Entenda como a restrição de sono afeta a saúde das crianças
Estudo mostrou relação entre noites mal dormidas e desenvolvimento de doenças inflamatórias; veja tempo adequado de descanso por faixa etária

O sono é um indicador de saúde e a ciência tem demonstrado o conjunto de benefícios que uma noite bem dormida é capaz de proporcionar. A importância se tornou tão expressiva que, no ano passado, o descanso noturno entrou para a lista Life’s Essencial 8, da Associação Americana do Coração, que elenca fatores fundamentais para preservar ou melhorar a saúde do coração e do cérebro. Isso também vale para crianças. Um grupo de pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) divulgou um estudo estabelecendo a relação entre a restrição de sono e o risco de desenvolvimento de doenças inflamatórias na população de 5 a 7 anos.
Os cientistas avaliaram o tempo de sono e o perfil inflamatório – medido pela circunferência da cintura – de 199 crianças de São Paulo e de Fortaleza, tanto de escolas públicas quanto de particulares.
Para analisar o período adequado de descanso, a equipe usou como referência a tabela por faixa etária (veja abaixo) da entidade norte-americana National Sleep Foundation (NSF). A coleta de dados foi realizada entre setembro de 2019 e março de 2020.
Um questionário foi utilizado para mapear os padrões de sono das crianças, que usaram um aparelho que mede repouso e movimento, chamado acelerômetro, durante 24 horas pelo período de sete dias. De acordo com a tabela da NSF, a faixa dos 3 aos 5 anos deve dormir de dez a 13 horas. Entre 6 e 13 anos, a recomendação é de nove a 11 horas de sono. Dormir entre oito e 12 horas já seria adequado para a faixa estudada, segundo os pesquisadores.
Também foram monitorados os valores de proteína C-Reativa (PCR) em exames de sangue. Os resultados apontaram um índice de 1 mg/L (um miligrama por litro), acima do valor de referência (abaixo de 0,3mg/L).
Dessa forma, foi possível estabelecer a associação entre o tempo de sono (medido pelo acelerômetro) e o perfil inflamatório (indicado pelo exame de PCR), fatores mediados pela circunferência da cintura, que, quando acima de 59 centímetros em crianças, tem relação com fatores de risco para problemas cardiovasculares.
O estudo mostrou que os pequenos voluntários tinham, em média, 5,72 horas de tempo de sono (abaixo do indicado para a faixa etária) e 59,61 centímetros de cintura.
Com base nesses marcadores e em pesquisas prévias sobre o tema, o grupo sugere que crianças que dormem menos de seis horas por noite são mais propensas a desenvolver obesidade, problemas cognitivos e comportamentais, além de apresentar doenças inflamatórias.
“A interrupção do ciclo natural do sono é interpretada pelo organismo como um estresse, que passa a emitir sinais para a produção de marcadores inflamatórios, tais como a proteína C-Reativa, como resposta ao estresse gerado pela privação de sono”, explica Vanessa Cássia Medeiros de Oliveira, nutricionista e autora da pesquisa em entrevista ao Jornal da USP.
O orientador do trabalho, Augusto César de Moraes, acrescenta que os resultados demonstraram que mais da metade das crianças dormem menos que o recomendado para a idade.
“Esse dado é preocupante. Se a noite é mal dormida, o corpo não descansa, e, para as crianças, isso pode ter efeitos nocivos na concentração, no desempenho escolar e na aprendizagem.”
Faixas etárias e horas de sono recomendadas
- 0-3 meses: 14 a 17 horas
- 4-11 meses: 12 a 15 horas
- 1-2 anos: 11 a 14 horas
- 3-5 anos: 10 a 13 horas
- 6-13 anos: 9 a 11 horas
- 14-17 anos: 8 a 10 horas
- 18-25 anos: 7 a 9 horas
- 26-64 anos: 7 a 9 horas
- 65 anos ou mais: 7 a 8 horas