Desigualdade racial impacta no envelhecimento da população negra
Novo estudo brasileiro mostra efeitos do racismo estrutural na forma de piores salários e nas restrições de acesso a saúde, segurança e qualidade de vida
Além de sofrerem diretamente com os impactos de um racismo sistemático, que oprime, humilha e nega direitos básicos, os negros brasileiros também encaram mais desafios para envelhecer bem.
É o que revela o estudo “Envelhecimento e Desigualdades Raciais”, feito pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) em parceria com o Itaú Viver Mais. Ele constata que a desigualdade racial compromete a longevidade e a qualidade de vida da população negra.
Recém-publicado, o trabalho foi realizado em três capitais brasileiras – São Paulo, Salvador e Porto Alegre. Foram entrevistados 1.462 pessoas, na faixa dos 50 anos ou mais, e analisados 11 indicadores que compõem o envelhecimento ativo e adequado. Desses, cinco deles se destacaram em questão de desigualdade racial, territorial e de gênero, sendo mais evidente na vida de pessoas negras. São eles: inclusão produtiva, segurança financeira, exposição à violência, acesso à saúde e inclusão digital.
Dinheiro
No tópico inclusão produtiva, que analisou subsistência e fontes de renda, a população negra obteve os piores rendimentos financeiros. Em média, em Salvador e São Paulo, as mulheres negras apresentaram situação ainda mais precária. Em algumas faixas de idade, homens negros chegam a ganhar melhor do que mulheres brancas.
Em segurança financeira, que avalia a condição de se pagar as contas mensais, a desigualdade racial se escancara. Em todas as cidades e grupos etários, a população negra recebe menos: metade das pessoas com 50 anos ou mais consideram difícil ou muito difícil pagar as contas com sua renda mensal.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) ainda mostram ainda mais o peso da diferença. A média salarial das pessoas brancas acima dos 50 anos é de R$ 3000, enquanto a maior média salarial da população negra acima dos 50 anos é R$ 1.724.
O cenário também pode explicar o acesso à internet da população negra ser menor em todas as capitais, considerando que há custos para ser introduzido e manter-se conectado à rede.
Violência e saúde
Já em matéria de exposição à violência, a desigualdade racial influencia ainda mais que a de gênero. Entre os homens negros, 21% disseram ter sido ameaçados por arma de fogo ao longo da vida, enquanto esse percentual foi de 13% entre brancos. No país, 70% das vítimas de assassinatos são negras, segundo dados de 2017 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O acesso à saúde, um dos fatores mais importantes após os 50 anos, é também um dos mais desiguais. Nas três capitais o estudo identificou que homens e mulheres brancas possuem mais garantias de atendimento, assistência médica e obtenção de remédios. No caso da saúde privada, os brancos continuam sendo os mais beneficiados.
O raio-X do Cebrap corrobora a tese de que a desigualdade no acesso à saúde contribui para a maior prevalência de doenças crônicas e desfechos negativos entre a população negra brasileira.