Recentemente, o Ministério da Saúde anunciou que estados e municípios poderiam zerar o estoques de vacinas reservados para segunda dose da CoronaVac. Entram na nova regra o total de cerca de 4,5 milhões de doses liberadas no último domingo, 21, outras cerca de 2 milhões de doses que já haviam sido enviadas, mas estavam guardadas nos estados.
Considerando que este incremento representa 42% do total de doses disponibilizadas neste mês, em que as médias diárias de aplicação foram de 290.000 doses, é possível estimar que a liberação tenha um impacto médio de 121.000 aplicações por dia, um número que aumentaria em 26% o registro atingido atual. O impacto duraria ao longo dos próximos 50 dias.
Essa liberação por si só não será capaz de chegar à cota de 1 milhão de doses diárias prometidas recentemente pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Tomando como referência a média atual, seria necessário mais do que dobrar a disponibilização de doses para que a medida se cumpra. Um cenário menos nebuloso deve ser atingido em abril, para quando estão previstas a entrega de 34,5 milhões de doses, considerando as já garantidas — a do Butantan e da Fiocruz. Sem atrasos e maiores reduções de cota, o valor então será suficiente para vacinar 1 milhão de pessoas por dia.
A primeira vista, a decisão do governo de transferir para a primeira dose as vacinas reservadas para a segunda pode causar receio, uma vez que a imunização se dá somente após a aplicação de duas doses — e a falta de antígenos para a segunda etapa, portanto, pode significar a perda do esforço empenhado na primeira dose.
Porém, para respeitados especialistas em imunização, a liberação desse estoque pode significar uma boa notícia para o Programa Nacional de Imunização. “Esse tipo de decisão só deve ser tomada mediante segurança de entrega dos próximos lotes. Ainda que não saibamos detalhes do cronograma do Ministério da Saúde, este é um sinal de que eles conseguem enxergar avanços no programa e analisam que a entrega das próximas doses é garantida”, diz o infectologista e presidente do departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, Renato Kfouri.
É importante reafirmar que a decisão não significa extinguir de vez a aplicação da segunda dose, mas acelerar a vacinação com as doses que já estão reservadas nos estados e municípios para depois repor a cota que foi retirada. Em troca de mensagens com a reportagem de VEJA, o vice-presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Marco Krieger, afirmou que “acelerar é importante, mas é preciso também garantir a disponibilidade da segunda dose”.
Em informe divulgado pelo Ministério da Saúde, a decisão foi tomada após “estabilização do cronograma de entregas”. A decisão atingiu somente um dos imunizantes em uso no Brasil, a CoronaVac — que conta com a janela de quatro semanas de pausa entre a primeira e segunda dose. Para a vacina de Oxford — com intervalo de até três meses entre as doses — sempre foi orientado que a totalidade das entregas fossem usadas em primeira dose.