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Cloroquina não traz benefícios e aumenta risco de arritmias, diz estudo

A conclusão é de uma pesquisa pela Universidade Harvard e publicada pela renomada revista britânica 'The Lancet' nesta sexta-feira 22

Por Alexandre Senechal Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 Maio 2020, 19h35 - Publicado em 22 Maio 2020, 14h44

Usar cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus não traz nenhum benefício. Pior: aumenta o risco de arritmias cardíacas e tem mais chances de levar os pacientes a óbito. A conclusão é de um estudo feito pela Universidade Harvard e publicado pela renomada revista britânica The Lancet nesta sexta-feira 22.

“Nessa larga análise multinacional do mundo real, não observamos nenhum benefício da hidroxicloroquina ou da cloroquina (usadas sozinhas ou em combinação com um macrolídeo [uma classe de antibióticos usada para tratamento de infecções respiratórias, no estudo composta por azitromicina ou a claritromicina]) nos resultados hospitalares, quando o tratamento foi iniciado precocemente após o diagnóstico de Covid-19. A incidência também foi associada a um risco aumentado da ocorrência de arritmias ventriculares e morte após internação hospitalar”, descreve o estudo.

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A extensa pesquisa observou 96.032 pacientes internados por causa da Covid-19 em seis continentes entre os dias 20 de dezembro de 2019 e 14 de abril deste ano. O grupo de controle, que não recebeu tratamento com os dois remédios, teve 81.144 pessoas. Os outros 14.888 internados receberam quatro tipos diferentes de tratamento:

1) somente com cloroquina (1.868 pessoas);
2) com uma combinação de cloroquina e macrolídeos (3.783 pessoas);
3) somente com hidroxicloroquina (3.016 pessoas);
4) com uma combinação de hidroxicloroquina e macrolídeos (6.221 pessoas).

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LEIA TAMBÉM: Estudo sugere que plasma convalescente é seguro no tratamento da Covid-19

Ao final do estudo, os cientistas constataram que 7.530 pacientes do grupo de controle haviam morrido, o que representa 9,3% do total. Ou seja, 1 a cada 11 dos que estavam internados. Já em relação aos infectados que foram tratados com os dois medicamentos, a taxa de mortalidade foi maior:

1) somente com cloroquina: 307 mortes (16,4%, ou 1 a cada 6 pacientes);
2) com uma combinação de cloroquina e macrolídeos: 839 mortes (22,2%, ou 1 a cada 5 pacientes);
3) somente com hidroxicloroquina: 543 mortes (18%, ou 1 a cada 6 pacientes);
4) com uma combinação de hidroxicloroquina e macrolídeos: 1.479 mortes (23,8%, ou 1 a cada 5 pacientes).

“Esse estudo praticamente resolve a questão sobre se os medicamentos realmente funcionam ou não. Até agora só tínhamos alguns estudos feitos com um número pequeno de pacientes, e eles já mostravam que não havia benefícios ao utilizar a cloroquina e a hidroxicloroquina. Tanto que as autoridades médicas não recomendam esse tipo de tratamento”, explica José Valdez Madruga, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

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“Esses dados são interessantes, porque são de vida real e tem um número grande de pacientes. Eles afastaram fatores que poderiam gerar críticas para analisarem os resultados: só incluíram pacientes que estavam internados até 48 horas e também excluíram os já entubados, em estado mais grave, e aqueles que usaram o remdesivir, o remédio originalmente criado para combater o Ebola”, analisa Madruga.

A chance de desenvolver uma arritmia cardíaca foi ainda maior de acordo com a pesquisa. Apenas 0,3% do grupo de controle teve a anomalia. Nos quatro tratamentos com cloroquina e hidroxicloroquina o número ficou entre 4,3% e 8,1%. O infectologista brasileiro explica que um dos mais importantes efeitos colaterais dos medicamentos e dos macrolídeos utilizados é justamente causar arritmia cardíaca. “Tivemos entre 14 e 27 vezes mais o aparecimento da arritmia por causa disso. Só isso é suficiente para não receitar esse medicamento”, avalia.

Na última quarta-feira 20, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta e afirmou que os medicamentos não demonstraram eficácia no tratamento contra o novo coronavírus. No mesmo dia, o Ministério da Saúde brasileiro foi na contramão das recomendações e divulgou um novo protocolo para a utilização da cloroquina em pacientes no início do tratamento – até então, a pasta recomendava apenas o uso do remédio para os internados em estado grave.

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