador.
No levantamento, foram analisadas cerca de dez mil proteínas envolvidas em dez tipos diferentes de câncer, sendo que algumas não poderiam ter sido identificadas se os tipos de tumor tivessem sido estudados individualmente. A análise incluiu dois tipos diferentes de câncer de pulmão, além de cânceres colorretal, de ovário, de rim, de cabeça e pescoço, de útero, de pâncreas, de mama e de cérebro.
“Muitas dessas proteínas que causam câncer são encontradas em vários tipos de tumores, mas em baixa frequência”, afirmou Ding. “Quando analisamos vários tipos de câncer juntos, aumentamos o poder de detectar proteínas importantes que estão causando o crescimento e a disseminação do câncer. Uma análise combinada também nos permite identificar os principais mecanismos comuns que impulsionam os cânceres em todos os tipos”, completou.
Eficácia da Imunoterapia
A pesquisa também mostra a eficácia das imunoterapias, que geralmente funcionam melhor em cânceres com muitas mutações, mas não em todos os pacientes. Os pesquisadores descobriram que o grande número de mutações nem sempre resulta em uma abundância de proteínas anormais, alvos do sistema imunológico ao atacar um tumor, o que pode ser uma explicação alguns pacientes não responderem ao tratamento. “Essa nova frente de estudos pode ajudar a esclarecer muitas dúvidas que ainda pairam sobre como o câncer se desenvolve e porque alguns pacientes não respondem a tratamentos”, concluiu Gil Ferreira.