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Coronavírus: uso de plasma sanguíneo reduz mortalidade, diz estudo

Estudo com 35.000 pessoas sinaliza eficácia do tratamento precoce em pessoas com Covid-19

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 ago 2020, 19h04 - Publicado em 21 ago 2020, 19h03

Desde o início da pandemia de Covid-19, o uso de plasma de pessoas que já se infectaram (chamado plasma convalescente) surgiu como um tratamento promissor contra a doença. De lá para cá, diversos estudos foram iniciados ao redor do mundo – incluindo o Brasil – para avaliar a eficácia da terapia. No mais recente deles, pesquisadores da Mayo Clinic, nos Estados Unidos, concluíram que o uso precoce de plasma de pessoas recuperadas da Covid-19 em pacientes hospitalizados reduz a mortalidade pela doença.

“Há sinal de eficácia e benefício para o uso de plasma com alto nível de anticorpo, mas isso ainda precisa ser revisado por outros especialistas”, disse a VEJA Scott Wright, um dos pesquisadores da Mayo Clinic. Os resultados foram publicados recentemente na plataforma medRxiv, que reúne artigos antes de sua publicação em revistas científicas, e ainda precisa ser revisado por pares.

Os pesquisadores analisaram dados de 35.322 pacientes que participaram do programa nacional de acesso expandido para plasma convalescente, em diversos hospitais nos Estados Unidos. “Antes de receberem o tratamento, os pacientes assinam um formulário de consentimento afirmando que estão cientes dos riscos potenciais e da possibilidade que o plasma pode ou não ajuda-los”, disse a VEJA Scott Wright, um dos pesquisadores da Mayo Clinic.

Quanto antes, melhor

Os pacientes que receberam as transfusões até três dias após o diagnóstico tiveram uma taxa de mortalidade de 8,7%, em um período de sete dias após o tratamento. Nos pacientes que receberam o plasma a partir do quarto dia de diagnóstico, a taxa de mortalidade de 11,9%. Uma taxa semelhante foi observada após 30 dias de acompanhamento.

“Todos os pacientes incluídos na nossa análise estavam gravemente doentes. Mas observamos que, mesmo nesses pacientes, usar o plasma precocemente, ou seja, assim que eles chegam ao hospital, é melhor do que esperar”, afirma o pesquisador.

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A mortalidade também variou conforme a quantidade de anticorpos presentes no plasma recebido. Naqueles que receberam plasma com alta dose de anticorpos, a mortalidade foi de 9%. Entre os que receberam uma dose média, cerca de 12% e entre os que receberam uma dose baixa, a mortalidade foi de quase 14%.

“Descobrimos que os pacientes que receberam plasma com altos níveis de anticorpos nos primeiros três dias de hospitalização tiveram um risco de mortalidade menor do que os pacientes que receberam plasma com baixos níveis de anticorpos no mesmo período e do que aqueles que receberam plasma com qualquer novel de anticorpo, após esse período. Os mesmos resultados se repetiram em uma segunda amostra de pacientes e agora, nós estamos analisando uma terceira amostra de pacientes, com supervisão da FDA.”, explicou Wright.

LEIA TAMBÉM: Como é o tratamento do novo coronavírus, dos cuidados em casa à UTI

Aprovação pela FDA

Essa semana, o jornal americano The New York Times, disse que a aprovação do uso emergencial do tratamento está em “espera” devido à falta de dados concretos sobre sua eficácia.  Apesar do tamanho da amostra do estudo da Mayo Clinic, a ausência de um grupo placebo dificulta garantir que a redução da mortalidade foi causada exclusivamente pelo uso do plasma.

“O estudo não foi desenhado para demonstrar um benefício justamente porque não tinha grupo controle. Nós discutimos isso com a FDA e eles nos garantiram que o grupo controle considerado seria o de pacientes internados em hospitais que não estavam usando o plasma como tratamento. Eu não acho que a aprovação para uso emergencial está em espera. Acho que faz parte do processo de revisão da FDA. Eles nos disseram que continuam a avaliar os dados e que tomarão uma decisão quando acharem que revisaram tudo. Eles precisam ser cautelosos em suas decisões, porque serão responsabilizados se cometerem erros”, afirma o pesquisador.

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No início do ano, a FDA aprovou o uso emergencial da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 e há alguns meses, precisou voltar atrás na decisão após diversos estudos mostrarem a ausência de benefícios no uso destes medicamentos.

O plasma convalescente é um tratamento centenário, criado a partir do sangue de pessoas que se recuperaram da Covid-19. O plasma é a porção líquida do sangue que contém células do sistema imunológico e anticorpos – proteínas que o corpo produz para combater infecções. Quando ele é injetado no organismo de pacientes doentes, esses anticorpos já estão prontos para começar a destruir o vírus.

Diversos estudos já provaram a segurança do tratamento e resultados preliminares de estudos pequenos apontaram para uma possível eficácia da transfusão. Na semana passada, a Plasma Technologies LLC assinou um contrato com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos no valor de 750.000 dólares para desenvolver tecnologias para produção  de plasma convalescente em escala.

“Esse é um vírus muito difícil de matar e de controlar, então precisamos de múltiplas terapias para impedir que o paciente piore ou morra. Acho que o plasma é um primeiro passo. No futuro, teremos tratamentos melhores, mais rápidos e poderosos,. Mas, até lá, nossos dados apontam que o plasma pode ser uma opção”, finaliza Wright.

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Pandemia coronavírus

O novo coronavírus já infectou 23.043.391 pessoas no mundo e causou a morte de 801.192. Atualmente, o Brasil tem 3.532.330 casos e 113.358 mortos registrados pela doença. Nesta sexta-feira, 21, a média móvel de novas notificações da doença foi de 36.687,1 e a de novos óbitos de 976,4. A média móvel semanal é calculada a partir da soma do número de casos e mortes nos últimos sete dias, dividida por sete, número de dias do período contabilizado – o que permite uma melhor avaliação ao anular variações diárias no registro e envio de dados pelos órgãos públicos de saúde, problema que ocorre principalmente aos finais de semana.

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