Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Ciência explica a origem do orgasmo feminino

Em nossos ancestrais, o prazer era necessário para garantir a liberação de óvulos; agora a função não existe mais

Por Letícia Passos
Atualizado em 10 out 2019, 18h28 - Publicado em 10 out 2019, 17h30

Desde a época de Aristóteles, o orgasmo feminino tem sido assunto de interesse dos estudiosos. Mas, até agora, a ciência ainda não conseguiu responder todas as questões que giram em torno do assunto. Entre as perguntas a serem respondidas está o porquê de a mulher não precisar de orgasmo para engravidar. A dúvida existe porque na população masculina o clímax sexual é necessário para que aja ejaculação (liberação de espermatozoides) e, consequentemente, reprodução.

Procurando entender este fenômeno, uma equipe de pesquisadores realizou um estudo com coelhos e os resultados parecem ter fornecido uma possível resposta para esta questão. De acordo com os especialistas, há milhares de anos, a mulher – assim como o homem – só conseguia liberar os óvulos quando tinha orgasmo. Mas, durante o processo evolutivo, seu corpo foi capaz de desvencilhar a função reprodutiva do orgasmo, não mais necessitando dele para engravidar.

Para os pesquisadores, isso poderia explicar porque as mulheres sentem maior dificuldade para ter orgasmo com o sexo, especialmente durante a penetração. “O estudo poderia ser um caminho para explicar parte do aspecto biológico do orgasmo feminino, mas é preciso lembrar que ele também é fruto de uma construção social. É muito difícil separar esses dois fatores da sexualidade feminina para chegar a um resultado conclusivo”, comenta a ginecologista e sexóloga Carolina Ambrogini, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Os novos achados foram publicados semana passada no periódico Proceeding of the National Academy of Sciences.

Ovulação induzida

Antes de realizar o estudo, os pesquisadores da Universidade de Cincinnati e da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, já sabiam que as coelhas ovulam apenas diante do estímulo sexual, processo conhecido como ovulação induzida por cópula. Ou seja, ao contrário da mulher, cuja ovulação acontece em períodos determinados do mês – com ciclo médio de 28 dias , as fêmeas dessa espécie só liberam óvulos durante a relação sexual. Com base nessa informação, a equipe chegou à hipótese de que o orgasmo feminino poder ter se desenvolvido a partir de um mecanismo semelhante.

Continua após a publicidade

Para testar a ideia, os cientistas fizeram alguns experimentos com os animais. No primeiro deles, realizado ao longo de duas semanas, a equipe administrou nas coelhas doses diárias de fluoxetina – um antidepressivo conhecido por reduzir o desejo sexual em seres humanos, o que interfere negativamente na probabilidade de orgasmo. O medicamento foi utilizado em metade das fêmeas para verificar seus efeitos sobre a ovulação. Para controle do experimento, a outra metade do grupo não recebeu nenhuma medicação. Os cientistas ainda utilizaram apenas um macho – de nome Frank – para copular com todas as coelhas.

Depois de medir o número de ovulação de cada fêmea, a equipe descobriu que aquelas que receberam fluoxetina tiveram 30% menos ovulação comparadas as que não foram medicadas.

Para confirmar os resultados, eles refizeram o estudo adicionando outra substância ao experimento: a gonadotrofina coriônica humana – hormônio responsável por estimular a ovulação. O objetivo da equipe era averiguar se a fluoxetina estava reduzindo a ovulação pelo sistema nervoso central ou afetando diretamente os ovários. Da mesma forma que o primeiro experimento, apenas metade do grupo recebeu fluoxetina e gonadotrofina.

Os resultados mostraram que as coelhas medicadas tiveram 8% de redução no número de ovulações em comparação com as outras (sem medicação). Isso indica que a fluoxetina afeta apenas o sistema nervoso central, interferindo na produção de serotonina – conhecido como hormônio do amor. Para os pesquisadores, esse resultado indica que sem o “prazer sexual” as coelhas não ovulam plenamente, o que reduz suas chances de gestação. Apesar disso, a equipe não sabe dizer se os coelhos têm sensações similares às humanas durante ovulação e ejaculação. 

O que isso significa?

Você deve estar se perguntando como esse experimento pode explicar o orgasmo feminino, não é mesmo? Pois bem, segundo especialistas, as nossas ancestrais também passavam pelo processo de ovulação induzida. No entanto, conforme fomos evoluindo, o corpo feminino foi passando por mudanças. A principal delas seria a mudança de posição do clitóris.

Na época em que a ovulação era induzida pelo orgasmo, o clitóris ficava mais próximo dos canais reprodutivos – provavelmente dentro da vagina – para que o contato sexual estimulasse o orgasmo e, consequentemente, a ovulação. Ao migrar para outra posição no sistema reprodutivo feminino, o orgasmo deixou de ser necessário para a liberação de óvulos. Com a migração, o clitóris passou a ser menos estimulado durante o sexo, dificultando o orgasmo.

Mas alguns estudos indicam que o orgasmo ainda exerce função reprodutiva. “Ao ter orgasmo, os músculos do útero se contraem e impulsionam o esperma até o óvulo. Além disso, ele estimula a maior prática do sexo, aumentando as chances de gravidez”, conclui Carolina.

Para alguns cientistas, o orgasmo feminino é apenas um vestígio evolucionário ou seja, algo que permaneceu no corpo mesmo sem ter um propósito fundamental no funcionamento do organismo, assim como o apêndice e os mamilos masculinos.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.