Energéticos: como eles podem afetar a saúde
O governo do Reino Unido estuda medidas que visam a criminalizar a venda do produto para menores de 18 anos
Os energéticos são bebidas que estimulam o metabolismo e garantem melhorar o desempenho, aumentar a energia e deixar as pessoas mais alertas. Esse tipo de bebida é muito popular entre adolescentes – especialmente aqueles em ano de vestibular e precisam se manter despertos por mais tempo – e jovens adultos, que podem misturá-los a bebidas alcoólicas para potencializar os efeitos. No entanto, o alto consumo de energéticos podem trazer consequências para a saúde a longo prazo.
Altos níveis de cafeína
Em um editorial publicado no periódico científico British Medical Journal, Russell Viner, presidente do Royal College de Pediatria e Saúde da Infância, afirma que um dos principais componentes dos energéticos é a cafeína, que aumenta os níveis de atenção e consciência. A substância traz prejuízos para o corpo, principalmente de crianças e adolescentes, pois eleva os níveis de ansiedade, reduz o sono – importante para a recuperação do organismo – e está ligada a problemas comportamentais em crianças. Uma lata pode conter pelo menos 320 miligramas por livro (mg/L); uma xícara de café tem entre 60 e 120 miligramas.
A cafeína leva mais tempo para ser eliminada do corpo em crianças e adolescentes em comparação aos adultos. Como resultado, essas bebidas podem levar a dores de cabeça, problemas comportamentais, insônia e problemas de ansiedade em grupos etários mais jovens.
“Os energéticos são altamente comercializadas para adolescentes de maneiras que encorajam comportamentos de risco, incluindo consumo rápido e excessivo. Como resultado, as visitas de emergência por causa dessas bebidas estão aumentando”, disse Jennifer L. Harris, da Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, à Reuters. A bebida também é ácida, com nível de PH semelhante aos do suco de limão ou vinagre, criando um ambiente ácido na boca, o que pode prejudicar a saúde dentária.
Todos esses efeitos são prejudiciais para o sistema digestivo. “A acidez e os altos níveis de cafeína têm um efeito irritante no esôfago, então, se você está propenso a úlceras do estômago ou gastrite – uma inflamação do estômago -, isso pode piorar”, esclareceu Stuart Farrimond, escritor médico e científico, ao The Telegraph.
Altos níveis de açúcar
Além disso, as bebidas energéticas causam rápido aumento nos níveis de açúcar no sangue uma vez que não contêm fibra, que ajuda a reduzir as taxas de açúcar e gordura no organismo. Essa reação oferece sérios riscos de provocar obesidade, diabetes tipo 2, cárie dentária e inflamação. Especialistas estimam que algumas bebidas podem ter cerca de 50 gramas de açúcar por lata. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a ingestão diária não ultrapasse as 25 gramas (seis colheres de chá).
O corpo também pode apresentar hipoglicemia reativa, que acontece quando os níveis de açúcar no sangue ficam abaixo do normal. “Dentro de uma hora, seu fígado começa a tratar a cafeína como um veneno e tenta eliminá-la, e é por isso que essas bebidas têm um efeito diurético — que pode levar à desidratação. Entre noventa minutos e duas horas depois o consumidor pode ter ainda hipoglicemia reativa”, esclareceu Emer Delaney, da British Dietetic Association, ao The Telegraph.
Efeitos no cérebro
Quando misturados com bebida alcoólica, os energéticos podem ser ainda mais perigosos, pois desativam mecanismos cerebrais capazes de controlar impulsos; sem eles, o ser humano se torna mais propenso a perder o controle e assumir riscos desnecessários.
“A desconexão entre o que você sente e como você age é o problema aqui. A estimulação pode não ser uma coisa boa quando você está bebendo, já que você pode beber por muito mais tempo do que pretendia”, explicou Cecile Marczinski, psicóloga da Northern Kentucky University, nos Estados Unidos, ao Medical News Today.
Efeitos no coração
Estudo publicado no ano passado no Journal of American Heart Association descobriu que os energéticos também podem prejudicar o funcionamento do coração. Os pesquisadores revelaram que os participantes que consumiram as bebidas apresentaram maior intervalo de QT – tempo que os ventrículos levam para se preparar para uma nova batida (contração cardíaca).
Essas irregularidades (no caso dos participantes foi de 10 milissegundos) podem levar a batimentos cardíacos anormais ou arritmia. Especialistas informam que alguns medicamentos afetam os intervalos em seis milissegundos e, por causa disso, precisam alertar os pacientes. No entanto, os energéticos testados não notificaram os consumidores da possibilidade.
Além disso, a equipe da Força Aérea dos Estados Unidos, que realizou a pesquisa, percebeu que a pressão sanguínea aumenta em 5 pontos após a ingestão da bebida, permanecendo assim por cerca de seis horas. “Isso sugere que outros ingredientes além da cafeína podem ter alguns efeitos de alteração da pressão arterial”, escreveu Emily A. Fletcher, líder da pesquisa, no estudo. Entretanto, ela acrescentou que mais pesquisas são necessárias para confirmar os resultados.
Por causa dos efeitos negativos sobre o corpo, desde o mês passado, o governo do Reino Unido estuda medidas que visam a criminalizar a venda de bebidas energéticas para menores de 18 anos.