Há um século, indivíduos que tinham diabetes ganharam a primeira esperança de viver um pouco mais. Em 1921, os médicos canadenses Charles Best e Frederick Banting sintetizaram a insulina e abriram o caminho para que a doença finalmente tivesse alguma forma de controle. A insulina é um hormônio produzido no pâncreas e tem a função de permitir a passagem da glicose que circula no sangue para dentro das células. É assim que o corpo ganha combustível para funcionar. Se ela não for produzida ou não atuar como deveria, sobra açúcar no sangue e o corpo todo sofre. Isso é o diabetes. Da aplicação das primeiras injeções, em 1922, até hoje, a ciência construiu um arsenal terapêutico extraordinário. Não se chegou à cura, mas a vida do paciente está bem melhor e, a contar pelo que está saindo dos laboratórios, será ainda mais bem preservada.
Sem controle, o diabetes age como erva daninha. Não dá sinais, mas aos poucos danifica vasos sanguíneos, dispara processos inflamatórios, bagunça o metabolismo e, quando a pessoa se dá conta, pode estar a um passo de um infarto ou de um acidente vascular cerebral. Só no Brasil há 12 milhões de indivíduos que precisam ser tratados antes que tudo isso aconteça. Cerca de 90% deles têm diabetes tipo 2, associado à obesidade e ao sedentarismo. Para esse grupo, a forma mais fácil de manter os índices de glicose sob controle é ter uma boa alimentação e fazer exercício físico. Quando isso não é suficiente, uma das indicações mais comuns é o uso de insulina sintetizada, para ajudar o corpo a se livrar do açúcar em excesso. Nesse campo, uma das novidades é a Icodec, insulina de dose semanal produzida pelo laboratório Novo Nordisk. Ela está na fase 3 de ensaio clínico, mas resultados preliminares sugerem que tenha a mesma eficácia das insulinas tomadas diariamente.
Há tempos recomenda-se aos pacientes que façam periodicamente um exame que revela o comportamento da doença durante três meses. A medida é relevante porque aponta um padrão de evolução que pode exigir mais do que intervenções pontuais. Esse teste se chama hemoglobina glicada. É feito como outros exames laboratoriais cujos resultados saem após alguns dias. Porém, uma opção mais moderna chamada A1CNow+ chegou ao Brasil prometendo entregar o resultado cinco minutos depois da coleta da amostra de sangue. Como a insulina semanal, o objetivo é garantir conforto e rapidez na entrega de informações.
A ideia de usar um pâncreas artificial para tratar o diabetes tipo 2 também começa a ser discutida. Hoje, estão em estudo modelos que serviriam para o tipo 1 da doença, causado pelo ataque do sistema de defesa do corpo contra as células produtoras de insulina. Porém, um time da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, iniciou testes em pacientes com o tipo 2 com a expectativa de que a invenção funcione também para eles. O pâncreas artificial é, na verdade, um sistema instalado do lado de fora do corpo composto de um sensor que capta o nível de glicose no sangue, de um chip capaz de calcular a dose de insulina necessária e de uma bomba que injeta o hormônio sintético na circulação sanguínea. Nos Estados Unidos, criação um tanto mais sofisticada está em criação na Universidade Rice: um implante que libera insulina quando preciso. “Queremos reproduzir o que acontece no corpo”, diz Omid Veiseh, líder do trabalho. Esses recursos vêm para evitar que o paciente chegue à cirurgia metabólica, opção invasiva recomendada apenas aos que tentaram outros tratamentos. Se bem indicada, ela tem bons resultados. No entanto, o melhor a fazer é se cuidar e deixar o bisturi como última alternativa.
Publicado em VEJA de 18 de agosto de 2021, edição nº 2751