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Cientistas brasileiros investigam genoma de plantas do chá ayahuasca

Projeto trabalha no sequenciamento genético a fim de identificar os genes responsáveis pela produção das substâncias psicoativas

Por Agência FAPESP
Atualizado em 20 jan 2023, 18h11 - Publicado em 20 jan 2023, 11h39
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  • Em um projeto apoiado pela Fapesp, cientistas de diversas universidades brasileiras trabalham no sequenciamento genético das plantas usadas no preparo do chá ayahuasca, também conhecido como vegetal ou santo daime.

    No Brasil, o chá alterador de consciência é utilizado por povos indígenas e diferentes grupos religiosos. A grande diversidade de usuários explica a pluralidade de nomes pelos quais a bebida é conhecida. Entre os cientistas, padronizou-se o uso do termo ayahuasca – palavra em língua quíchua, falada pelos grupos do Peru, que significa “cipó dos mortos”.

    Embora o chá ayahuasca possa ser preparado de diversas formas, uma das mais comuns, e que é a adotada pelos grupos religiosos, envolve o uso de duas espécies de planta. Segundo essa prática, o cipó Banisteriopsis caapi, também conhecido como jagube ou mariri, e a arbustiva Psychotria viridis, conhecida como chacrona ou rainha, são macerados e submetidos a um cozimento prolongado, que resulta na preparação da bebida.

    Os cientistas já sabem que a alteração de consciência é causada principalmente pela ação da dimetiltriptamina (DMT), encontrada nas folhas da chacrona, e de alcaloides presentes no cipó mariri, que prolongam e potencializam o efeito da DMT. O objetivo do projeto é, pela primeira vez, obter um sequenciamento detalhado do genoma de ambas as espécies, o que abre possibilidades para a produção de conhecimento aplicado a partir da flora brasileira.

    Uma vez estabelecido o perfil desse genoma, o grupo de pesquisadores quer identificar quais genes da Psychotria viridis estão associados à produção de enzimas responsáveis pelas substâncias psicoativas.

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    O primeiro produto do projeto foi publicado na revista PeerJ, na forma de um artigo em que os pesquisadores analisaram os genomas organelares da chacrona. Mais precisamente, os genomas da mitocôndria (organela produtora de energia) e do cloroplasto (organela envolvida na fotossíntese) presentes na célula da planta.

    Também está em andamento a análise do genoma nuclear da chacrona e do mariri. Francisco Prosdocimi, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do projeto, explica que, em trabalhos de genômica, os genes das organelas são os primeiros a serem montados.

    O pesquisador da UFRJ conta com a colaboração de um grupo multidisciplinar que inclui neurocientistas, geneticistas, biólogos moleculares, botânicos e especialistas em sequenciamento genético. Entre eles está o pesquisador Alessandro Varani, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Jaboticabal.

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    O trabalho compreende, em um primeiro momento, a interpretação e o tratamento dos dados brutos do sequenciamento e, em um segundo momento, a análise e a separação dos genes de interesse.

    As amostras da chacrona e do cipó mariri sequenciadas no estudo foram coletadas em um núcleo da União do Vegetal, uma das religiões brasileiras que usam o chá e que é parceira no projeto, na Floresta da Cantareira, Zona Norte da cidade de São Paulo. O sequenciamento foi realizado em equipamentos de última geração localizados na Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.

    “Os nossos próximos passos envolvem a montagem do genoma nuclear, que é o mais importante da célula porque é onde estão os cromossomos e os genes que vão codificar as enzimas que produzem a DMT, na chacrona, e os alcaloides, no mariri. Esse trabalho já está em andamento”, contou Prosdocimi à assessoria de imprensa da Unesp.

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    Segundo o pesquisador, um dos objetivos é encontrar as vias bioquímicas que produzem DMT, a substância psicoativa presente na chacrona. Atualmente, existe um campo emergente que estuda o uso de psicotrópicos em tratamentos de doenças mentais e o chá ayahuasca também tem sido objeto de investigação. “Entender quais genes estão funcionalmente associados à produção de DMT pode trazer contribuições para essa abordagem”, afirmou.

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