Cirurgiões plásticos em todo o Reino Unido foram advertidos esta semana pela Associação Britânica de Cirurgiões Plásticos Estéticos (BAAPS, na sigla em inglês) a não mais realizarem o Brazilian Butt Lift (BBL), procedimento estético que aumenta o bumbum. A recomendação descreve o método como arriscado e com a maior taxa de mortalidade: estimada em 1 em 3.000 operações. Segundo a BBC, duas mulheres britânicas já morreram este ano em decorrência de complicações. A cirurgia foi popularizada por celebridades, entre as quais está a socialite americana Kim Kardashian.
Especialistas explicam que o procedimento envolve retirar gordura de outras partes do corpo e injetá-la nas nádegas para garantir um formato melhor. Mas a tática apresenta o risco de injetar o conteúdo em artérias e veias, podendo viajar pelo sistema circulatório e chegar ao coração ou cérebro, causando embolia gordurosa — caracterizada pela interrupção do fornecimento de sangue causada por gordura no vaso sanguíneo — ou mesmo morte.
“Ela tem a maior taxa de mortalidade de todos os procedimentos, devido a esse risco”, comentou Gerard Lambe, membro da BAAPS, à BBC. Essa possibilidade foi o que levou a entidade a sugerir a interrupção das cirurgias até que mais dados estejam disponíveis. A Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos (ASPS, na sigla em inglês) informou recentemente que vem trabalhando em conjunto com outras organizações internacionais para realizar estudos e estabelecer diretrizes de segurança.
Em nota, a ASPS revelou que o número de cirurgia de ‘aumento de bumbum brasileiro’ mais que dobrou nos últimos anos: apenas em 2017, cerca de 20.300 procedimentos foram realizados nos Estados Unidos. Já levantamento global divulgado no ano passado mostrou que 692 cirurgiões relataram 32 mortes por causa de embolias de gordura ocorridas após o procedimento.
Complicações
Segundo a BAAPS, muitos pacientes apresentam quadros de complicações provocadas pelo Brazilian Butt Lift (BBL), entre as quais estão infecções bacterianas, como SARM (classe de bactéria resistente à antibióticos) e necrose gordurosa (morte do tecido), embolia pulmonar e abscesso. De acordo com a associação, uma paciente chegou a desenvolver fasciíte necrosante, mais conhecida como bactéria “comedora de carne”.
Além disso, dados da organização indicam que o serviço médico é procurado para tratamento de complicações de cirurgias plásticas realizadas em outros países, onde o custo do procedimento é mais baixo. Entre os destinos mais procurados estão: Turquia, Bélgica, França, Chipre, Tunísia e Colômbia. Especialistas afirmam que muitos pacientes britânicos fizeram turismo médico depois de serem rejeitados por clínicas nacionais por causa de fatores de risco no histórico médico, como tabagismo ou peso.
Apesar de pagarem mais barato pelo procedimento estético, o custo para o serviço de saúde, seguradoras ou para o próprio paciente é altíssimo. Segundo estudo, a internação dura, em média, 20 dias, com gasto geral de 32.500 libras — quase 165.000 reais. “É impressionante ver até onde esses pacientes vão e os riscos aos quais se submetem na busca por opções mais baratas”, disse Mohammed Farid, principal autor da pesquisa, em comunicado. O pesquisador ainda contou que já encontrou um pedaço de látex deixado dentro da nádega de uma paciente.
Pesquisa interna da BAAPS descobriu que quatro em cada cinco membros da associação relataram aumento nos número de pedidos de cirurgias para reversão de danos provocados por procedimentos estéticos fracassados.
Vulnerabilidade
Segundo a CNN, Simon Withey, presidente da entidade britânica, disse que pacientes “vulneráveis” são alvos na internet e nas redes sociais, sendo atraídos para viagens ao exterior em busca de cirurgias estéticas mais baratas. Longe de casa, histórico médico e saúde psicológica não costumam ser considerados. “As pessoas estão experimentando um despertar brusco ao chegarem ao Reino Unido: muitos desapontados, alguns desesperadamente doentes”, comentou.
Em entrevista a BBC, uma mulher de 23 anos do País de Gales (que não quis se identificar) revelou ter ficado com cicatrizes irreversíveis depois de realizar um BBL na Turquia. Buracos infectados começaram a aparecer em suas nádegas três meses após o procedimento. “Eu não conseguia andar corretamente por muito tempo. Para ser honesta, quando os buracos apareceram foi melhor, porque a gordura estava vazando, o que tornou possível andar de novo”, contou. Ela ainda revelou que durante meses o conteúdo, que tinha um cheiro ruim, vazava, encharcando as roupas. Ela se diz arrependida de ter realizado a cirurgia.