Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Coronavírus: como um dos melhores hospitais do mundo lida com a doença

Em entrevista exclusiva, Clayton Cowl, diretor de medicina preventiva da Mayo Clinic, conta como um dos melhores hospitais do mundo enfrenta o coronavírus

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 abr 2020, 10h37 - Publicado em 4 abr 2020, 10h34
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Em entrevista exclusiva à VEJA, o pneumologista Clayton Cowl, diretor de medicina preventiva da Mayo Clinic em Rochester, nos Estados Unidos, fala como o hospital, que foi eleito o melhor do mundo pelo terceiro ano consecutivo por um ranking anual feito pela revista americana Newsweek em parceria com a empresa global de pesquisa de mercado Statisa, está lidando com o coronavírus.

    Como a Mayo Clinic está lidando com a pandemia de coronavírus?
    Na maioria das vezes, a Mayo Clinic segue as recomendações do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). Nossos  médicos avaliam a história de todos os pacientes e, se for um paciente positivo confirmado para Covid-19, o atendimento de suporte é iniciado, de acordo com as necessidades individuais de cada paciente. Aqueles com condições respiratórias graves, que necessitam de suporte ventilatório, são colocados em respiradores que possuem filtros para proteger o equipamento da propagação viral. Além disso, esse paciente é colocado em áreas específicas do hospital, com circulação de ar com pressão negativa, e equipe preparada com equipamento de proteção individual adequado. A Mayo Clinic também adota uma abordagem preventiva, dobrando o isolamento social, com limitação de visitantes ao Centro Médico.

    Como é o tratamento dos pacientes?
    Felizmente, a maioria dos nossos pacientes com Covid-19 respondeu bem a medidas conservadoras de tratamento [medidas de suporte] e se recuperou ou está em processo de recuperação. No entanto, outros centros médicos nos Estados Unidos experimentaram tratamentos como a cloroquina e o remdesivir, medicamentos que tiveram relatos anedóticos de respostas clínicas.

    Nos últimos dias, ouvimos muito sobre a cloroquina como tratamento para a covid-19. Qual a sua opinião sobre isso?
    A hidroxicloroquina e a cloroquina têm sido usadas para tratamento em vários países, com relatos apontando seu uso na China no início da pandemia e agora em outros países do mundo com alguns resultados clínicos positivos iniciais. Existem vários ensaios clínicos em todo o mundo testando o medicamento contra a Covid-19, mas os resultados são muito preliminares e estão sendo usados em situações de uso compassivo apenas nesta conjuntura específica.

    Quais são as possibilidades de tratamento mais promissoras sob investigação para a Covid-19?
    Além dos medicamentos relacionados à cloroquina, outras terapias como o favipiravir foram introduzidas no Japão e podem encurtar a duração do vírus e melhorar a função pulmonar. A FDA [agência americana que regula medicamentos e alimentos] também aprovou atualmente o uso do remdesivir, um medicamento que foi tentado sem sucesso para tratar o Ebola, para uso compassivo nos pacientes atuais com Covid-19, o que significa que apenas pacientes com quadros graves de Covid-19 podem ser aprovados para usar tratamento. Em outros países, os requisitos para receber remdesivir podem ser menos rigorosos. Mas é importante ressaltar que cada uma dessas estratégias ainda é muito precoce, com dados preliminares e certamente não conclusivos.

    Continua após a publicidade

    Brasil, EUA e outros países estão com falta de kits de teste e não são capazes de testar todas as pessoas com sintomas da doença, o que é uma parte importante do combate ao coronavírus. Quais são os desafios no desenvolvimento e fabricação de testes?
    Embora em muitas áreas dos Estados Unidos os kits de teste tenham sido escassos, a Mayo Clinic conseguiu desenvolver seu próprio teste e vem usando esse recurso com cuidado para testar indivíduos específicos da comunidade que são sintomáticos e atendem a certos critérios. Estima-se que os Laboratórios Médicos da Mayo Clinic sejam capazes de testar cerca de 1.000 indivíduos por dia. Isso tornou a identificação do COVID-19 nas comunidades em torno dos locais da Mayo Clinic mais precisa.

