- FLORIANÓPOLIS* – Durante o processo de transição de gênero, a população transexual pode enfrentar problemas dermatológicos e isso tem sido alvo de estudos e ações de conscientização para que os dermatologistas apresentem soluções para diminuir o desconforto e impactos para a autoestima. Acne e calvície – a alopecia androgenética – são as principais queixas, mas os pacientes também relatam oleosidade na pele, ressecamento, coceira, fragilidade das unhas e irritações.
O tema esteve em debate no Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia, realizado em Florianópolis (SC) até este sábado, 9, em apresentação sobre condições que podem afetar a pele da comunidade LGBTQIA+.
“A dermatologia tem dado atenção à população transexual por causa da hormonioterapia. Entre homens trans, por exemplo, até 89% desenvolvem acne por efeito da terapia com testosterona até três meses a partir do início do tratamento e com pico após seis meses”, explica Felipe Aguinaga, coordenador do Ambulatório de Dermatologia e Diversidade de Gênero da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.
Além da acne, essa população pode ter episódios de calvície, oleosidade na pele e cicatrizes de procedimentos cirúrgicos, como a retirada das mamas. Entre os que não fizeram esse tipo de cirurgia, o uso do “binder”, um tipo de faixa de compressão para cobrir as mamas que também leva a queixas dermatológicas. “Esse top que deixa a região do peito mais plana pode causar brotoejas, acne e até micoses de pele.”
Nas mulheres trans, por sua vez, as principais reclamações são pele seca, coceira, alergias, coceira e fragilidade das unhas. Há ainda casos de busca por tratamentos para calvície que já dava sinais antes da transição. Para que a paciente não continue com as entradas, é possível adotar tratamentos medicamentosos e transplante capilar, que seguem padrões do gênero.
“Em homens, as linhas de plantação capilar são mais anguladas e em formato de (letra) M. Em mulheres, são arredondadas ou em formato de coração”, detalha Canuto Leite, dermatologista que integra o Núcleo TransUnifesp, de São Paulo.
Aguinaga diz que há demanda ainda por remoção de pelos faciais com laser e intervenções para deixar o rosto mais masculino ou feminino.
Ele destaca, no entanto, que a maior preocupação com a população transexual é a realização de procedimentos com produtos irregulares ou não autorizados por agências regulatórias e sem a presença de um profissional especializado, principalmente nas classes mais vulneráveis.
“Temos o uso do silicone industrial, que podem causar complicações e sequelas irreversíveis. Essa população precisa ter acesso a procedimentos seguros, que já estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), mas precisamos de mais centros no país.”
* A repórter viajou a convite da Sociedade Brasileira de Dermatologia