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EUA planejam mudar regras de isolamento para a Covid-19

CDC quer afrouxar os cinco dias recomendados atualmente e orientar a população a verificar os sintomas. Especialistas de saúde questionam

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 Maio 2024, 17h19 - Publicado em 13 fev 2024, 14h57

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos planejam abandonar as diretrizes de isolamento adotadas durante a pandemia da Covid-19. Segundo a agência, essas recomendações serão afrouxadas pela primeira vez desde 2021 e alinhadas com as orientações sobre como evitar a transmissão da gripe e do VSR (vírus sincicial respiratório), por exemplo.

Em discussões com autoridades de saúde, os funcionários do CDC reconheceram que o cenário da Covid-19 mudou muito desde que o vírus surgiu há quatro anos, matando quase 1,2 milhão de pessoas nos Estados Unidos e fechando empresas e escolas. Mas com a vacinação e a imunidade desenvolvida pela própria infecção, a nova realidade justifica uma mudança para uma abordagem mais prática e menos restritiva.

“A saúde pública tem que ser realista”, disse Michael T. Osterholm, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Minnesota ao jornal “The Washington Post”. “Hoje, ao fazer recomendações ao público, temos que tentar tirar o máximo proveito daquilo que as pessoas estão dispostas a fazer. Você pode estar absolutamente de acordo com a ciência e ainda assim não realizar nada porque ninguém vai ouvir”, completou.

Entre as novas diretrizes, o CDC planeja recomendar que as pessoas com diagnóstico positivo para o coronavírus e suas variantes usem sintomas clínicos para determinar quando devem encerrar o isolamento. Assim, não precisam mais ficar em casa durante cinco dias, caso estejam sem febre por pelo menos 24 horas sem a ajuda de medicamentos e se os sintomas forem leves e estejam melhorando. Essa nova abordagem, porém, ainda não tem aprovação da Casa Branca, algo que segundo os funcionários do CDC, deve acontecer em abril.

Diretrizes Práticas x Complicações a Longo Prazo

O trabalho de revisão das orientações de isolamento está em andamento desde agosto de 2023, mas foi interrompido pelo aumento de casos de Covid-19 no país. Em janeiro, a diretora do CDC, Mandy Cohen, enviou memorando que listava a nova abordagem como um “marcador para as prioridades da agência em 2024.”

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As autoridades de saúde, por sua vez, reconheceram a necessidade de fornecer ao público orientações mais práticas para a Covid-19, assumindo que, atualmente, poucas pessoas seguem as diretrizes de isolamento, não atualizadas desde dezembro de 2021, quando o período foi reduzido de dez para cinco dias, caso a pessoa estivesse assintomática. A medida teve o objetivo de não sobrecarregar os sistemas de saúde, mas foi criticado por especialistas de saúde, dado o crescimento de casos pela ômicron, cepa de alta transmissibilidade.

“Fazer isso é como varrer esta doença grave para debaixo do tapete”, afirmou Lara Jirmanus, instrutora clínica da Harvard Medical School e membro do People’s CDC, uma coalizão de profissionais de saúde, cientistas e defensores focados na redução dos efeitos nocivos da Covid-19. “As autoridades de saúde pública deveriam tratar a Covid de forma diferente de outros vírus respiratórios porque é mais mortal que a gripe e aumenta o risco de desenvolver complicações a longo prazo”, completou.

Segundo o CDC, em estudo recente, cerca de 7% dos americanos relataram ter sofrido uma série de sintomas persistentes da Covid, que incluem fadiga, dificuldade em respirar, confusão mental, dores nas articulações e perda contínua de paladar e olfato. A justificativa, porém, vem do fato de que, embora o coronavírus continue a causar doenças graves, já tem disponíveis vacinas e tratamentos eficazes como o Paxlovid.

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Ainda de acordo com dados dos CDC, divulgados no começo de fevereiro, as versões mais recentes das vacinas contra a Covid-19 são 54% eficazes na prevenção de infecções sintomáticas em adultos e funcionam bem contra as variantes mais recentes. No entanto, apenas 22% dos adultos e 12% das crianças tinham recebido a vacina atualizada até 9 de fevereiro, nos Estados Unidos.

O relatório da agência americana também indica que as infecções sintomáticas e assintomáticas permanecem elevadas no país, com cerca de 20 mil internações e 2.300 mortes por semana. Números mais baixos do que os atingidos no pico da doença, em janeiro de 2021, quando quase 26 mil pessoas morreram de Covid todas as semanas e cerca de 115 mil eram hospitalizadas.

“As perturbações sociais resultantes das rígidas diretrizes de isolamento também ajudaram a estimular a mudança”, explicou Erica Pan, epidemiologista estadual da Califórnia. “Os trabalhadores sem licença médica e que não podiam trabalhar em casa suportaram um fardo desproporcional, caso eles ou seus filhos testassem positivo. Por isso, o rigor do isolamento pode funcionar como um desincentivo ao teste, quando deveria ser o contrário, pois o diagnóstico rápido diminui os riscos de doenças graves e permite que essas pessoas possam receber tratamento adequado.”

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Segundo a especialista, fornecer às pessoas uma orientação baseada em sintomas, semelhante ao que já é recomendado para a gripe, é a melhor maneira de priorizar aqueles que estão em maior risco e equilibrar o potencial de impactos negativos nas escolas e nos locais de trabalho.

Movimento em outros países

Muitos outros países, incluindo o Reino Unido, a Dinamarca, a Finlândia, a Noruega e a Austrália, fizeram alterações nas recomendações de isolamento em 2022. Dos 16 países, cujas políticas foram analisadas pelas autoridades da Califórnia, apenas a Alemanha e a Irlanda ainda recomendam o isolamento de cinco dias. Já o Ministério da Saúde de Singapura, em uma atualização do final do ano passado, recomenda que as pessoas “retornem às atividades normais assim que os sintomas do coronavírus desapareçam.”

Mesmo antes do governo Joe Biden encerrar a emergência de saúde pública em maio do ano passado, grande parte da população já havia desistido dos testes, do uso de máscara e do isolamento. Os médicos, porém, continuam alertando que a melhor maneira de as pessoas protegerem as suas comunidades é usando máscaras e evitando sair de casa, pois apenas pelos sintomas, não tem como saber se trata de Covid-19, VSR ou gripe.

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