Nova droga reduz até 60% do declínio cognitivo em casos de Alzheimer
Ensaio clínico apontou que metade dos voluntários em estágio inicial da condição não apresentaram evolução da doença durante um ano
Ensaios clínicos de fase 3 com uma droga candidata a tratamento contra a doença de Alzheimer apontou potencial de redução de até 60% no declínio cognitivo e funcional de pacientes em fase inicial da condição, que leva a episódios de esquecimento, desorientação e compromete a autonomia de idosos. Os testes apontaram ainda que, após usar o medicamento donanemabe, da farmacêutica Eli Lilly, metade dos voluntários não teve progressão do quadro ao longo de um ano.
Os resultados foram apresentados na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer (AAIC, na sigla em inglês) e publicados no periódico científico Journal of the American Medical Association (Jama) nesta segunda-feira, 17.
“Quando falamos em uma doença que não tem cura, precisamos buscar soluções para reduzir o impacto que ela pode causar na vida dos pacientes e de seus familiares. No caso da doença de Alzheimer, retardar o declínio cognitivo do paciente é fundamental, pois pode significar mais tempo nos estágios menos impactantes e mais funcionais da doença, assim como um atraso no início de um estágio posterior de declínio”, disse, em nota, Luiz Andre Magno, diretor sênior médico da Lilly Brasil. “Na prática, isso significa permitir a independência do paciente em suas tarefas do dia a dia, hobbies e no convívio de qualidade com seus familiares e amigos. Isso é algo extremamente valioso para os próprios pacientes e aqueles que estão ao seu redor”, completa.
O donanemabe é um um anticorpo monoclonal que age “limpando” as placas da proteína beta-amiloide, uma estrutura pegajosa que se forma no cérebro e causa atrofias no órgão. O medicamento tem como foco a N3pG, forma modificada dessa proteína. O estudo foi realizado com 1.736 participantes com a doença sintomática precoce e acúmulo da beta-amiloide e também da proteína tau em 277 centros de pesquisa de oito países.
Os achados mais animadores apareceram em um subgrupo de voluntários que apresentavam quadros iniciais da doença e nos quais a redução do declínio cognitivo foi de 60%. Segundo a farmacêutica, o efeito da terapia aumentou em relação ao placebo no decorrer do ensaio, o que sustentaria a hipótese de que o tratamento poderia ser realizado por um período limitado. Nos testes, os voluntários encerraram o tratamento em seis ou 12 meses.
Em maio, a empresa já tinha anunciado o potencial da droga para pacientes que vivem com a doença, com a constatação de que houve diminuição de 35% no avanço da doença nos participantes que utilizaram o fármaco em teste em relação ao grupo de controle.
Com os últimos resultados, a Eli Lilly solicitou aprovação da Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória americana, na expectativa de obter liberação até o fim deste ano.
Na semana passada, a agência concedeu a aprovação completa para o lecanemabe, vendido como Leqembi, das biofarmacêuticas Biogen e Eisai. O medicamento reduziu o progresso da doença em 27% em estudo com 1.800 pacientes em estágio inicial.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 55 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência no mundo, e o Alzheimer, que pode levar à morte, corresponde a até 70% dos casos.