Como cientistas restauraram o funcionamento de órgãos de animais mortos
Nova tecnologia, testada em porcos, pode aumentar a disponibilidade de órgãos doados e revolucionar transplantes
Pesquisadores da Universidade Yale, nos Estados Unidos, desenvolveram uma nova tecnologia que protege as células de órgãos e tecidos e é capaz de restaurar a circulação sanguínea e demais funções celulares após a morte. Em testes, realizados em porcos, os cientistas conseguiram reativar a atividade das estruturas com um fluido utilizado uma hora depois do óbito. Os resultados, publicados na revista Nature nesta quarta-feira, 3, foram considerados animadores por trazerem a perspectiva de aumentar a disponibilidade de órgãos doados e revolucionar transplantes.
No estudo, os pesquisadores usaram uma tecnologia chamada OrganEx, um tipo de dispositivo parecido com os equipamentos que desempenham as funções do coração e dos pulmões em cirurgias, as máquinas coração-pulmão, e um fluido experimental com substâncias que suprimiam inflamações em todo o corpo do animal.
Seis horas após o tratamento, o grupo notou que atividades celulares importantes estavam ativas em diversas partes do porco, incluindo órgãos como o fígado e os rins, além do coração, que permaneceu com a capacidade de se contrair. “Também conseguimos restaurar a circulação por todo o corpo, o que nos surpreendeu”, afirmou à Nature o neurocientista Nenad Sestan, autor sênior do estudo.
Segundo os autores, a tecnologia poderia prolongar a vida útil de órgãos, um avanço para os procedimentos de transplante de órgãos. Outro possível uso seria o de auxiliar no tratamento de tecidos ou órgãos afetados por isquemia – redução do suprimento sanguíneo – em episódios de acidente vascular cerebral (AVC) ou de ataques cardíacos.
O estudo se baseou em uma pesquisa também realizada por Sestan e demais cientistas em 2019, com uma técnica chamada BrainEx. Nela, os pesquisadores conseguiram restaurar a circulação e algumas funções celulares no cérebro de um porco sem vida. Nesta nova pesquisa, atividades celulares foram restauradas em algumas áreas do cérebro e, para a surpresa dos estudiosos, foi possível observar movimentos espontâneos e involuntários nas regiões da cabeça e do pescoço. Os animais foram mantidos anestesiados durante todo o procedimento.