Duas doses por ano de medicamento previnem 100% o HIV, diz estudo
Ensaio clínico foi realizado com mais de 5 mil mulheres africanas e, agora, deve ser testado em outras populações
Desde que o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) foi descoberto, em 1983, pesquisas buscam por uma vacina capaz de gerar imunidade contra esse patógeno. Por enquanto, isso ainda não foi alcançado, mas os métodos de profilaxia têm atingido resultados surpreendentes: um deles, recém testado em estudos clínicos, se mostrou 100% capaz de prevenir a infecção com apenas duas doses por ano.
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Chamado de lenacapavir, o medicamento antirretroviral já é aprovado nos Estados Unidos, no Canadá e em países europeus para o tratamento de formas do vírus resistentes às drogas mais convencionais. Agora, no entanto, o estudo mostra que o uso também pode ser efetivo na chamada profilaxia pré-exposição (PrEP), ou seja, para evitar que grupos mais suscetíveis contraiam o vírus.
Hoje, esse tipo de prevenção já ocorre em boa parte do mundo, inclusive no Brasil. Ele é baseado na administração de um comprimido por dia, composto por uma combinação de tenofovir e entricitabina. Esse foi um método que revolucionou a abordagem dessa epidemia, somado ao uso da camisinha. Apesar da sua alta efetividade em prevenir novos casos, ainda há uma dificuldade em promover uma boa aderência dos usuários, o que faz com que especialistas continuem buscando alternativas.
O que mostra o novo estudo?
O estudo mais recente, chamado PURPOSE 1, abre a possibilidade de uma PrEP de mais fácil adesão e, portanto, ainda mais eficaz. “Um dos meus pesquisadores coloca isso lindamente: é uma decisão diária que você tem que tomar, ‘vou tomar essa pílula e me proteger’”, diz Linda-Gail Bekker, responsável pelo estudo, ao britânico The Guardian. “Se você toma uma injeção semestral, só precisa tomar essa decisão duas vezes por ano.”
De acordo com o artigo científico publicado no The New England Journal of Medicine, 5338 mulheres de 16 a 25 anos participaram do estudo clínico (duplo cego e randomizado, como preconizam as melhores práticas), em Uganda e na África do Sul. Enquanto cerca de 1,5% das participantes que receberam o PrEP convencional foram infectadas, nenhuma das que testou a nova droga, administrada de maneira subcutânea, uma vez por semestre, contraiu o vírus.
Agora, a mesma investigação está sendo feita em outras populações para avaliar se a eficácia se mantém. Ainda assim, os resultados surpreenderam a comunidade científica, especialmente após a aclamada apresentação dos resultados na Conferência Internacional sobre Aids. “Imagine que você tivesse uma vacina que fosse 100% eficaz em mulheres cisgênero, e você precisasse de um reforço a cada 6 meses”, diz Chris Beyrer, epidemiologista que dirige o Duke Global Health Institute, à Science. “Você estaria dizendo, ‘É isso, finalmente temos uma ferramenta que pode acabar com essa epidemia.’”
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Hoje, também estão em testes outras variantes da PrEP de longa duração. Ja aprovado pela Anvisa, o cabotegravir é aplicado de maneira intramuscular, uma vez a cada dois meses.
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A prevenção, o tratamento e medidas efetivas de comunicação têm ajudado a reduzir a agressividade e as novas infecções. Na última década a mortalidade reduziu em 25% em todo o mundo. Enquanto isso, em locais com políticas estruturadas, como a cidade de São Paulo, a taxa de novas infecções caiu em 45% entre 2016 e 2022. Os números, no entanto, ainda são altos e isso faz com que a vigilância epidemiológica se mantenha essencial.
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Uma dessas investigações, publicada nesta sexta-feira, 16, aponta que uma nova variante do vírus tem circulado em pelo menos três estados brasileiros: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia. “Quando duas variantes diferentes infectam a mesma célula, podem se formar híbridos durante o processo de replicação do vírus e, destes, surgem os recombinantes”, explica Joana Paixão Monteiro-Cunha, autora do artigo científico publicado no periódico Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, em comunicado.
Por enquanto ainda não há motivos para se preocupar. Hoje, já existem mais de 150 formas recombinantes do vírus, responsáveis por cerca de 23% das infecções, que geralmente não apresentam grandes diferenças em relação à resposta ao tratamento. Os pesquisadores alertam, no entanto, que é preciso investigar quão disseminada ela está e as distinções frente às versões mais conhecidas.