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Doenças na retina: 65% dos pacientes abandonam tratamento após melhora

Pacientes com condições ligadas ao envelhecimento e diabetes têm acesso, inclusive no SUS, a injeções oculares; fármaco recém-aprovado reduz aplicações

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 set 2024, 21h35 - Publicado em 20 set 2024, 09h07
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  • BARCELONA* — Das 2,2 bilhões de pessoas com deficiência visual ou cegueira no mundo, ao menos 1 bilhão poderia não viver com a condição. São casos que poderiam ser evitados ou ainda não receberam tratamento adequado, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre esses episódios, estão indivíduos com doenças que afetam a retina, que já contam com medicação, inclusive na rede pública brasileira, mas ainda falham na adesão. De acordo com uma pesquisa inédita realizada pelo instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec) a pedido da farmacêutica Bayer, 65% dos pacientes abandonam o tratamento ao notar melhora, comportamento que pode comprometer os benefícios e levar à progressão dos danos na retina, a membrana que transmite imagens para o cérebro.

    Na pesquisa, o índice de desistência dos pacientes foi apontado por oftalmologistas e visto com preocupação, considerando que as duas principais doenças que impactam a membrana, a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) e a retinopatia diabética, que leva ao Edema Macular Diabético (EMD), são condições crônicas que necessitam não só de tratamento, mas de acompanhamento. O EDM é principal causa de perda da visão em pessoas que vivem com diabetes, inclusive jovens.

    Se a pessoa deixa de ser tratada com as injeções aplicadas no olho, o quadro pode se agravar e, em alguns casos, levar a perdas irreversíveis. Realizado no Brasil, o levantamento ouviu 2 000 pessoas e teve uma análise mais aprofundada de 300 pessoas que vivem com diabetes. A margem de erro para a amostra total é de dois pontos percentuais e o nível de confiança é de 95%. Os dados foram apresentados a jornalistas brasileiras que acompanham o congresso da Sociedade Europeia de Especialistas em Retina, a Euretina, realizado em Barcelona, na Espanha.

    “Temos cada vez mais pessoas com essas doenças crônicas que afetam a qualidade de vida. São pacientes que não conseguem ver detalhes, têm uma deficiência na visão central, então, têm dificuldade para leitura, contar dinheiro, cuidados com a casa e preparação das refeições”, explica a oftalmologista especializada em retina Katia Pacheco, que atua no Centro Brasileiro da Visão (CBV), em Brasília.

    Injeções no olho

    Pode parecer assustador, mas o tratamento padrão-ouro tanto para a Degeneração Macular Relacionada à Idade quanto para o Edema Macular Diabético é feito com injeções no olho afetado de antiangiogênicos, substâncias que inibem uma proteína chamada VEGF (do inglês fator de crescimento vascular endotelial), responsável pela proliferação de vasos anormais que prejudicam a visão. Um deles é o aflibercepte (de nome comercial Eylia), cuja dosagem de 2 mg está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

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    A aplicação ocorre em ambiente estéril e com anestesia local, seguindo um esquema de três a seis doses mensais, o tratamento de “ataque, que passa para aplicações espaçadas entre 12 e 16 semanas, de acordo com o quadro do paciente. No mês passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou a nova versão, de 8 mg, com intervalos entre aplicações que podem chegar a 20 semanas. Ela já entrou no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e tem cobertura dos planos de saúde. A farmacêutica vai pedir a incorporação do fármaco na rede pública.

    Entre os oftalmologistas que responderam a pesquisa, 75% acreditam que espaçar o intervalo entre as doses pode aumentar a adesão ao tratamento. Entre os pacientes com diabetes, o índice foi de 50%.

    O problema é que manter a frequência no tratamento não é fácil. Pessoas que vivem com doenças crônicas costumam ter uma rotina intensa de consultas e exames. No caso das injeções oculares, é necessário interromper a agenda profissional ou levar um acompanhante no dia da aplicação, alguns precisam se deslocar para centros de saúde ou clínicas longe de casa. É assim que alguns desmobilizam ao se deparar com melhora do quadro. A média de aplicações necessárias anualmente pode chegar a seis, mas a média executada é de 2,8 vezes por ano.

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    “A queda da adesão resulta em redução da acuidade visual e essa perda não é recuperada. Por isso que o regime é de tratar com as cargas mensais e estender o tratamento de forma individualizada e personalizada para manter os benefícios”, explica Diego Bueno, líder da área médica de oftalmologia da Bayer.

    Doenças que afetam a retina

    Ligada ao envelhecimento, a Degeneração Macular Relacionada à Idade é a principal causa de cegueira irreversível depois dos 50 anos. A estimativa é de que aproximadamente 10% da população mundial vai desenvolver o problema. No Brasil, isso corresponde a quase 3 milhões de pessoas.

    No caso do diabetes, a descompensação da doença eleva o risco de retinopatia diabética, condição que, em 7,5% a 11% dos pacientes, pode evoluir para Edema Macular Diabético, que também causa a perda da visão. Em ambas as condições, os sintomas são sutis e não causam dor nem alterações como vermelhidão nos olhos. Por isso, é importante ficar atento a episódios de visão embaçada, com manchas e distorções.

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    A oftalmologia tem se dedicado a ampliar a conscientização sobre o tema por causa do envelhecimento da população, que ocorre de forma acelerada, e da pandemia de diabetes em curso. No Brasil, o quinto país com mais casos da doença no mundo, havia 16,8 milhões de pessoas diagnosticadas em 2019, número que deve passar para 21,5 milhões em 2030 e atingir 26 milhões em 2045.

    As doenças, no entanto, ainda são desconhecidas por expressiva parte da população e até mesmo entre os pacientes. A pesquisa mostrou que 67% dos pacientes nunca ouviram falar da Degeneração Macular Relacionada à Idade. Embora perder a visão seja um dos principais medos de quem vive com diabetes, 46% dos pacientes afirmaram não conhecer a retinopatia diabética. Na amostra geral, o índice foi de 78%.

    Esse nível de desconhecimento impacta também na adesão do tratamento e quem faz a interrupção, principalmente pessoas com diabetes que tratam o Edema Macular Diabético, podem ter consequências severas. “Ele vai sentir mais rápido do que o paciente com Degeneração Macular Relacionada à Idade. Pode ter sangramentos, descolamento da retina e perdas mais súbitas da visão”, alerta a oftalmologista especializada em retina Tereza Kanadani.

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    * A repórter viajou a convite da farmacêutica Bayer

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