Coronavírus: 100 000 pessoas serão testadas em todo o Brasil
Encomendada pelo Ministério da Saúde, pesquisa comandada pela Universidade Federal de Pelotas mapeará grau e velocidade de contágio da doença no país
Com 2 588 mortes e quase 41 000 casos confirmados do novo coronavírus, o Brasil, que se prepara para enfrentar o pico da epidemia, segue o exemplo de outros países e começa a mapear o grau de contágio e a velocidade de disseminação do vírus. A partir da próxima semana, 100 000 pessoas em todos os estados serão testadas para saber se já possuem anticorpos da Covid-19, identificado a partir do sétimo dia de contágio. Encomendada pelo Ministério da Saúde e liderada pela Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, a pesquisa é parte do maior estudo sobre a propagação do coronavírus entre os brasileiros. A cada etapa, realizada em um intervalo de duas semanas, 33 250 pessoas serão submetidas a testes rápidos. A previsão é que o levantamento seja encerrado em meados de maio. “Precisamos identificar com precisão quem tem a doença para evitar que o sistema de saúde entre em colapso”, afirma o epidemiologista Pedro Hallal, reitor da instituição e coordenador do estudo.
Além da pesquisa nacional, a UFPEL comanda um estudo paralelo no estado onde está localizada desde o último dia 11. Por lá será realizada uma etapa a mais, a ser incluída no estudo quando for encerrado. Segundo Hallal, a metodologia de amostragem é a melhor forma de dimensionar em que momento da epidemia o país está, quem é mais suscetível ao vírus e até determinar até quando o isolamento social será necessário. Isso porque, segundo a revista americana Science, 86% dos pacientes que contraem a Covid-19 são assintomáticos ou apresentam sintomas leves. “Hoje existe um grau altíssimo de subnotificação justamente porque só testamos os pacientes em estado grave. Sem o dado real de infectados, os secretários de Saúde precisam decidir se investem na compra de respiradores ou na construção de hospitais de campanha. É como um voo às cegas”, explica o especialista.
A iniciativa está alinhada ao que o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e o atual gestor da pasta Nelson Teich defendem: a realização de testes em massa, defendida por Teich em seu discurso de posse. O estudo, orçado em 12 milhões de reais, é parte de um esforço hercúleo realizado pela equipe de Hallal. Normalmente um levantamento dessa magnitude leva de seis meses a um ano para ser planejado, mas os pesquisadores, que esperam receber o aval do Ministério da Saúde para aumentar o número de fases e de brasileiros testados, conseguiram reduzir esse tempo para apenas dez dias.
Para Hallal, a principal pergunta a ser respondida nesse momento não é o dia que terminará a quarentena, e sim o percentual da população que já foi contaminado. O levantamento inclui entrevistas e testes em 250 pessoas em 133 regiões, seguindo os critérios do IBGE no censo populacional. “Vai funcionar assim: em cada cidade vamos sortear 25 setores censitários e, em seguida, sortear dez moradores, cada um de uma casa diferente, para serem testados. Com isso vamos garantir que a escolha seja aleatória e represente todas as classes sociais e regionais. É uma fotografia em tempo real das diversas partes do Brasil. Isso é importante porque a doença pode estar em estágios diferentes em cada uma delas”, defende Hallal, que afirma ser de 1% a margem de erro.
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