Em decisão polêmica, EUA apontam ligação entre paracetamol na gravidez e autismo
Decisão considerou estudos que apontam associação, mas agência regulatória destaca que relação causal não foi estabelecida; outros remédios impactam feto
Após ter antecipado que faria um anúncio sobre episódios de autismo nesta segunda-feira, 22, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump se pronunciou sobre uma “possível associação” entre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o uso de paracetamol durante a gravidez. A declaração foi endossada em comunicado pelo secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (HHS, na sigla em inglês), Robert F. Kennedy Jr., e por uma nota oficial da agência regulatória do país, a FDA. A medida é vista como polêmica e controversa, tendo em vista que a condição tem base genética em até 80% dos casos.
As informações foram apresentadas por Trump e Kennedy Jr. como “decisivas” para o que foi chamado de combate à epidemia de autismo.
“Hoje, estamos tomando medidas decisivas — abrindo as portas para o primeiro caminho de tratamento reconhecido pela FDA, informando médicos e famílias sobre os riscos potenciais e investindo em pesquisas inovadoras. Seguiremos a ciência, restauraremos a confiança e levaremos esperança a milhões de famílias americanas”, afirmou o secretário.
Ele se refere ao registro que atualizou a bula do medicamento leucovorina para deficiência cerebral de folato, que tem sido relacionada, segundo o órgão, ao transtorno. Com essa mudança, crianças que vivem no espectro poderão fazer o tratamento contínuo caso sejam demonstrados benefícios de linguagem e socialização, por exemplo. O TEA é uma neurodivergência que afeta o comportamento, comunicação e interações sociais, e que não tem cura.
No caso do paracetamol, foi anunciada a mudança na bula e uma campanha nacional com informações sobre “estudos clínicos e laboratoriais anteriores que sugerem uma possível associação entre o uso de paracetamol durante a gravidez e resultados adversos no desenvolvimento neurológico”.
O comunicado reconhece que outros estudos científicos não comprovaram a associação, destacando os riscos de episódios de febre não tratadas na gestação para a mãe e o bebê. “Dada a literatura conflitante e a falta de evidências causais claras, o HHS deseja incentivar os médicos a exercerem seu melhor julgamento no uso de paracetamol para febres e dores na gravidez, prescrevendo a menor dose eficaz pelo menor período de tempo quando o tratamento for necessário”, diz a nota.
Em seu comunicado, a FDA explicou que alguns estudos demonstraram que o risco se manifestou de forma mais pronunciada quando o medicamento foi tomado “cronicamente na gravidez” e que, embora tenha sido observada a associação, “uma relação causal não foi estabelecida e há estudos contrários na literatura científica”.
A agência destacou que o paracetamol é o único medicamento aprovado para o tratamento de febre na gravidez e que “aspirina e ibuprofeno têm efeitos adversos bem documentados no feto”.
O jornal The New York Times publicou uma declaração da porta-voz da Kenvue, fabricante do Tylenol (paracetamol), informando que discorda da associação e que “a ciência independente e sólida mostra claramente que tomar paracetamol não causa autismo”. A fala de Melissa Witt foi dada antes do anúncio feito por Trump e Kennedy Jr.
Especialistas contestam e repudiam declarações
Em reportagem publicada no periódico científico Nature, cientistas que estudam o autismo destacaram que não há evidências definitivas que comprovem o paracetamol utilizado por grávidas como uma causa do transtorno e que estudos que compararam mãe que tomaram a medicação e as que não tomaram durante a gestação encontraram mais episódios de autismo entre as voluntárias que se medicaram, mas a diferença era residual.
A entidade Autistas Brasil emitiu uma nota de repúdio e classificou as declarações de Trump e Kennedy Jr. como um “discurso eugenista”. “Trump e Kennedy não estão apenas equivocados quando falam que o autismo é causado pelo uso de Tylenol, não é meramente um erro, é um projeto político. Estão reintroduzindo no século XXI a lógica eugenista que trata pessoas com deficiência como tragédia. O autismo se torna um vilão a ser combatido, e pessoas autistas são reduzidas a sujeitos desumanizados numa cruzada moral em nome de uma sociedade ‘pura’ e homogênea, sem lugar para aqueles tidos como ‘diferentes’, ‘estranhos’, ‘deficientes’”, declarou, em nota, Arthur Ataide Ferreira Garcia, vice-presidente da Autistas Brasil.
Segundo ele, o aumento de casos está relacionado ao aumento de diagnósticos possível pelo maior acesso à avaliação, inclusive entre grupos mais vulneráveis, como mulheres e a população negra.
Garcia reforçou ainda que não há “evidência científica consistente que sustente a associação entre paracetamol, vacinas e autismo”.
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