Desde que se espalhou pelo mundo, em 2020, a Covid-19 intriga cientistas e médicos por sua imprevisibilidade – embora seja algo esperado para um novo vírus em circulação -. Apesar da certa estabilidade da variante de preocupação ômicron, que permitiu que a Organização Mundial da Saúde decretasse o fim da emergência internacional na semana passada, a doença ainda demanda cuidados especiais para até 20% dos infectados, que manifestam a Covid longa, condição que engloba mais de 200 sintomas de natureza gastrointestinal, neurológica e psiquiátrica. Para fazer o tratamento e a reabilitação desses pacientes, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) inaugurou o Centro de Covid Longa, em Manguinhos, no Rio de Janeiro.
A Covid longa pode ocorrer em pessoas que se infectaram pelo SARS-CoV-2, independentemente da gravidade do episódio. Isso quer dizer que mesmo os pacientes com casos leves podem desenvolver fadiga, falta de ar e disfunções cognitivas, por exemplo. Segundo a OMS, a condição se caracteriza pela manutenção ou manifestação de novos sintomas após três meses da infecção pelo vírus e permanência do quadro por, ao menos, dois meses.
Além de tratamento, o Centro de Covid Longa vai realizar pesquisas para continuar observando o comportamento do novo coronavírus e possíveis sequelas pós-infecção para os pacientes.
“O vírus continua circulando e temos que não apenas fortalecer a capacidade de resposta do país a novas ameaças da Covid-19 na saúde pública, seja na imunização, na vigilância, na pesquisa ou na assistência, mas também lidar com as enormes sequelas deixadas pela doença na população”, disse, em nota, Mario Moreira, presidente da Fiocruz.
Na unidade, será realizado o projeto Recover Pós-Covid com avaliações nas áreas de saúde cardiovascular, respiratória, hematológica, imunológica, neurológica/fisioterápica, metabólica e nutricional, otorrinolaringológica e de saúde mental.
Treino remoto ajuda em reabilitação
Estudos sobre formas de realizar a reabilitação pós-Covid estão em andamento em diferentes instituições ao redor do mundo. Na Universidade de São Paulo (USP), pesquisadores mostraram que pacientes com Covid longa que manifestaram a forma grave da infecção pelo vírus podem ter redução dos sintomas persistentes com exercícios físicos realizados em casa.
O protocolo criado pelo grupo envolve um treino com três sessões semanais de 60 a 80 minutos pelo período de 16 semanas. Os voluntários foram submetidos a avaliações cardiorrespiratórias e funcionais, e fizeram exercícios seguros e simples, utilizando cadeiras e baldes com água, por exemplo.
“Observamos melhora em parâmetros cardiorrespiratórios, como o consumo de oxigênio e a recuperação da frequência cardíaca, além de diminuição de gordura corporal e do número total de sintomas persistentes no pós-Covid, com destaque para mialgia, fraqueza muscular e fadiga”, disse o coordenador do estudo, Hamilton Roschel, professor da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) e da FM-USP em entrevista à Agência Fapesp.
Sintomas da Covid longa
- Cansaço e fadiga que interferem no dia a dia, especialmente após esforço físico ou mental;
- Falta de ar ou dificuldade para respirar;
- Tosse persistente;
- Dor no peito;
- Palpitações no coração;
- Problemas de memória e concentração (chamados de “névoa mental”);
- Dificuldades na fala;
- Perda de olfato ou paladar;
- Problemas do sono;
- Dor de cabeça;
- Tontura ao se levantar;
- Sensação de formigamento;
- Depressão e ansiedade;
- Dor muscular;
- Febre;
- Diarreia;
- Dor no estômago;
- Mudanças no ciclo menstrual