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Cientistas estudam o ‘cérebro pandêmico’

Stress prolongado durante a pandemia provoca alterações em estruturas cerebrais associadas ao controle do medo e processamento da memória 

Por Simone Blanes
Atualizado em 10 ago 2021, 15h00 - Publicado em 9 ago 2021, 18h18

Um conjunto de evidências cada vez mais robustas aponta que estruturas do cérebro passam por transformações resultantes do impacto da pandemia sobre a mente. A expressão “cérebro pandêmico” batiza a nova confirmação. Por trás das alterações está a exposição cerebral de forma permanente e duradoura ao cortisol, hormônio liberado em situações de estresse. “O conjunto de fatores que afetam a saúde mental e geram depressão e ansiedade é o que estamos chamando de cérebro pandêmico”, diz Michael Yassa, neurologista do Centro de Neurobiologia da Aprendizagem e Memória da Califórnia, nos Estados Unidos.

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A falta de parâmetros para volta do “mundo normal” que conhecemos antes da Covid-19 e todas as incertezas potencializadas pelos confinamentos, flexibilizações, medidas de proteção e restrições nos submeteram a um período de estresse prolongado. Exames de imagem demonstraram a liberação contínua e em altas concentrações de cortisol, o que impactou o tamanho de estruturas do cérebro fundamentais para o desempenho cognitivo.

“Por meio de exames de imagem de pessoas socialmente isoladas, detectamos mudanças no volume das regiões temporal, frontal, occipital e subcortical, assim como no hipocampo e na amígdala”, relata Barbara Sahakian, neuropsicóloga, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. “Níveis elevados e prolongados de cortisol foram associados a transtornos de humor e encolhimento do hipocampo”, completa. O hipocampo é uma dás áreas do cérebro que participa do processamento da memória. Lapsos nas lembranças estão entre as queixas mais comuns na pandemia.

Enfermidades  relacionadas aos efeitos do cérebro pandêmico vão além. Alterações de humor, falta de concentração e medo excessivo podem ser resultados das transformações. Perda ou excesso de sono, alterações no apetite e fadiga constante também.

É claro, porém, que o impacto varia de pessoa para pessoa. Quem esteve em isolamento não será tão afetado como quem perdeu uma pessoa querida para a doença, foi infectado ou ainda perdeu o emprego, por exemplo. Nestes casos, além do estresse crônico, pode aparecer ainda o estresse pós-traumático, que aumenta os sintomas provocados pela instabilidade da saúde mental como a depressão, a ansiedade e a angústia. Para a neuropsicóloga, isso depende muito da resiliência de cada um e das estratégias adotadas para se manter saudável durante o confinamento.

Mas será que dá para se recuperar totalmente do tal cérebro pandêmico? Yassa acredita que sim, porém pode levar tempo. Sahakian concorda: “À medida que as liberdades forem recuperadas, e as pessoas retomarem o contato social, vamos melhorar”, completa. Enquanto isso não acontece, eles sugerem adotar alguns exercícios para melhorar a parte cognitiva, como jogos da memória e uma rotina saudável. “Levantar da cama na mesma hora, comer nas horas certas e praticar exercício físico dá ao cérebro uma chance melhor de se recuperar”, ele diz. Sahakian, porém, adverte: alguns podem precisar de ajuda profissional. O importante é reconhecer o problema e tratá-lo da melhor forma possível.

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