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Especialistas contestam estudos que não viram benefícios na cloroquina

Um grupo de 37 pesquisadores brasileiros e internacionais divulga carta aberta afirmando que houve erro de interpretação dos testes estatísticos

Por Adriana Dias Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 ago 2020, 12h26 - Publicado em 22 ago 2020, 11h49

Um grupo formado por 37 especialistas brasileiros, americanos e ingleses divulgará neste sábado, 22, uma carta aberta para contestar as conclusões dos ensaios clínicos publicados em importantes revistas científicas sobre o tratamento precoce da Covid-19 com a hidroxicloroquina.

Liderada por Marcio Watanabe, professor do departamento de Estatística da Universidade Federal Fluminense, a equipe que redigiu o documento traz estatísticos, matemáticos e médicos, provenientes de instituições como Universidade de São Paulo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Pernambuco, Universidade de Chicago, Universidade de Paris e Universidade de Oxford.

Os trabalhos criticados envolveram periódicos renomados: Annals of Internal Medicine, Clinical Infectious Diseases e New England Journal of Medicine. Esses estudos testaram o uso da hidroxicloroquina em adultos com Covid-19 em fase inicial da doença (não hospitalizados, portanto) e concluíram que não foi observado benefício no uso da medicação entre os pacientes. Diz Watanabe: “Vimos limitações nas interpretações dos dados, que acabaram interferindo negativamente nas conclusões relacionadas aos sintomas”.

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De acordo com os autores da carta, os dados dos ensaios randomizados sobre tratamento precoce em pacientes não hospitalizados publicados até agora mostram, na verdade, efeitos favoráveis nos grupos que receberam a terapia, principalmente nos pacientes de maior risco, como os idosos, onde a ação foi até três vezes maior do que nos jovens. Mas como a maioria das amostras era formada por jovens sem comorbidades, os estudos seriam estatisticamente inconclusivos,  e, portanto, haveria ainda uma incerteza razoável sobre os resultados. Segundo eles, em vez de os trabalhos reportarem isso, afirmam que o tratamento não teve nenhum efeito comparado ao placebo. “Esse erro de interpretação nos testes estatísticos é muito conhecido e explicado na maioria dos livros de graduação da área”, afirma Watanabe. “Um artigo publicado na Nature no ano passado afirma que cerca de 51% dos trabalhos sobre ensaios clínicos com esse tipo de resultado apresentam conclusões incorretas.”

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Outras observações não teriam sido feitas, como em relação ao tempo transcorrido entre a infecção e o início do tratamento. No estudo da New England, por exemplo, os resultados foram gerais, misturando todos os pacientes e calculando a média. Na análise dos autores da carta, se a hidroxicloroquina for administrada no dia da exposição ao vírus, por exemplo, a redução de pessoas com sintomas poderia ser de até 72%, mas o efeito diminuiria quanto mais tempo levar para se iniciar o tratamento. “Não estamos dizendo que a medicação é a cura da doença. Queremos que os estudos retifiquem suas conclusões, indicando com precisão os efeitos positivos que a hidroxicloroquina apresentou nos dados, nem mais nem menos”, diz Cláudia Paiva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Os autores da carta aberta estudam diversas questões relacionadas ao novo coronavírus desde o início dos primeiros casos no mundo. O interesse pela hidroxicloroquina surgiu mais recentemente, com a grande polêmica em torno do remédio. “A triste politização desse medicamento fez com que fossem criados obstáculos incomuns na ciência”, diz Flavio Abdenur, matemático pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada.

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