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Como o fim da escala 6×1 pode beneficiar a saúde mental dos trabalhadores?

Especialistas ouvidos por VEJA avaliam que mudança na jornada pode ajudar não só no descanso, mas na diminuição da ansiedade e do burnout

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 nov 2024, 18h58 - Publicado em 12 nov 2024, 18h09

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que pede o fim da escala 6×1, com seis dias trabalhados e apenas um de folga, tem levantado um intenso debate não só nas redes sociais e nos ambientes políticos e econômicos nos últimos dias. O tema da saúde mental, com foco na ansiedade, burnout e falta de atividades de lazer dos profissionais que cumprem a jornada, também veio à tona. Especialistas ouvidos por VEJA afirmam que dias livres podem trazer benefícios que vão além do descanso e dos cuidados com a saúde em geral, impactando positivamente na produtividade e no engajamento dos profissionais, elementos que precisam fazer parte dessa equação caso o tema avance para discussão entre os parlamentares.

“A jornada de seis dias tem impactos sérios para aumentar o burnout e diminuir a produtividade. Sabemos que profissões que têm menos tempo de descanso e que as pessoas que sofrem pressão de ir ao limite têm essas taxas maiores”, explica Diego Burger, professor da pós-graduação em segurança psicológica do grupo educacional Human SA.

Segundo Burger, a situação é agravada com o fato de que o trabalho muitas vezes “invade” a casa dos profissionais, efeito dos smartphones. “As pessoas estão sentindo que estão descansando menos e não conseguem desligar. Está ficando mais óbvia a importância do tempo de descanso de qualidade.”

Para o professor, um esquema de sete horas diárias em cinco dias por semana já ajudaria a mudanças de hábitos capazes de proteger a saúde mental dos trabalhadores.

“O ser humano é muito capaz de se adaptar, mas, quando a gente entende o direto à felicidade, deveria discutir sobre as empresas que estão até com esquema 4×3. Isso dá tempo para o colaborador fazer exercício físico, almoçar, jantar.”

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Segundo ele, as decisões públicas e legislativas deveriam se debruçar em propostas para reduzir a cobrança de impostos de empresas que estão cobrando cargas horárias mais baixas dos profissionais.

Modelo 4×3

Ainda em fase de coleta de assinaturas pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que precisa da adesão de 171 deputados, a proposta abre espaço para a jornada 4×3, ou seja, quatro dias de trabalho e três de folga.

Francisco Nogueira, psicólogo, psicanalista e sócio da consultoria Relações Simplificadas, explica que experiências internacionais apontaram os benefícios do modelo, a exemplo da iniciativa 4 Day Week, organização global fundada em 2019 com o intuito de estabelecer um modelo de trabalho em quatro dias eficiente.

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No programa-piloto da iniciativa realizado no Brasil entre janeiro e junho deste ano com 19 empresas, 44,4% dos participantes relataram capacidade aumentada para cumprir prazos, 82,4% sentiram aumento de energia para realizar tarefas e 62,7% afirmaram que tiveram redução no estresse no trabalho. Além disso, 65% relataram redução na exaustão e 74% apresentaram melhora na saúde física. A parte financeira também foi avaliada: 72% das empresas participantes relataram aumento na receita durante o período.

“Para cortar a escala 6×1, talvez o empregador tenha de contratar mais funcionários, mas ele ganha em fidelização, fazendo com que tenha menos custos com a demissão e contratação de funcionários, além de treinamentos. E ganha funcionários com menos ansiedade, menos fadiga e maior satisfação com o trabalho.”

Nogueira, que já viveu a experiência de trabalhar no esquema 6×1 durante a faculdade, diz que o modelo amplia desigualdades e impacta ainda nas relações familiares.

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“A vida vai sendo tomada pelo trabalho de maneira que não sobra tempo para a própria pessoa, que vive com sensação de dívida, porque é difícil manter relacionamentos e cuidar das crianças e idosos, porque eles requerem contato e presença. Também não conseguem fazer cursos e buscar cargos melhores.”

O psicólogo completa: “Um dia a mais parece que não é nada, mas a pessoa começa a ter um espaço para cuidar de si, descansar, ter lazer e tudo que é importante para a saúde mental.”

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