    O fator limitante para muitos kits parece ser a obtenção dos reagentes necessários para a detecção precisa do vírus SARS-CoV-2, que causa a Covid-19.

    A Mayo Clinic está trabalhando no desenvolvimento de algum tratamento ou vacina específica para a doença?
    Existem vários estudos nos quais a Mayo Clinic está trabalhando no momento para identificar a natureza da Covid-19, como ela se espalha e os possíveis tratamentos no futuro. Alguns desses ensaios são realizados em conjunto com outros centros médicos e de pesquisa nos Estados Unidos. Um exemplo é o uso de transfusões de plasma de pacientes recuperados no tratamento de pacientes com Covid-19 [a estratégia é usada desde a Gripe Espanhola. Basicamente, o plasma (uma parte do sangue) de pacientes recuperados contém anticorpos que aceleram a recuperação de pessoas que ainda estão doentes.]

    Continua após a publicidade

    Qual é a principal maneira de combater o novo coronavírus hoje? 
    Ao lidar com um vírus tão contagioso quanto o Sars-Cov-2, que pode envolver um período de disseminação assintomática da carga viral de alguém que talvez nem saiba que possui o vírus, profissionais de saúde pública e epidemiologistas, em conjunto com agências reguladoras e governos, usaram uma ferramenta existente há séculos – ou seja, o isolamento social e a ênfase especial na higiene das mãos e etiqueta respiratória apropriadas, em um esforço para impedir a propagação de pessoa para pessoa.

    É preciso uma mentalidade clara para tomar a difícil decisão de limitar o acesso de nossas liberdades individuais. A esperança com essa estratégia é “dobrar o período” da curva de prevalência que normalmente se vê com qualquer pandemia – ou seja, o aumento exponencial do número de casos, doenças graves e morte. Há um reconhecimento no custo devastador para as empresas e o transporte, mas com acesso controlado e investimento em isolamento social, o objetivo é minimizar o número de indivíduos com doenças ou enfermidades graves e, assim, economizar recursos preciosos nas instalações médicas dos estados e países e torne este evento o mais curto possível.

    Na sua opinião, quanto tempo levará para que uma vacina e um tratamento estejam prontos para uso? 
    Uma vacina seria o método ideal para impedir que essa doença se espalhe ainda mais e evitar outra catástrofe global no futuro. No entanto, o desenvolvimento de vacinas leva tempo, esforço considerável e aprovação regulatória para garantir que possíveis imunizações sejam eficazes e seguras.

    Continua após a publicidade

    Quais são os principais avanços da ciência  no combate à covid-19?
    A ciência está aprendendo, usando o que aprendeu de epidemias e pandemias anteriores e tentando reduzir o fardo das doenças. Como em qualquer pandemia, a de Covid-19 não só terá um tremendo impacto sobre indivíduos e famílias que sofrem a perda de um ente querido, mas também fornecerá lições para impedir uma próxima propagação da doença. A engenharia genética provavelmente desempenhará um papel nesses esforços preventivos, bem como no desenvolvimento de novas vacinas.

    A rapidez e o esforço da ciência e da medicina para resolver a pandemia de coronavírus são sem precedentes?
    A ciência e a medicina sempre trabalharam incrivelmente para concentrar o conhecimento e a inovação na solução dos problemas do mundo. Certamente, a pandemia da Covid-19 desafiou todos os países do mundo de maneiras que a maioria de nós nunca viu em nossas vidas. Vimos que a capacidade de usufruir de sistemas de transporte muito avançados permitiu tremendos avanços nas tecnologias e no movimento de pessoas para lugares ao redor do mundo que antes não eram possíveis. A desvantagem desse sistema é que a propagação de um contágio não pode ser facilmente limitada a uma pequena área geográfica.

    O mundo está nessa pandemia de Covid-19 junto; e juntos resolveremos o mistério desse vírus e ajudaremos muitos outros milhões no futuro, com o objetivo de impedir que algo assim aconteça nos próximos anos.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.