Duelo de peso: saiba quem levou a melhor no estudo que comparou Mounjaro e Wegovy
Resultados finais de pesquisa que colocou frente à frente tirzepatida e semaglutida são apresentados em congresso internacional

Na disputa entre as duas estrelas da nova geração de medicamentos para a obesidade, a tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro, superou a semaglutida, base do Wegovy, em estudo que acaba de ser apresentado no Congresso Europeu de Obesidade, em Málaga, na Espanha.
Os resultados finais do ensaio clínico SURMOUNT-5, também publicados no prestigiado periódico The New England Journal of Medicine, revelam que a tirzepatida na dose de 15 mg bateu a semaglutida com 2,4 mg tanto em perda de peso como em redução de circunferência abdominal.
A molécula do Mounjaro proporcionou perda média de 20,2% do peso corporal ante 13,7% da substância do Wegovy. Este foi o primeiro estudo de grande porte a comparar, cabeça a cabeça, os dois tratamentos.
O trabalho, financiado pela Eli Lilly, fabricante da tirzepatida, avaliou a eficácia de seu produto diante da semaglutida, concorrente desenvolvida pelo laboratório Novo Nordisk, entre 751 voluntários dos Estados Unidos e de Porto Rico, sorteados para receber uma das medicações, além de orientações de estilo de vida, e acompanhados ao longo de 72 semanas.
Resultados finais
Segundo os dados recém-apresentados na Espanha, os pacientes em uso de tirzepatida perderam, em média, 22,8 kg, enquanto os que estavam em uso de semaglutida eliminaram cerca de 15 kg.
A tirzepatida superou a semaglutida em todas as metas de redução do peso. Mais de 60% das pessoas tratadas com o medicamento atingiram no mínimo 15% de perda de peso. No grupo da semaglutida, 40% chegaram a esse patamar.
No quesito circunferência abdominal – outro importante marcador da obesidade e de riscos à saúde -, os pacientes que tomaram Mounjaro enxugaram 18,4 centímetros na região da barriga, ante uma redução média de 13 cm entre aqueles que usaram Wegovy.
Recomenda-se que a circunferência abdominal das mulheres não supere 88 cm; a do homem não deveria passar de 102 cm.
A tabela abaixo resume os achados do estudo:
Tirzepatida | Semaglutida | |
Desfecho primário | ||
Percentual médio de perda de peso | -20.2% | -13.7% |
Desfecho secundário | ||
Perda de peso acima de ≥10% | 81.6% | 60.5% |
Perda de peso acima de ≥15% | 64.6% | 40.1% |
Perda de peso acima de ≥20% | 48.4% | 27.3% |
Perda de peso acima de ≥25% | 31.6% | 16.1% |
Redução da circunferência abdominal | -18.4 cm | -13.0 cm |
Em relação aos efeitos colaterais, as reações mais comuns de ambas as drogas foram relacionadas ao sistema gastrointestinal (náusea, vômito…) em intensidade leve ou moderada.
Apenas 6% dos pacientes que usaram tirzepatida descontinuaram o tratamento; no caso da semaglutida, 8% tiveram de abandonar a terapia.
Repercussões
O Mounjaro começou a ser comercializado neste mês de maio no Brasil. É o primeiro duplo agonista da história, imitando dois hormônios, o GLP-1 e o GIP, envolvidos no balanço energético.
Por ora, o medicamento à base de tirzepatida só é aprovado no Brasil para o controle do diabetes tipo 2. A Lilly aguarda aval para obesidade – autorização já concedida na Europa e nos EUA.
A semaglutida, por sua vez, emula o GLP-1 a fim de melhorar o controle glicêmico e apoiar a perda de peso. É aprovada no país para tratar diabetes (como Ozempic) e obesidade (Wegovy).
“O estudo traz uma luta de gigantes. Que bom termos opções farmacológicas tão eficazes no controle da obesidade”, comenta o endocrinologista Alexandre Hohl, diretor da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), que está acompanhando o congresso em Málaga.
“Vivemos uma grande revolução. A maioria dos pacientes tratados no estudo alcançou expressiva perda de peso, o que ajuda a mudar os fatores de risco metabólicos e a história natural de diversas doenças associadas à obesidade”, diz a endocrinologista Cynthia Valério, presidente eleita da Abeso, também presente no evento.
Posicionamento a pedido da Novo Nordisk
O cuidado com a obesidade vai além de simplesmente atingir um número na balança. Duas em cada três pessoas com obesidade irão morrer em decorrência de doenças cardiovasculares. O Wegovy® (semaglutida injetável 2,4 mg) é o único medicamento para obesidade da classe dos agonistas de GLP-1 aprovado para prevenir eventos cardiovasculares maiores, como morte cardiovascular, infarto e AVC.
O estudo SURMOUNT-5 apresenta limitações, por se tratar de um estudo aberto (open label). Os resultados do SURMOUNT não são consistentes com o que observamos nos estudos da série STEP e em estudos do mundo real. Temos evidências claras e consistentes de uma perda de peso média de 17%, com cerca de um terço dos pacientes perdendo 20% ou mais do peso corporal, tanto em nosso programa de estudos clínicos STEP quanto em evidências do mundo real.
O estudo SURMOUNT-5 comparou as doses máximas de tirzepatida (10 mg ou 15 mg) com semaglutida (1,7 mg ou 2,4 mg). Nesse estudo, a perda de peso com Wegovy® foi inferior ao que demonstramos no estudo STEP-1, que mostrou uma perda de peso média de aproximadamente 17%, com cerca de um terço dos pacientes perdendo 20% ou mais. Não está claro para nós como a metodologia utilizada por eles resultou em uma perda de peso inferior à indicada em nossos medicamentos aprovados.
A Novo Nordisk está estudando uma dose mais alta de Wegovy® (semaglutida injetável 7,2 mg) no estudo STEP UP, que apresentou uma perda de peso de 20,7%. Esses resultados preliminares também mostraram que um terço dos participantes perdeu pelo menos 25% do peso corporal, com um perfil de segurança favorável e boa tolerabilidade. A tolerabilidade gastrointestinal foi semelhante aos dados do STEP-1. A Novo Nordisk planeja solicitar aprovação junto à EMA na segunda metade de 2025. Os resultados preliminares do STEP UP foram anunciados em janeiro de 2025, e os resultados completos serão apresentados no congresso da American Diabetes Association (ADA), em junho de 2025.
A Novo Nordisk também anunciou resultados preliminares do estudo com CagriSema, que mostrou uma perda de peso média de 22,7% em pacientes com obesidade. A empresa pretende solicitar aprovação nos Estados Unidos no primeiro trimestre de 2026. Os resultados completos também serão apresentados no ADA, em junho deste ano.