Ao longo de 55 anos de história, VEJA deu especial atenção a temas de saúde — as campanhas de vacinação, os surtos, a eclosão da aids e, mais recentemente, a pandemia de covid-19, que paralisou o mundo e reinventou o cotidiano como nunca antes. Houve generoso espaço também para os cuidados com o corpo — em especial as dietas e o controle da obesidade. Não se trata, é evidente, de preocupação desmedida com a estética, mas de zelo contra doenças derivadas da má alimentação e do cotidiano sedentário. A briga contra a balança é batalha da humanidade, e convém acompanhá-la como uma das questões vitais de nosso tempo. A estatística não deixa dúvida: mais de 1 bilhão de pessoas têm obesidade em todo o mundo, o equivalente a 18% das mulheres e 14% dos homens. Estima-se que 5 milhões de cidadãos morram, todos os anos, em decorrência de problemas alavancados pela gordura. A situação é mais grave em países ricos ou em desenvolvimento, como o Brasil. Por aqui, 20% são obesos e, em triste constatação, 13% das crianças já teriam o diagnóstico.
Há um incômodo nó: boa parte não consegue perder peso apenas com mudanças no estilo de vida. Há quem se esfalfe nas academias de ginástica e viva à base de alface, e mesmo assim parece condenado ao fracasso pela genética ou por desajustes biológicos adquiridos. Dadas as evidentes dificuldades corpóreas, a descoberta de novos medicamentos — desde que ministrados com atenção e acompanhamento médico, sem exageros — representa uma revolução, dentro dos consultórios e no comportamento. Não há roda de conversa sem referência às tais “canetinhas” de aplicação dos novos fármacos — em Brasília, entre os políticos, elas rompem até mesmo a polarização. Quem ainda não usa um dia usará.
A novíssima geração de medicamentos emula hormônios naturais do organismo, com ação em diversas frentes: saciedade, diminuição do apetite e controle da glicemia, atalho inequívoco para a redução de quilos. Assim como a introdução de inibidores de secreção gástrica diminuiu a necessidade de cirurgias de úlcera no estômago, as armas de agora tendem a eliminar as intervenções bariátricas. Para esmiuçar essa aventura da civilização, e separar o joio do trigo, VEJA designou o editor Diogo Sponchiato, veterano especialista no tema. Reportagem da edição é a um só tempo um guia de compreensão e um retrato de uma inovação que promete mudar a vida de milhões de pessoas, movimentando a economia global. Boa leitura.
Publicado em VEJA de 12 de julho de 2024, edição nº 2901