Cirurgia menos radical é segura e preserva autoestima em câncer cervical
Estudo global apresentado em reunião da Sociedade Americana de Oncologia Clínica demonstrou eficácia de histerectomia simples em casos em estágio inicial
CHICAGO* – Uma histerectomia total, a retirada completa do útero, tem sido o caminho adotado há décadas diante do diagnóstico de câncer cervical, também chamado de câncer de colo de útero, e, por mais que seja um tratamento seguro, traz uma série de consequências para as pacientes: a cirurgia interrompe o ciclo menstrual, colocando a mulher em menopausa – com seu combo de sintomas desagradáveis, como fogachos e queda da libido -. Um novo estudo global apresentado nesta sexta-feira, 2, demonstrou a segurança de adotar uma abordagem menos agressiva, a histerectomia simples, e indicou que é possível combater o câncer e preservar a autoestima e a vida sexual das mulheres com diagnóstico da doença em fase inicial.
A pesquisa de fase 3, realizada com 700 pacientes entre 24 e 80 anos de 12 países, foi divulgada no primeiro dia da reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, na sigla em inglês) e conseguiu trazer elementos sólidos para um debate em relação à necessidade de realizar a remoção cirúrgica de todo o útero diante dos impactos para a saúde da paciente, incluindo a parte emocional e a qualidade de vida.
As voluntárias foram divididas em dois grupos e acompanhadas por 4 anos e meio. Um grupo fez a histerectomia total, quando colo do útero e tecidos ao redor, útero e a parte superior da vagina são removidos em uma cirurgia. O outro fez a histerectomia simples, a retirada apenas do colo do útero e do útero. Em ambos os procedimentos, foi feita a remoção de linfonodos pélvicos para evitar metástases.
Os resultados apontaram que o método radical e o simples são equivalentes no que diz respeito à sobrevida livre de recidiva (reaparecimento da doença) e à sobrevida global em estágios iniciais da doença.
No entanto, as pacientes que fizeram a histerectomia simples apresentaram menos intercorrências urológicas causadas pela cirurgia e tiveram menos complicações imediatas e de longo prazo na bexiga. Outro ponto importante foi ter mantido aspectos que interferem na vida pessoal das pacientes, como boa relação com a imagem corporal e vida sexual mais ativa.
O achado pode mudar a forma como pacientes em estágio inicial da doença são tratadas. “O estudo confirma que, em pacientes cuidadosamente selecionadas, a cirurgia pode ser reduzida para uma histerectomia simples com segurança e sem afetar os resultados”, explicou Kathleen Moore, professora de oncologia ginecológica da Universidade de Oklahoma e uma das porta-vozes da ASCO. “[Isso] inaugura uma nova abordagem cirúrgica mais individualizada para mulheres com câncer cervical em estágio inicial.”
Câncer de colo de útero
O câncer de colo de útero é causado pela infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV), principalmente os tipos 16 e 18, relacionados a 70% dos casos. A prevenção é feita por meio da vacinação e a realização do exame Papanicolau.
No Sistema Único de Saúde (SUS), a vacina está disponível gratuitamente para meninas de 9 a 14 anos, meninos de 11 a 14 anos, pacientes imunossuprimidos de 9 a 45 anos (pessoas que vivem com HIV, transplantados e com câncer).
O tumor é o quarto mais diagnosticado no mundo e o quarto tipo de câncer a causar mais mortes em mulheres. Segundo a ASCO, se a detecção ocorrer em estágio inicial, a taxa de sobrevida em cinco anos para tumores cervicais é de 92%.
*A repórter viajou a convite da Bayer